Em meio à guerra tarifária, FMI reduz projeção do PIB do Brasil e do mundo

O organismo revisou de 2,2% para 2,0% a alta na economia brasileira para 2025; já a economia global deve crescer 2,8%, ante 3,3% da previsão anterior

Estadão Conteúdo
22/Abr/2025
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Em meio à guerra tarifária, FMI reduz projeção do PIB do Brasil e do mundo

O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou suas projeções para o crescimento do Brasil neste e no próximo ano, antevendo o efeito das tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na economia global.

O organismo espera que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro avance 2,0% em 2025 e não mais 2,2% como previu em janeiro último. Trata-se de uma desaceleração ainda mais intensa em relação a 2024, quando o país cresceu 3,4%.

Nesse ritmo, o Brasil deve crescer bem abaixo dos seus pares emergentes e em desenvolvimento, que tendem a acelerar o passo e avançar 3,7% neste ano, conforme o FMI.

No entanto, o país tende a se expandir acima das economias avançadas, cuja projeção é de alta de 1,4% em 2025, e em linha com a América Latina e Caribe, cuja estimativa é de avanço 2%.

As novas projeções constam do relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), publicado nesta terça-feira, 22/4, às margens das reuniões de Primavera do Fundo, que acontecem nesta semana, em Washington, nos EUA.

O FMI também está menos otimista com a expectativa de crescimento do Brasil em 2026. O organismo espera que a atividade doméstica mantenha o ritmo de expansão de 2,0% no próximo ano, e não de 2,2% como estimava inicialmente.

O Brasil ficou no grupo dos países menos afetados pelo tarifaço de Trump, com uma alíquota de apenas 10%. No entanto, economistas têm alertado para os efeitos de um mundo mais adverso no PIB local.

Inflação e desemprego - Por sua vez, a inflação no Brasil deve se agravar mais. O FMI espera que o índice de preços ao consumidor (IPCA) alcance 5,3% neste ano contra 4,4% em 2024. Já para 2026, o Fundo vê o indicador retrocedendo a 4,3%.

Em um cenário de menor crescimento e maior inflação, o desemprego no Brasil deve aumentar, alerta o organismo. O FMI vê o indicador em 7,2% neste ano e 7,3% no próximo. Em 2024, o índice de desemprego no Brasil era de 6,9%.

América Latina e Caribe

O FMI está mais cético com o crescimento da América Latina e do Caribe neste ano diante dos efeitos da guerra comercial desencadeada pelas tarifas recíprocas da Casa Branca. O organismo espera que a região cresça 2,0% em 2025, 0,5 ponto porcentual abaixo da estimativa divulgada em janeiro.

O corte foi motivado por revisões para baixo nas estimativas para o ritmo de crescimento do Brasil e do México, cuja economia deve encolher em 2025. Na contramão, a Argentina deve ter uma expansão mais forte na esteira de medidas adotadas no país.

"As revisões devem-se, em grande parte, a um rebaixamento significativo do crescimento no México, em 1,7 ponto percentual (p.p.) para 2025 e 0,6 p.p. para 2026, refletindo uma atividade mais fraca bem como o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, a incerteza e as tensões geopolíticas associadas, e um aperto nas condições de financiamento", diz o FMI no relatório.

Para 2026, o organismo espera que a América Latina e o Caribe cresçam 2,4%. Essa projeção sofreu um corte de 0,3 p.p. em relação à estimativa anterior, publicada em janeiro.

A boa notícia para a região é que o FMI espera que a inflação reduza para 7,2% neste ano, contra 16,6% em 2024. Para 2026, a expectativa do Fundo é de que o indicador se desacelere ainda mais, para 4,8%.

"Na América Latina e no Caribe, as revisões em alta para a Bolívia, Brasil e Venezuela foram compensadas por revisões em baixa para a Argentina e outros lugares, com queda de 0,3 p.p. na projeção para a inflação em 2025", justifica o Fundo.

Mundo

No relatório, o FMI faz um alerta para o "momento crítico" que a economia global atravessa e que deve resultar em menor crescimento e mais inflação nos próximos anos como reflexo das tarifas do presidente dos Estados Unidos. O organismo não projeta, contudo, recessão em seu cenário base.

O FMI espera que a economia mundial cresça 2,8% neste ano, projeção 0,5 p.p. menor que a anterior, divulgada em janeiro. Para o próximo ano, a expectativa passou para uma alta de 3,0%, contra estimativa de avanço de 3,3%.

"Esperamos que o forte aumento em 2 de abril, tanto nas tarifas quanto na incerteza, leve a uma desaceleração significativa do crescimento global no curto prazo", diz o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, ao comentar as novas projeções.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, já havia antecipado que Fundo faria "cortes notáveis em suas projeções", em discurso na semana passada. "Os rebaixamentos são generalizados entre os países e refletem, em grande parte, os efeitos diretos das novas medidas comerciais e seus efeitos indiretos, por meio de repercussões nos vínculos comerciais, aumento da incerteza e deterioração do sentimento", explica o Fundo, no relatório.

EUA e China - Como parte de suas revisões, o FMI tirou 0,9 p.p. da projeção de alta do PIB dos EUA e vê expansão de só 1,8% neste ano. No próximo ano, as tarifas devem continuar pesando no desempenho da maior economia do mundo, que tende a desacelerar ainda mais, para uma alta de 1,7%, ante 2,1% de sua estimativa anterior, prevê o Fundo.

"A revisão para baixo é resultado de maior incerteza política, tensões comerciais e uma perspectiva de demanda mais fraca, dado o crescimento do consumo mais lento do que o previsto", justifica o organismo.

Por sua vez, o PIB chinês deve crescer 4,0% em 2025, uma queda de 0,6 p.p. em relação à estimativa anterior do FMI. O organismo vê a economia chinesa expandindo-se também no ritmo de 4,0% em 2026, o que representa uma queda de 0,5 p.p.

O Fundo avalia que o apoio fiscal adotado por alguns países como, por exemplo, China e zona do euro, pode compensar parte do impacto negativo das tarifas no crescimento econômico.

Cenário alternativo - Em paralelo, o FMI publicou dois cenários alternativos às tarifas de Trump. Sem considerá-las, o crescimento global seria de 3,2% para 2025 e 2026, uma redução de 0,1 p.p. em cada ano ante as projeções de janeiro último.

Já em um segundo cenário, o Fundo projeta crescimento de 2,8% da economia mundial neste ano e de 2,9% no próximo exercício. A projeção é similar ao cenário de referência do FMI, mas isola as tarifas das consequências no mercado e da incerteza gerada.

"As perdas na China e nos Estados Unidos se tornariam maiores em 2026 e além, enquanto os ganhos em outras regiões diminuiriam, levando a resultados globais mais fracos do que a previsão de referência", explica o FMI.

Para o Fundo, a incerteza em torno das políticas comerciais deve permanecer elevadas neste e no próximo ano.

 

IMAGEM: Freepik

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