ACSP 130 anos - 'Museu do Comércio é nosso grande projeto para 2025'

Após um ano intenso de atividades, como o apoio à revitalização do Centro de SP e a luta para que a reforma tributária não destrua o Simples, o presidente Roberto Mateus Ordine faz um balanço de 2024 e aponta os próximos passos da entidade

Karina Lignelli
06/Dez/2024
  • btn-whatsapp
ACSP 130 anos - 'Museu do Comércio é nosso grande projeto para 2025'

Completando 130 anos no sábado, 7/12, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) continua a trabalhar em prol da livre iniciativa e do empreendedorismo. E encerra 2024 como mais um ano prolífico, com o avanço das atividades de revitalização do Centro Histórico da Capital paulista e a mobilização para evitar prejuízo às empresas do Simples com a reforma tributária. 

Neste ano, a entidade comemorou o centenário do Diário do Comércio e lançou uma agência de notícias, a DC News, para reforçar sua estratégia de comunicação. Também se envolveu em outras mobilizações como a do voto distrital, que pretende "desengavetar" um PL de 2017, do então parlamentar José Serra, para aproximar o eleitor dos candidatos de sua região.

E lança uma novidade para 2025: o projeto do Museu do Comércio, ideia inspirada no MUB3 (Museu da Bolsa, também próximo à sede da ACSP.) À frente da empreitada está o presidente da entidade, Roberto Mateus Ordine, que se encaminha para o último ano de sua gestão. Além de toda a memória do comércio na cidade de São Paulo nesses 130 anos, das mudanças que aconteceram no período, a ideia do Museu do Comércio é destacar os avanços, os desafios e trazer novidades para mostrar a importância e o potencial do setor para as gerações futuras. 

Em conversa com o Diário do Comércio, Ordine faz um balanço de 2024, destaca intervenções e resultados do projeto de revitalização do Centro, fala sobre as mobilizações para diminuir os danos da reforma tributária ao pequeno empreendedor e dá suas impressões sobre o pacote de corte de gastos do governo e seus efeitos. Confira a seguir trechos da entrevista:  

 

DC - Fazendo um balanço de 2024, ano em que a ACSP completa 130 anos, o que o senhor destaca como pontos positivos e os desafios nesses 12 meses? 

Roberto Mateus Ordine - Nos dois casos, foi a revitalização do Centro da cidade de São Paulo. De trazer de volta o comércio para as ruas principais, lutar para melhorar a segurança, a limpeza, a iluminação... Mas principalmente cuidar da sobrevivência deste comércio.

Era muito importante que o Centro fosse revitalizado para recuperar a sua tradição, a sua importância na cidade. Além disso, tivemos a felicidade de ter o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura com os mesmos interesses. Tanto que o Estado está trazendo a máquina administrativa para o Centro da cidade e a Prefeitura tem uma preocupação grande com essa revitalização, demonstrada pelo PIU Central (Plano de Intervenção Urbana). 

Nós, da ACSP, estamos colaborando em todas as etapas, sendo a primeira o convite para que as empresas venham para cá, que abram lojas e exerçam a atividade que for usando as instalações do Centro. A segunda é trabalhar junto à Prefeitura para trazer as melhorias necessárias, ajudando na questão de segurança, zeladoria, iluminação e procurando mostrar os pontos de atenção para subsidiar a administração municipal de informações. 

A terceira e mais importante é de natureza social, que é ajudar a resgatar a dignidade das pessoas de rua, colaborando com a Prefeitura com projetos como o Acolher e o Qualifica Já, de qualificação profissional, extremamente necessário para fazer esse resgate. 

 

Em maio, a ACSP fez uma pesquisa sobre a percepção dos comerciantes do Centro, que se mostraram otimistas quando à sua recuperação, mas preocupados com a segurança. Como o senhor avalia esse cenário hoje? 

Na questão de segurança, o problema foi praticamente resolvido com as câmeras do Smart Sampa e a presença constante do policiamento na região. É lógico que você precisa estar constantemente atualizando esses pontos, mas o que era necessário, a base, já existe. 

