Comércio paulistano prevê queda de vendas no Natal
Estimativas da ACSP indicam redução de até 6% nas vendas. Para Marcel Solimeo, economista-chefe da entidade, a retomada lenta ainda não é visível devido à comparação com 2015

Pessimistas com as vendas de fim de ano, os comerciantes de varejo da cidade de São Paulo estimam uma queda entre 5% e 6% em comparação com o Natal de 2015. O ano passado o setor já havia registrado uma retração de 14,5%
A estimativa é da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e foi feita com base no desempenho do varejo no decorrer do ano. Já no país, a queda em relação às vendas do Natal de 2016 deve ser ficar entre 4% e 5%.
“Não espero vender mais do que vendi até o início de dezembro”, lamentou a empresária Cláudia Rocha, sócia de uma loja de tecidos para decoração de interiores, localizada no Brás. Mesmo fazendo promoções, ela não tem expectativa de crescimento nas vendas. “Meu produto é sazonal. As pessoas compram para decorar a casa para as festas de fim de ano. E está absolutamente fraco.”
De acordo com o economista-chefe da ACSP, Marcel Solimeo, a crise chegou ao pico alguns meses atrás com o desemprego a agora vem diminuindo muito lentamente.
“O desemprego tem crescido menos”, comentou Solimeo. “A confiança do consumidor teve uma ligeira melhora e as taxas de juros começaram timidamente a cair. A cada mês se está comparando com o mês do ano anterior que foi pior que os anteriores. Então, o efeito-base também ajuda a explicar o cenário atual”.
Conforme o economista, há uma expectativa de que essa diminuição da queda deve continuar, mas não o suficiente para salvar o ano. “Possivelmente, ao longo do primeiro semestre de 2017, a economia se estabilize para depois voltar a crescer, também muito lentamente.”
O desempenho na capital paulista deverá ser pior do que no restante do país, segundo Solimeo, porque São Paulo tem maior participação na indústria. “A capital tem a maior base industrial e a crise se deu primeiramente nesse setor, que é onde paga-se os melhores salários.”
A avaliação do economista reflete o sentimento dos comerciantes e pode ser constatado também nas contratações temporárias deste fim de ano. Houve uma queda de 7%.
Solimeo alertou que alguns fatores podem inibir o consumo do varejo. “O desemprego é um desses fatores. O outro é o endividamento alto dos consumidores.” Isso faz com que boa parte dos recursos injetados pelo 13º salário seja usada para pagar dívidas.
Também a Black Friday tem parte da responsabilidade pela baixa expectativa de consumo. De acordo com Solimeo, quanto mais a Black Friday vende, mais afeta as vendas do Natal.
“Essa promoção pode dar um ganho adicional – há muita gente que não compraria se não fossem as ofertas da Black Friday. Mas em boa parte de quem compra agora não vai comprar depois”, resssaltou.
OTIMISMO CAUTELOSO
Marcos Ricci, secretário-executivo da Associação de Lojista do Brás (Alobrás), um dos maiores centros populares de compras do país, está um pouco mais otimista e acredita que as vendas se manterão igual a 2015.
“A estimativa é empatar com o ano passado, o que é bom, pois estamos em um momento crítico. Além disso, presentes caros deixarão de ser comprados. Dessa forma, presentes de menor valor, como roupas, passam a ser uma melhor opção.”
Opinião semelhante tem o comerciante Philipe Sarruf, sócio de uma loja de objetos e decoração natalina na região da 25 de março. Ele também espera vender o mesmo que 2015.
“Como ficamos com um estoque grande do ano passado, mantivemos o preço. E na loja online, demos 30% de desconto. Isso gerou um certo volume de vendas”. Sarruf observou uma reação no movimento de rua, mas ainda não comemora.