Tarifaço de Trump chega ao Brasil
A Casa Branca confirmou que aplicará taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio de diversos países, entre elas, as provenientes do Brasil. Entidades empresariais e governos se manifestaram

*com informações do Estadão Conteúdo
As tarifas de 25% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importações de aço e alumínio devem entrar em vigor a partir de 12 de março para todos os países, incluindo o Brasil, detalham ordens executivas divulgadas na noite de segunda-feira, 10, pela Casa Branca.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço e ferro para os EUA, segundo estatísticas de 2024 do International Trade Administration. No ano passado foram vendidas uma média mensal de 312.239,34 toneladas métricas. Em volume exportado para o mercado americano, o Brasil perdeu apenas para o Canadá, que exportou 456.271,11 toneladas métricas mensais.
Sobre o aço, Trump destacou a necessidade de encerrar acordos especiais com diversos países que facilitavam a entrada em território americano de metais importados de lugares com "capacidade excessiva de produção", especialmente da China. Entre eles, o republicano cita o Brasil, a Argentina e o México. A decisão também revogou a isenção sobre o aço produzido na Ucrânia.
"Na minha visão, os acordos com esses países falharam em prover meios de contribuição de longo prazo para a segurança nacional dos EUA”, disse o presidente americano, em nota.
As tarifas sobre o aço incluem a revogação de acordos preexistentes com a Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, países da União Europeia (UE), Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido.
Já as tarifas sobre o alumínio revogam acordos anteriores com Argentina, Austrália, Canadá, México, países da UE e Reino Unido.
Assim, as tarifas de 25% serão válidas para todos os países que exportam aço e alumínio para os EUA, com exceção da Rússia, sobre a qual permanecem termos especiais de tarifação devido à guerra contra a Ucrânia.
REAÇÕES
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avalia que o Brasil não representa uma ameaça comercial para os Estados Unidos. Para a entidade, a histórica cooperação econômica entre os dois países deve ser suficiente para garantir uma solução benéfica para ambas as nações.
"Confiamos que as bases deste relacionamento histórico sejam suficientes para que uma solução rápida seja encontrada, com base nas regras internacionais de comércio, e em benefício das indústrias tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos", afirma, em nota divulgada na manhã desta terça-feira, 11/2.
No comunicado, a Fiesp lamenta a medida dos EUA. A entidade lembra que ela afeta diretamente os exportadores brasileiros, que forneceram 15% do valor importado em produtos siderúrgicos pelos americanos em 2024.
Apesar disso, a Fiesp destaca que o Brasil é um parceiro econômico estratégico e que as relações comerciais entre os países têm sido historicamente baseadas na cooperação e no desenvolvimento conjunto.
A Fiesp também relembra que produtos estadunidenses estão dentro de um regime especial de redução de tarifa. "Na atual discussão tarifária, é importante destacar que muitos produtos de origem norte-americana importados pelo Brasil, como máquinas e equipamentos, utilizam-se de regimes especiais de redução tarifária, que facilitam o acesso do exportador ao nosso mercado por meio de alíquotas zero ou próximas disso."
Concessão - A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) afirmou que a taxação de 25% nas exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos trará impactos negativos, considerando que as exportações desses produtos para o mercado norte-americano são expressivas para a economia brasileira.
A FIEMG pondera que, por se tratar de uma taxação aplicada a todas as economias e não exclusivamente ao Brasil, o cenário colocaria os países em condições de concorrência mais equilibradas.
O presidente da entidade, Flávio Roscoe, afirma que a expectativa é de que o Brasil não seja prejudicado de forma significativa. "Assim como ocorreu no primeiro mandato do ex-presidente Donald Trump, entendemos que, mesmo com a adoção de sanções, o Brasil poderá obter algumas concessões. Grande parte das nossas exportações são de produtos semi-elaborados, que passam por processos de industrialização em empresas norte-americanas, muitas delas coligadas a companhias brasileiras. Isso pode ser um fator favorável para que o Brasil não saia machucado dessa situação", afirma.
Negociação – Celso Amorim, assessor de assuntos internacionais da Presidência da República, à coluna da jornalista Raquel Landim, no portal uol, que o melhor caminho para lidar com as sobretaxas dos Estados Unidos contra o aço brasileiro é a negociação. "O melhor caminho é sempre a negociação. Uma guerra comercial não interessa a ninguém, mas não podemos ser totalmente passivos."
Retaliação – Já a presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), Ursula von der Leyen, prometeu que as tarifas dos EUA sobre aço e alumínio "não ficarão sem resposta", acrescentando que elas desencadearão retaliações "firmes e proporcionais".
"A UE agirá para proteger seus interesses econômicos", afirmou von der Leyen, em declaração. "Tarifas são impostos - ruins para os negócios, piores para os consumidores."
Na Alemanha, lar da maior economia da UE, o chanceler Olaf Scholz disse ao parlamento que "se os EUA não nos deixarem outra escolha, então a União Europeia reagirá unida", acrescentando que "no final das contas, as guerras comerciais sempre custam prosperidade a ambos os lados".
O vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, também comentou nesta terça-feira que as tarifas são "economicamente contraproducentes, especialmente dadas as cadeias de produção profundamente integradas". Mas Sefcovic ponderou que retaliar com medidas duras não é o "cenário preferido" do bloco europeu. "Estamos prontos para negociações e para encontrar soluções mutuamente benéficas sempre que possível", acrescentou.
A UE estima que o volume de comércio entre ambos os lados esteja em cerca de US$ 1,5 trilhão, representando cerca de 30% do comércio global. "Há muito em jogo para ambos os lados", disse o vice-presidente à legislatura da UE.
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