Sobre a zeladoria, nada a reclamar, pois a Prefeitura não só cuidou como está cuidando da melhoria das vias, e principalmente mantendo com a limpeza diária. Só na iluminação que, evidentemente, ainda há muito para se fazer, mas também há uma certa frustração, pois esse quesito vem sendo desenvolvido em uma velocidade menor do que nós gostariamos. 

 

Qual é a principal dificuldade neste quesito?

Nós gostaríamos que as ruas centrais e os prédios estivessem sempre acesos à noite, a exemplo do prédio da Prefeitura. Outros prédios da cidade foram selecionados para manter a iluminação, mas isso ainda não foi concluído. Também é importante o reforço do sistema, que precisa ser mais moderno. Já passamos por várias fases, do lampião a gás à luz de mercúrio, entre outras, mas é importante que essa iluminação mais atual se espalhe por toda a região Central, pois isso contribui em todos os aspectos para aumentar a sensação de segurança.  

 

As pessoas estão voltando para o Centro. Nesse sentido, como está a disponibilidade de moradias, incluindo as sociais?

Vem sendo feito o trabalho de retrofit em vários prédios, mas não tem só a ver com aquele trabalho da Prefeitura, de oferecer aluguel social. Nós estamos trabalhando para disponibilizar moradia residencial, para que as pessoas passem a residir no Centro. Fora do horário comercial a vida precisa continuar, e essa deve ser uma motivação para atrair moradores e trazer essa vida para o Centro. 

 

Essa questão já melhorou ou ainda tem muito para ser feito? 

Já começou. Alguns prédios já estão sendo habitados. Várias construções foram feitas nesse sentido e o exemplo típico são algumas na avenida São João, avenida Ipiranga, no início da Nove de Julho, na Basílio da Gama e Sete de Abril. Ali, o antigo prédio da Telefônica já começa a ser habitado. Esse programa deveria ser mais constante, mas acontece aos pouquinhos.

E agora também há alguns estabelecimentos comerciais que estão chegando, como Casa de Francisca (no Centro Histórico), trazendo mais gente, alguns eventos, o retorno de bares e restaurantes, casas de shows... E assim vai se desenvolvendo o necessário para sustentar essa superestrutura, fazendo com que as pessoas não só venham, mas voltem para o Centro. 

 

Em 2024 a ACSP comemorou o centenário do Diário do Comércio e lançou a agência de notícias DC News. O que esse hub de comunicação representa para a entidade? 

Queremos oferecer condições importantes para divulgar toda a informação relevante voltada ao empreendedorismo, criando um canal de comunicação com o comércio, a indústria, os serviços. Esses dois veículos, mais a comunicação interna e externa da ACSP, formam uma massa comunicadora muito forte para divulgar a história da associação, o papel que ela tem na sociedade e os serviços que ela presta e pode prestar para os seus associados. 

Assim como os palestrantes que nós trazemos para cá, que são ministros, professores, doutores ou especialistas em várias áreas, que são uma contribuição a mais para empreendedores e investidores trilharem um caminho seguro na tomada de decisão. 

 

O Banco Central autorizou, finalmente, a CRDC (uma das empresas da holding ACSP) a se tornar uma escrituradora de duplicatas. Quais os planos para essa empresa e as demais (ACCredito, Equifax e Faculdade do Comércio de São Paulo)? 

Nós queremos fortalecer as empresas da holding que compõem a Associação Comercial, sempre em busca de caminhos e parceiros interessantes para alavancar essas atividades. Com a ACCredito estamos com a Planner, criando vários produtos de créditos para os pequenos negócios e para que ela tenha um desenvolvimento maior em outras carteiras de clientes. Temos a Equifax com a Boa Vista, parceria que já está concretizada, e a FAC-SP, que continuará a melhorar a qualificação de investidores, empreendedores e colaboradores do comércio.  

 

Quais os próximos passos da mobilização que tenta evitar que o Simples morra com a reforma tributária? 

