Renda do empreendedor negro é a maior da série histórica, mas 4,65% menor
Desigualdade em relação aos brancos diminui, mas abismo ainda segue grande no Brasil. Falta de crédito e capacitação estão entre os problemas, segundo o Sebrae. Participação dos que contribuem para a Previdência vai a 28,7% e bate recorde
A nova edição de pesquisa do Sebrae Nacional sobre empreendedorismo mostra um aumento da participação dos negros donos de negócios, que no último trimestre de 2023 somavam 15,6 milhões, crescimento de 28% sobre igual período de 2012, início da série histórica. Entre o primeiro trimestre de 2022 e o de 2023, também subiu, 1,29%.
O estudo traz outro retrato, o da renda. Os negros empreendedores ganham, em média, R$ 2.233, representando o melhor resultado da série, mas o valor é 46,5% abaixo do que rentabilizam os brancos donos de negócios, cuja média é de R$ 4.183.
Em 2012, o cenário era ainda pior, um abismo de de 52,7%. Segundo o estudo, elaborado pelo Núcleo de Pesquisa e Gestão do Conhecimento (NPGC) do Sebrae, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, embora as desigualdades persistam, os indicadores indicam melhoria na renda, formalização e contribuições à Previdência.
“As pessoas negras no Brasil enfrentam diversos desafios pelo racismo estrutural, que revelam maiores dificuldades inclusive para empreender”, diz Fau Ferreira, gestora de afroempreendedorismo do Sebrae.
Ela cita a dificuldade de acesso a crédito, e a uma rede de contatos que facilitem seus negócios, por exemplo, além de menor tempo para se dedicar ao planejamento dos negócios e buscar capacitações.
“Elas empreendem como uma via alternativa, visto que têm dificuldade de se inserir e permanecer no mercado de trabalho formal”, afirmou. “É preciso criar políticas de fomento ao empreendedorismo negro. Um negócio não cresce sem investimento.”
SETORES
A presença dos empreendedores negros no setor de serviços chegou a 41,1% do total no último trimestre de 2023 e marcou recorde na série. Outros 21,7% estão no comércio e 16,2%, na construção. São 12,4% na agricultura e 8,6% na indústria. Mais de 70% dos negros donos de negócios estão nas regiões Sudeste e Nordeste. A participação sobe entre os estados do Sudeste (de 29,9% para 37,7%) e cai entre os nordestinos (de 42,2% para 32,7%). Há ainda 13,9% na região Norte, 9% no Centro-Oeste e 6,7% no Sul. Mas, apenas entre os negros, a maior presença está no Norte (18,6%) – chega a 19,8% no Pará.
PREVIDÊNCIA
Ainda conforme o estudo, também aumenta a quantidade de negros donos de negócio que têm registro no CNPJ: de 17,4% (2012) para 24,2% (2023). Entre os brancos, a formalização chega a 42,8%. Além disso, a quantidade de negros que contribuem para a Previdência chegou a 28,7%, outro recorde da série – era de 18% no final de 2012. A diferença diminuiu, mas segue elevada entre os empreendedores brancos. Quase metade (49,6%) contribui. Do total de donos de negócio negros, 89,8% trabalham por conta própria e 10,2% são empregadores, ante 18,2% entre os brancos.
Mais de dois terços (67,8%) dos empreendedores negros são homens. Pouco mais da metade (50,8%) deles têm de 30 a 49 anos – 26% de 30 a 39 e 24,8% de 40 a 49. Depois vem a faixa de 50 aos 59 (18,9%). Os grupos de 60 anos ou mais e de 25 a 29 anos ficam próximos, com 11,4% e 10,9%, respectivamente. E 8% têm até 24 anos. No recorte por escolaridade, metade (51,2%) tem ensino médio.
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