O que o dinheiro realmente significa para você?
Por trás de cada decisão financeira há um desejo, que pode ser por segurança, liberdade, status ou poder. Inclinar-se exageradamente para um deles pode ser danoso

Pesquisar as aplicações financeiras e fazer o orçamento é necessário na hora de avaliar o que fazer com o dinheiro, mas isso não garante que a decisão será 100% racional, ou acertada. Primeiro, é preciso saber o que o dinheiro, de fato, significa para você.
Isso porque as emoções influenciam as atitudes em relação ao dinheiro o tempo todo - ainda que elas não sejam percebidas pelas pessoas. Entender como isso ocorre é o desafio daqueles que estudam as finanças comportamentais.
Uma pessoa de personalidade muito individualista e ao mesmo tempo otimista tende a enxergar o dinheiro como um meio de ter liberdade e, assim, dificilmente conseguirá poupar.
É o oposto do também individualista, mas pessimista, que vê no dinheiro uma forma de ter segurança contra imprevistos. De forma exagerada, ele tende a colocar recursos em aplicações bem conservadoras e de baixo retorno.
JURANDIR MACEDO (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Esses dois exemplos foram descritos pelo especialista Jurandir Macedo, em palestra no 2º Congresso Brasileiro de Economia e Finanças Comportamentais na Fundação Getúlio Vargas, nesta semana.
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), consultor do programa de educação financeira do Itaú Unibanco e doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB), Macedo diz que o espectro de significados é mais amplo, mas os quatro principais são segurança, liberdade, poder e status.
Cada perfil foi traçado a partir de dois eixos: o das expectativas, que mostra como cada pessoa encara o risco, ou seja, se é otimista ou pessimista.
O outro foi o da sociabilidade, que separa o indivíduo em dois grupos: entre aqueles que precisam da aprovação do outro para se sentir bem e, assim, são sociáveis; e os que se consideram valorosos independentemente da opinião alheia, que seriam os mais individualistas.
A ideia é que a pessoa procure entender como suas diferentes motivações psicológicas e emocionais estão conectadas ao uso do dinheiro e, assim, ponderar essas questões na hora de tomar decisões.
O fato é que seria doentio ter um foco exagerado em apenas um dos perfis de segurança, liberdade, poder e status. Trata-se de um exercício alternar entre eles em diferentes momentos da vida, ou de lutar contra uma tendência.
"Eu, por exemplo, estou inclinado a ter dinheiro para a segurança, porque isso está na minha história. Perdi meu pai cedo e tive dificuldades financeiras e, por isso, sou mais pessimista. Luto constantemente com o objetivo de avançar para o lado da liberdade. É preciso tentar", diz Macedo.
Veja o significado que cada perfil atribui ao dinheiro e seus riscos:
SEGURANÇA
Para as pessoas que são individualistas e ao mesmo tempo pessimistas, o dinheiro representa a segurança - no caso, para protegê-las de um futuro hostil. Esse tipo de perfil é o de um poupador que prefere que ninguém saiba que ele tem dinheiro.
O risco de quem é deste perfil é o de viver em privação, ou seja, abaixo da capacidade de sua situação financeira real. E quando se fala em investimentos, é a pessoa que coloca os recursos na aplicação de mais baixo risco e menor retorno.
"Quem tem foco exagerado em segurança, por exemplo, costuma acumular tanto para se precaver que chega um determinado momento que ter muito dinheiro passa a gerar insegurança", diz Macedo.
LIBERDADE
Quem é individualista - não precisa da opinião do outro para se sentir bem - e, ao mesmo tempo, otimista tende a enxergar no dinheiro a liberdade, ou seja, um meio de conseguir aproveitar a vida. Assim, não se preocupa com o dinheiro porque tem certeza de que terá mais no futuro.
O risco que as pessoas com esse perfil correm é o de gastar muito e, assim, ficarem inseguras por não ter reservas para o futuro. É o tipo de indivíduo que gosta de jogo e de título de capitalização. No lugar disso, deve pensar em guardar para aposentadoria.
"Quem é assim precisa entender que, eventualmente, a verdadeira liberdade é ter equilíbrio financeiro", diz Macedo.
O consultor diz que um jeito de se proteger, neste caso, é automatizar os processos de investimento de longo prazo, autorizando o gerente ou gestor a fazer aplicações automáticas. "Assim, a pessoa não precisa pensar, sozinha, em poupar recursos porque dificilmente conseguirá", diz.
PODER
O terceiro perfil é o da pessoa que precisa da aprovação dos outros para se sentir bem, mas é pessimista. É o indivíduo que precisa que todos saibam que ele tem muito dinheiro - mas ele não gasta, já que o poder vem desse fato.
Uma vez gasto, o dinheiro deixa de representar poder. São pessoas que dedicam muito tempo para ganhar e guardar e tendem a ser pessoas difíceis, pois mascaram a insegurança com arrogância no trato com as pessoas.
"O grande risco destas pessoas é o isolamento. Por terem dificuldade de compartilhar, essas pessoas tendem a afastar aqueles que se aproximam delas", diz o consultor.
O grande problema é que o dinheiro se transforma em coisas e, quando isso ocorre, deixa de proporcionar poder. Neste caso, a recomendação é tentar se menos pessimista e entender que mesmo esse poder tem limites antes de ofender as pessoas.
STATUS
O último perfil é o de pessoas que precisam ser aceitas pelos outros e são otimistas. Para elas, o dinheiro é status, uma forma de mostrar o seu sucesso e valor. São pessoas que além de gastar precisam divulgar que estão fazendo isso.
O risco para quem é assim é o de se sentir sempre insatisfeito. "São clientes de banco que não se preocupam em pagar altas taxas desde que sejam muito bem atendidos. Eles se comparam com os outros e ficam insatisfeitos quando percebem que há mais pessoas vivendo em patamar superior", diz o consultor.
Ele avalia que é o tipo de pessoa que pode assinar a autorização para uma aplicação sem ler direito, por achar que o gerente a trata de forma diferenciada. Além disso, sempre busca um tratamento melhor e é volúvel. Assim, corre o risco de mudar muito de instituição e de aplicações, o que pode ter impacto no rendimento.
"É a pessoa que precisa repensar a própria noção de status e buscar equilíbrio dentro de casa, ou em grupos mais restritos", afirma.
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