Comida sobre rodas
Uma nova tendência de consumo, o food truck, atrai empreendedores

Até poucos anos atrás, comida de rua em São Paulo era sinônimo de cachorro-quente e pastel. Hoje, quem sair às ruas da capital paulista pode encontrar diversas opções, que vão desde os mais tradicionais, como os hambúrgueres e salgados, até os mais sofisticados, como comida francesa e peruana. Os food trucks – cozinhas adaptadas em automóveis – trouxeram a diversidade de sabores para as calçadas da cidade e são uma alternativa para quem quer montar um negócio no setor de alimentação.
Nos Estados Unidos, esses veículos eram usados desde o começo do século passado para vender lanches e tortas para os trabalhadores nas portas das fábricas. Era uma opção simples e barata. Os food trucks começaram a vender comidas mais sofisticadas após a crise econômica de 2008, quando muitos chefs de cozinha fecharam seus estabelecimentos e montaram seus restaurantes sobre rodas. De acordo com a associação americana de restaurantes, esse segmento faturou 680 milhões de dólares em 2012.
O fenômeno dos food trucks ainda é recente no Brasil. Em maio deste ano, a Prefeitura de São Paulo aprovou a primeira lei do país que regularizou a comida de rua – o que estimulou o surgimento de novos carros na cidade. Além disso, o mercado está aquecido porque os gastos com alimentação fora do lar cresceram nos últimos anos e já representam mais de um terço do orçamento dos brasileiros com comida, segundo o IBGE. “Os food trucks estão atraindo clientes porque oferecem opções boas e baratas para quem precisa comer fora de casa”, afirma José Carmo Vieira, consultor do Sebrae-SP.
Para os empreendedores é uma oportunidade de começar um negócio. O investimento para quem deseja adaptar um veículo varia entre 45 mil e 350 mil, dependendo do tamanho e das especificações do automóvel. “As vans são uma alternativa para pequenos empresários que querem trabalhar no setor de alimentação, mas não podem arcar com os altos custos dos aluguéis dos pontos comerciais nas grandes metrópoles”, diz Vieira.
Rolando Massinha transformou seu carro de comida em uma rede franquias
Foto: Divulgação
FOOD TRUCK QUE VIROU FRANQUIA
O pernambucano Rolando Vanucci é um exemplo de que pequenos empreendedores podem crescer vendendo comida de rua. Em 2007, após vender sua casa para pagar dívidas, separou parte do dinheiro e comprou uma van. Surgia o Rolando Massinha, veículo que vende massas frescas na avenida Sumaré, local de grande movimento na zona oeste de São Paulo. Os nhoques, espaguetes e raviólis são vendidos a preços que variam entre 12 e 18 reais.
Nesses últimos sete anos, a empresa cresceu e diversificou seus produtos. “Hoje tenho outros seis veículos que vendem churros, hambúrgueres e cachorros-quentes gourmet”, diz Vanucci. Agora, o empresário vai expandir através de franquias. Os veículos foram feitos em parceria com a Lifan Motors, empresa automotiva chinesa. Cada um vai custar 65 mil reais. “Os franqueados terão que passar por um treinamento de 30 dias em um dos meus food trucks”, diz.
Mas nem só de pequenos empreendedores vive o mercado de comida de rua. O sucesso da alimentação sobre rodas chamou a atenção de grandes empresas, como a Seara, fabricante de embutidos. Em setembro, a companhia lançou sua van, que troca petiscos por compartilhamentos e mensagens nas redes sociais. “Muito mais do que trazer um carro gastronômico, nosso objetivo é fazer as pessoas se conectarem com a marca”, diz Eduardo Bernstein, diretor de marketing da JBS Foods.
No mesmo mês, a PepsiCo lançou um food truck do Doritos, em que lanches e quitutes são servidos com o salgadinho. “Para as empresas que já têm um ponto fixo ou que têm produtos conhecidos, é uma maneira de atrair novos clientes e fortalecer a marca”, afirma José Carmo Vieira, consultor do Sebrae-SP.
Foto: Divulgação
NOVOS NEGÓCIOS
Apesar do aparecimento de vários restaurantes móveis, ainda há muito espaço para crescer nesse mercado. Para quem deseja abrir um, saiba que é preciso escolher bem o cardápio. “O empreendedor tem de se diferenciar de comidas de rua comuns”, diz Vieira. Além disso, é fundamental adaptar o preparo dos alimentos para uma cozinha pequena, que tem entre 8 e 10 metros quadrados. Nos veículos do Rolando Massinha, os molhos e as massas são previamente separados em porções.
A estrutura do veículo também é importante. Além de espaços para os objetos comuns de uma cozinha, como forno, fogão, pia e geladeira, o veículo deve ser ajustado para receber sistema de água e energia elétrica. “Como a comida é preparada na rua, os cuidados com a higiene e a manipulação de alimentos devem ser dobrados”, afirma o consultor do Sebrae.
Outro fator fundamental é a escolha da localização. O empresário Rolando Vanucci acredita que a seleção de um bom ponto é crucial para o sucesso do negócio. “Eu decidi me fixar na avenida Sumaré porque é um local com boa visibilidade, onde há um fluxo grande de pessoas que passam tanto a pé quanto de carro”, diz.
Para comercializar nas vias públicas de São Paulo, o empreendedor precisa pedir Termo de Permissão de Uso (TPU) para a Prefeitura, em pontos previamente definidos. Esse documento não é necessário para vender em espaços e eventos privados, como é o caso do Butantan Food Park. O primeiro ambiente criado para os restaurantes móveis, localizado na zona oeste da capital paulista, tem 1.400 metros quadros e 16 vagas para vans, 13 para barracas e seis carrinhos. O espaço é revezado diariamente. Para comercializar no Food Park, é necessário passar por uma entrevista prévia e pagar uma taxa por dia utilizado, e o valor médio é de 500 reais.
Novos espaços como este estão surgindo na cidade. A Feirinha Gastronômica no Jardim das Perdizes, também na zona oeste da cidade, é organizada pela construtora Tecnisa e tem 4 mil metros e 50 expositores, entre food trucks e barraquinhas. “A tendência é que novas feiras sejam criadas, incentivando que os veículos circulem por São Paulo”, afirma Vieira.
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