Alimentos foram 1/3 da inflação em 2024

Só quatro itens, de 377, responderam por praticamente 25% de todo o IPCA anual. Principal pressão individual veio da gasolina

Vitor Nuzzi - DC News
10/Jan/2025
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Alimentos foram 1/3 da inflação em 2024

Um terço da inflação de 2024 veio dos preços de alimentos. Esse grupo do IPCA acumulou alta de 7,69% (ante 1,03% em 2023). Ficou bem acima do índice geral do ano (4,83%) e representou impacto de 1,63 ponto percentual.

Individualmente, apenas quatro dos 377 itens que compõem o indicador oficial da inflação responderam por 25% da alta: gasolina (9,71% e impacto de 0,48 ponto percentual), plano de saúde (7,87%, 0,31 p.p.), Refeição (5,70%, 0,20 p.p.) e café, que teve impacto menor, de 0,15 ponto, mas subiu 39,6%. Vários tipos de carnes subiram acima de 20%.

A persistência da inflação acima da meta – a edição mais recente do Focus, do Banco Central, projeta 4,84% para este ano – continuará elevando os juros, com impacto ainda por mensurar no custo do crédito e, consequentemente, no consumo das famílias.

“O índice foi puxado pela alta dos itens alimentícios, que sofreram influência de condições climáticas adversas, em vários períodos do ano”, afirmou o gerente do IPCA, Fernando Gonçalves. “Além disso, assim como em 2023, a gasolina foi responsável pela maior contribuição no indicador em 2024.” Três dos grupos que compõem o índice responderam por 65% da inflação no ano passado: Alimentação e Bebidas (7,69% e impacto de 1,63 p.p.), Saúde e Cuidados Pessoais (6,09% e 0,81 p,p.) e Transportes (3,30% e 0,69 p.p.).

Entre as altas dos alimentos no ano, além de café e lanche, o IBGE destaca itens como leite longa vida (18,83%), contrafilé (20,06%), costela (21,33%), óleo de soja (29,21%), laranja (48,33%) e tangerina (74,24%). Na outra ponta, caíram os preços médios do tomate (-25,86%) e da cebola (-35,31%). Já os preços das passagens aéreas, mais voláteis, caíram 22,20% – e representaram impacto de -0,21 ponto percentual no IPCA. O índice de 4,83% ficou pouco acima do ano anterior (4,62%). 

O QUE MAIS SUBIU EM 2024

Tangerina  74,24%
Laranja  48,33%
Café  39,60%
Óleo de soja 29,21%
Limão  28,29%
Acém  25,24%
Patinho  24,13%
Cigarro 23,94%
Costela  21,33%
Alcatra  21,13%
Carne de porco  20,06%
Contrafilé  20,06%
Leite longa vida  18,83%
Etanol  17,58%
Metrô  10,76%
Frango em pedaços  10,34%
Transporte por aplicativo  9,97%
Gasolina  9,71%
Plano de saúde  7,87%
Lanche fora do domicílio  7,56%
Gás de botijão  7,04%
Perfume  6,25%
Cabeleireiro e barbeiro  6,09%

 

“O dado acende um alerta importante sobre os desafios para estabilizar a inflação no Brasil”, afirmou o CEO da MA7 Negócios, André Matos. “Para o consumidor, esse número representa uma pressão adicional no custo de vida, principalmente em itens essenciais.” Do ponto de vista econômico, esse dado deve influenciar diretamente na próxima reunião do Copom, na análise do CEO, o que provavelmente intensificará uma política de alta de juros, podendo aumentar 1%, como tentativa de trazer a inflação para a meta.

A primeira reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, já sob o comando de Gabriel Galípolo, está marcada para os próximos dias 28 e 29. Para Matos, mesmo necessária, a estratégia do BC “pode gerar um efeito colateral, dificultando ainda mais os planos de recuperação econômica do governo e elevando o custo do crédito para famílias e empresas.”

Visão semelhante tem Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital. “Com esse resultado [do IPCA] é alta a probabilidade do BC elevar a taxa de juros básicos em até 1% na próxima reunião do Copom”, disse o analista. “Isso tende a elevar os custos de crédito e desacelerando a atividade econômica.” Ele acredita que esses fatores vão dificultar o plano de recuperação do governo e adicionar novos desafios ao crescimento sustentável em 2025.

Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o crescimento econômico brasileiro, baseado no consumo, pressiona a inflação. “O consumo vem aumentando de forma muito mais rápida que a produção, e isso leva a um aumento de preços”, afirmou. Ele destaca que o fato de a maior contribuição ter sido do grupo Alimentação e Bebidas diminui o poder aquisitivo das famílias. “A gente está falando de itens essenciais de consumo.”

Com a pressão inflacionária e os juros subindo, a tendência é de prejuízo ao varejo, de acordo com ele. “As vendas do varejo neste ano, ao longo dos meses, tendem a desacelerar.” Em relação aos juros, o economista lembra que já estão previstos pelo menos mais dois aumentos da taxa básica, hoje em 12,25% ao ano. “Pode ser que até a previsão mude em função desse IPCA, mas até a semana passada o mercado previa uma taxa básica de 15% no final do ano”, disse Gamboa.

REGIÕES

Entre as 16 áreas onde o IBGE faz acompanhamento semanal para calcular os preços, São Luís (MA) teve o maior índice no ano passado: 6,51%, com impacto de gasolina e carnes. O menor foi apurado em Porto Alegre (RS): 3,57%. Na região metropolitana de São Paulo, o índice foi de 5,01%, acima da média geral. A Grande São Paulo responde por 32,3% do IPCA total.

Já o INPC, usado como referência para reajustes de salários e aposentadorias, fechou o ano com alta de 4,77%, após subir 3,71% em 2023. Com inflação de 7,60%, o grupo Alimentação e Bebidas teve impacto de 1,83 ponto percentual sobre o índice. Em seguida, veio o grupo Transportes (3,77% e 0,74 ponto).

Segundo o gerente do IPCA, Fernando Gonçalves, todos os grupos se comportaram de maneira similar no IPCA e no INPC. “Diferenças podem ser observadas no impacto de alguns subitens, como, por exemplo, plano de saúde e passagens aéreas, que têm menos peso no orçamento das famílias com menor rendimento”, afirmou.

O IPCA abrange famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos. O IPCA, de 1 a 5 mínimos.

Confira abaixo todas as variações do IPCA desde o início do Plano Real, em 1994:

 

IMAGEM: Marcelo Soares/DC

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