Vamos continuar com a bandeira principal para proteção do pequeno empresário, focados na luta pela manutenção de um sistema realmente simplificado na reforma para os micro e pequenos empresários. O voto distrital é outra bandeira, mas vamos lutar especialmente para criar condições para o empreendedor sobreviver na reforma tributária, nos mobilizando ao máximo para que ela crie menos danos do que a gente imagina. 

 

Como o senhor avalia o pacote de corte de gastos do ministro Fernando Haddad? 

É brincadeira, não se pode levar a sério. Acho que em um momento tão complexo como o que o Brasil vive, isso é simplesmente 'enfeitar pavão'. É preciso colocar em andamento uma reforma administrativa mais séria e uma reforma política adequada para que, efetivamente, se reduza o custo do Estado no Brasil. Nenhum tipo de perfumaria vai atender o que é preciso, e daqui a um mês vamos precisar de outra coisa, depois de outra... E esse pacote será levado cada vez menos a sério. Nós vimos a reação do mercado com essa brincadeira: o dólar foi parar na casa dos R$ 6. O mercado é muito ágil, muito rápido nas suas reações. Quando se brinca com o mercado, pode esperar que o que vem, o que está reservado, é castigo.  

Como, pessoalmente, eu sou otimista, acho que o Brasil está no caminho, pois agora nós somos o país do presente, e vislumbramos um futuro real. Mas esse futuro depende da visão do governo de reduzir o Estado e de privilegiar a iniciativa privada, que indiscutivelmente é a responsável pela geração de renda e emprego no Brasil.  

 

Quais os planos da ACSP para 2025, o último ano da sua gestão? 

Continuaremos lutando pela revitalização do Centro da cidade, além das bandeiras de proteção ao pequeno empresário, como eu disse. Mas a grande meta para o ano que vem é o projeto do Museu do Comércio (no imóvel que abrigou a antiga sede do pioneiro Serviço Central de Proteção ao Crédito - SCPC, na Rua Boa Vista, 62, em frente ao prédio da ACSP). 

Além de toda a memória do comércio na cidade de São Paulo nesses 130 anos, das mudanças que aconteceram, vamos destacar os avanços, os desafios e as novidades que vêm por aí, para mostrar para as pessoas toda a importância e o potencial do setor. 

 

Esse investimento será da ACSP ou de parceiros-investidores? E o acervo?

A princípio é daqui, mas vamos buscar parceiros, sim. Vamos também reunir tudo o que temos de acervo, os de outras entidades e dos próprios comerciantes para contar essa história. E para dar visibilidade para essa trajetória de 130 anos de comércio, vamos buscar também historiadores, estudiosos e todos os técnicos necessários para montar esse museu. Esse é o último projeto de nossa gestão, então vamos trabalhar para que ele seja o melhor possível. 

 

O que significa estar à frente de uma instituição que completa 130 anos?

Em primeiro lugar, é uma honra para qualquer pessoa participar de uma entidade como a Associação Comercial, que tem uma tradição na cidade de São Paulo, participou de forma significativa de movimentos como a Revolução de 1932, ajudou a desenvolver a Constituição de 1988, trabalhou na criação e na aprovação do Simples, lançou a figura do MEI...

Fora as contribuições que a entidade deu para a cidade de São Paulo - por isso, evidentemente, ela é parte integrante do seu desenvolvimento. O fato de estar aqui nesse aniversário de 130 anos é uma benção, uma oportunidade marcante e significativa por várias razões, como, por exemplo, poder fazer um retrospecto da atividade comercial da cidade no período.

Vamos também homenagear quem fez o comércio da cidade de São Paulo chegar ao que é desde a colonização, com a contribuição de comunidades de imigrantes como a italiana, a portuguesa, a japonesa, a libanesa, a judaica... Todas tiveram papel preponderante para esse desenvolvimento, e chegar a esse aniversário de 130 anos nesse contexto histórico é um orgulho muito grande para quem coincidentemente está sentado na cadeira de presidente. 

 

IMAGEM: Dani Ortiz/ACSP

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Alexandra Casoni, da Flormel, detalha o mercado de doces saudáveis

Alexandra Casoni, da Flormel, detalha o mercado de doces saudáveis

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Entenda a importância de planejar a sucessão na empresa