Surfista fatura R$ 1 mi por ano com delivery de camisetas

Sérgio D’Urso criou a Seal Brasil, que caiu nas graças da clientela com entregas a domicílio de roupas confeccionadas com material reciclado e algodão orgânico

Wladimir Miranda
16/Mar/2018
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Surfista fatura R$ 1 mi por ano com delivery de camisetas

Ele conseguiu o que muitos perseguem e poucos -só os iluminados e persistentes -, alcançam: ganhar dinheiro desfrutando do que gosta. Logo cedo descobriu que não podia viver longe da natureza. O mar, em especial, lhe fazia bem. Começou a surfar aos 12 anos de idade. Hoje, Sérgio D’Urso, aos 34 anos, fatura R$ 1 milhão por ano com a confecção de camisetas que criou, a Seal Brasil.

Sérgio nunca mais parou de surfar. E as roupas que cria –produzidas por costureiras que trabalham em oficinas terceirizadas - são o retrato de seu estilo de vida.

Confeccionadas com materiais reciclados e algodão orgânico, ressaltam o slow living, ou seja, uma maneira mais tranquila e sem pressa de viver.

A maior inovação da Seal Brasil é o sistema delivery de vendas. Foi assim que conseguiu fidelizar clientes e aumentar o faturamento da empresa.

O negócio funciona assim: o cliente liga para os dois endereços físicos da Seal Brasil – um na Vila Madalena e o outro no Parque Villa Lobos, na zona oeste de São Paulo –e diz que quer escolher e experimentar as roupas em casa.

O produto é enviado em uma mala personalizada para que o cliente prove e compre o que gostar.

Claro que comprar roupa sem sair de casa não é uma novidade. Pois é dessa maneira que o e-commerce formou o seu mercado.

Mas o diferencial de Sérgio – que atraiu a atenção e a fidelidade de celebridades como o ator global Reynaldo Gianecchini e os cantores Lenine e Seu Jorge –é a opção de poder receber a roupa em casa, antes mesmo de decidir se quer compra-la ou não.

E, melhor, caso não queira comprar nenhuma peça da mala que lhe foi enviada, o cliente não terá de pagar nada, nenhuma taxa.

“O cliente entra em contato com a loja, nos diz o tipo de roupa que está precisando e nós agendamos a entrega da mala na residência da pessoa com uma Kombi toda personalizada da marca”, conta Sérgio.

O foco de Sérgio são as camisetas. A confecção também trabalha com outros tipos de vestuário e até com acessórios femininos e masculinos, como bolsas.

Mas, neste caso, é uma parceria com outras marcas, que aproveitam a ótima aceitação da Seal no mercado para expor e comercializar seus produtos. O importante é que sejam marcas descontraídas, com motivos ligados ao modo de vida alternativo.

OPORTUNIDADE

A ideia de enviar o produto para a residência do cliente surgiu por acaso.

“Um cliente pediu para que levássemos algumas roupas de nossa coleção à sua casa. Ele estava sem tempo de passar na loja e como comprava sempre com a gente, decidimos que seria legal atender o seu desejo. Observamos que ele adquiriu o dobro do que geralmente comprava e passamos a oferecer essa opção a outros clientes".

É liberdade de escolha, já que ninguém se vê obrigado a comprar nada por pressão de vendedor. Além disso, estimulamos as relações colaborativas e conscientes na economia praticada pela nossa marca”, diz D’Urso.

O cliente paga a mercadoria em ambiente digital ou como uma entrega de pizza, ou seja, dinheiro ou cartão na porta da casa.

Sérgio tem uma tese para justificar o sucesso de seu sistema delivery. Ele acha que os homens –que formam quase a totalidade de sua clientela -, “ainda têm um certo bloqueio para sair de casa e fazer compras. As mulheres lidam melhor com isto. Este aspecto explica o sucesso do nosso sistema de levar a mercadoria em casa”, afirma.

A camiseta mais barata da Seal custa R$ 89,99; a mais cara, R$ 319,00.

Sérgio é publicitário formado. Chegou a trabalhar em agências de publicidade. No ambiente publicitário percebeu que era criativo, mas que não queria enfrentar o ambiente competitivo das agências.

