Gestores cogitam aumentar ações do exterior nos multimercados
A ideia é avaliar a demanda e aproveitar as mudanças na regulação para ofertar fundos com ações do exterior a investidores de diferentes portes

Os gestores devem começar a se movimentar para formatar fundos multimercados com maior participação de ações do exterior, mas que só poderão ser comercializadas em julho de acordo com a regulação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Uma das instituições que pretende aumentar a participação de ações internacionais na carteira de seus produtos é a BB DTVM (gestora de recursos e distribuidora de títulos e valores mobiliários do Banco do Brasil).
Hoje, a BB DTVM distribui três fundos multimercados com cotas de fundos do exterior para investidores qualificados, que estão sendo distribuídos para os clientes private.
“Imaginamos aumentar o percentual permitido de ações do exterior para 40%. Devemos ampliar a distribuição deles e pensamos em oferecer para os clientes, como alternativa à renda variável. Na bolsa doméstica, a volatilidade está muito elevada e será preciso trazer alternativas adicionais para quem entende do assunto. O cliente precisa ter apetite”, afirma Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM.
Takahashi lembra que o varejo, ou o investidor de menor porte, ainda não buscou essa alternativa, e a maior demanda tem sido do cliente private. É aquele com recurso para diversificar e colocar um naco do patrimônio fora do país. No entanto, ele não descarta a oferta dos fundos com exposição menor a ações do exterior (20%) para o cliente de varejo, com aplicação mínima de R$ 1 mil.
O presidente da BB DTVM diz que trabalha com gestores internacionais na escolha dos papéis e que os fundos também concentram ativos de renda fixa. A expectativa é que o patrimônio líquido (o montante investido) nos três fundos passe dos atuais R$ 1,2 bilhão para R$ 2 bilhões com as novas regras da CVM.
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A AZ Futura Invest, que é uma plataforma aberta, também deve oferecer produtos com exposição internacional para seus clientes brasileiros. “Vamos aproveitar os produtos da Azimut, que têm exposição a ativos da Europa, Ásia e Estados Unidos. Estamos próximos dos gestores e de fundos locais que investem fora do país”, diz Luiz Nazareth, gestor de fundos da AZ Futura Invest.
CONSERVADOR DEVE TER CAUTELA
O fato é que o investidor de menor porte está olhando mais para aplicações conservadoras e de liquidez (com possibilidade de resgate sem perda de valor) da renda fixa.
É também o perfil com maior aversão ao risco e que, assim, não aguenta os solavancos do mercado financeiro, com altas e baixas de ações e moedas estrangeiras.
“Não recomendaria ao conservador aplicar em fundos com esse perfil. Indicamos para o moderado ou agressivo”, diz Aquiles Mosca, superintendente executivo e comercial da Santander Asset Management (a gestora de recursos do banco).
Para o moderado, a exposição pode ser de 10% a 15% dos investimentos. Já o agressivo pode experimentar um patamar de 25%.
Ele explica que a gestora tem um fundo multimercado com 20% de ações no exterior cuja aplicação mínima é de R$ 5 mil, voltado para investidores de varejo.
Basicamente está exposto a ações globais de mercados emergentes e desenvolvidos e a moedas como dólar, euro e iene. Quem faz a escolha dos ativos é a equipe de gestão do Santander de Londres.
“É um fundo que aproveitou a alta do dólar e das ações nos mercados internacionais e teve valorização de 103% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) desde o seu lançamento, em setembro de 2013”, afirma Mosca.
Com as novas regras da CVM, o superintendente disse que ainda não decidiu se vai aumentar a parcela de ações internacionais deste fundo, mas provavelmente deve lançar outro com 40% de exposição. “Mas primeiro vamos ver se haverá demanda”, afirma.
Segundo ele, o investidor brasileiro tem muito preconceito em relação à aplicação em fundos com ativos do exterior. “Muitos acham que é ilegal e que é difícil declarar Imposto de Renda (IR). Mas não é porque a pessoa recebe o informe de rendimentos”, diz Mosca.
O fato é que o retorno deve ser avaliado no período mínimo de um ano, já que esses fundos costumam ter uma taxa de administração mais alta, de 1,5% a 2,5%, mas isso varia conforme a instituição.
Alguns cobram a taxa de performance, ou seja, o gestor fica com um percentual que exceder o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, taxa praticada no mercado financeiro).
O investidor deve olhar também o benchmark, ou seja, o índice que serve de parâmetro para a rentabilidade da aplicação, como por exemplo, o CDI ou o Ibovespa. Todas essas informações estão no prospecto, que deve ser lido com atenção.
“Para o investidor conservador, as taxas de juros brasileiras estão muito atrativas. Não há renda fixa fora do país que pague mais. O que acontece é que a diversificação para o exterior é uma alternativa de proteção em dólar do patrimônio. É o caso também de quem tem filho estudando no exterior ou de quem pretende se mudar para lá”, diz Lívia Mansur, estrategista de investimento internacional da XP Investimentos.
Ela diz que a corretora tem produtos diversos, atrelados a dívidas de empresas internacionais, que costumam ser mais arriscados por exigirem uma análise minuciosa da companhia, o que é feito pelo gestor e sua equipe. “A análise é feita por gestores internacionais. E essa é a vantagem de investir em fundos, em vez de fazer o investimento sozinho”, afirma a estrategista.
Lívia explica que o ideal é que esse tipo de aplicação seja uma alternativa de longo prazo, já que os resgates não são imediatos.
“O investidor perde alguns dias de rentabilidade antes de receber, assim que pede o resgate. Esse prazo pode ser de dois a quatro dias”, diz.