Mas o período em que trabalhou entre os profissionais da área deu a certeza de que poderia, sim, criar as estampas de suas camisetas.

Um outro aspecto muito importante o ajudou na construção da ideia de criar uma confecção: Sua avó, Maria Amélia D’Urso, hoje aos 94 anos, “mas que ainda caminha na esteira”, foi uma das primeiras empreendedoras a ter lojas na rua São Caetano, na região central de São Paulo, e conhecida como “a rua das noivas”.

“Meu pai, mesmo formado em Direito, também teve lojas na rua São Caetano”, conta.

Ele viveu no ambiente de confecção desde menino. O caminho estava traçado. Uniria no futuro a paixão pela natureza com a certeza de que queria seguir os passos da avó e do pai.

“Comecei informalmente a fazer umas camisetas. Queria criar peças que traduzissem o meu estilo de vida, sempre ligadas à natureza, inspiradas pelo mar. Queria sair do meio urbano. Queria uma marca que conectasse as pessoas com este universo. Depois que me conectei com este universo a vida começou a ter mais sentido para mim”, afirma.

NO ATELIÊ DA MÃE NOS JARDINS

O primeiro passo de Sérgio no segmento foi dado no subsolo do ateliê que a mãe dele tinha nos Jardins.

“Fiz um evento, chamei lojistas, o máximo de pessoas que eu conhecia. Lembro-me bem. Era uma coleção de cinco peças, a R$ 50,00 cada uma. O custo de cada camiseta foi de R$ 25,00 e eu vendi por R$ 50,00. Vendi tudo. Foi o dia mais feliz da minha vida. Foi um sinal que recebi de que iria dar certo”, recorda ele.

Sérgio se preocupa em não deixar que o sucesso das vendas e o consequente aumento do faturamento o desconecte do estilo de vida que o fascina.

“O sistema é um bicho feito para te consumir. Quando percebo que estou muito ansioso, não consigo dormir, vou para a minha casa em Ubatuba. Lá eu surfo, fico em contato com a natureza. Deixo tudo de lado. Volto na segunda-feira e só então começo a resolver os problemas. Tem de haver uma disciplina”, ensina.

O faturamento anual de R$ 1 milhão é bruto. Deste montante – cerca de R$ 80 mil mensais -, Sérgio tira o dinheiro para as despesas. Só de aluguel dos dois espaços físicos ele paga R$ 16 mil. Tem ainda a folha de pagamentos dos doze funcionários – que ele chama de colaboradores -, que gira em torno de R$ 50 mil por mês.

“Intuição é a alma da Seal, que foi pensada para que, quando crescesse, continuasse sustentando os mesmos valores de quando foi criada”, diz.

Na entrevista, Sérgio exibe uma calça confeccionada a partir de reciclagem de garrafas pet. Todas as roupas são fabricadas com identidade 100% nacional. Um terço da matéria-prima é feita em algodão orgânico e algumas peças de garrafas pet, como a calça do dono da empresa.

DIFERENCIAL PARA O CLIENTE

Ele pratica artes marciais. E tem na meditação outra das paixões. Nas duas lojas da Seal, há espaços para os clientes meditarem. Logo na entrada, o cliente pode escolher entre tomar água de coco direto da fruta ou cafezinho orgânico.

O brasileiro Janderson Fernandes de Oliveira, conhecido por guru Sri Prem Baba é quem faz a cabeça do surfista/empreendedor Sérgio D’Urso.

Sri Prem Baba tem dez mil adeptos ao redor do mundo. Prega mensagens de amor entre Ocidente e Oriente.
Janderson adotou o nome de Sri Prem Baba em 2012.

O mestre espiritual brasileiro é requisitado por pessoas de todos os tipos, idades e origens. Ele não faz marketing pessoal, mas mesmo assim o número de adeptos cresce cada vez mais.

“Sigo o Prem Baba e me sinto muito bem. A gente é árvore, peixe, somos organismos vivos”, prega.

LEIA MAIS: Ele vende 10 mil camisetas por mês. Só pela internet

FOTO: Wladimir Miranda/Diário do Comércio

 

 

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