Redução de custos é a prioridade na pauta do varejo em 2015

Com elevação das tarifas de água, energia e das taxas de ocupação, lojistas discutem na ACSP como tornar a gestão mais eficiente em shopping centers e pedem transparência para o setor

Karina Lignelli
23/Mar/2015
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Redução de custos é a prioridade na pauta do varejo em 2015

O mercado de shopping centers deve crescer este ano 8,5%, pouco abaixo dos 10,1% em 2014, segundo previsão da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

O ano já começa com duas aberturas, o que eleva o número de empreendimentos para 522, espalhados em 190 municípios brasileiros. Além dos recém-inaugurados shoppings Serrinha, na Bahia, e Itaboraí Plaza, no Rio de Janeiro, outros 24 centros de compras deverão ser abertos neste ano.

Nos últimos cinco anos a sobreposição de shoppings em cidades médias (abaixo de 200 mil habitantes) foi motivo de grande preocupação dos comerciantes. Agora, as questões que pedem atenção se referem aos custos de ocupação --que incluem a elevação do valor de condomínio-- e das tarifas de água e energia elétrica.

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Formas de reduzir esses custos, aumentar a produtividade, e em consequência, manter a gestão mais competitiva estiveram na pauta da primeira reunião do Conselho de Varejo da Associação Comercial de São Paulo do ano, realizada na última sexta-feira (20).  

“A grande discussão diz respeito à sobrevivência", afirma Nelson Kheirallah, vice-presidente da ACSP e coordenador geral do Conselho. "Com as vendas do varejo em queda, o objetivo é discutir como viabilizar os negócios diante do atual cenário, principalmente nos casos que envolvem pequenos varejistas.” 

Um levantamento da Abrasce mostra que o indicador se manteve estável nos últimos três anos, na casa de 10,3%. Esse percentual, contudo, foi amplamente constestado pelos representantes de lojas-âncora, satélites e franquias integrantes do Conselho da ACSP presentes ao encontro.  

Liliana Martins, gerente de expansão da rede Puket, disse que uma taxa de administração de 14% é o mínimo possível de se conseguir como custo de ocupação – o que inviabiliza operações em cidades menores. “Sem espaço para negociar, os lojistas colocam o pé no freio. E sem loja, não há expansão para ninguém.”

REPRESENTANTES DE MAIS DE 50 MARCAS DISCUTEM REDUÇÃO DE CUSTOS NA ACSP

Levar os números para o financeiro na hora de entrar com um operação em shopping tornou-se o grande desafio, segundo Sidney Isidro da Silva Júnior, diretor de expansão da Via Varejo. “É quando se percebe como é difícil a conta fechar”, disse.

Já Renata Rouchou, diretora de desenvolvimento da rede de cafés Starbucks, abordou a necessidade de lojistas e empreendedores de shoppings criarem um canal direto para negociar uma remuneração mais branda em um cenário difícil como o atual. “É na incerteza que se revê a relação lojista-shopping –principalmente nos que estão em período de maturação.”  

Francisco Oliveira, diretor de expansão da Centauro, vai além. Segundo ele, é preciso mais transparência na demonstração de custos, como o do condomínio - mesmo entre as empresas que estão listadas na bolsa.  “O ideal seria fixar um percentual predeterminado desses custos”, afirmou. 

GASTOS MENORES, MAIS EFICIÊNCIA 

Tal prática já existe. Na Ancar Ivanhoe, desenvolvedora e gestora de shoppings, o custo de ocupação é calculado sob a quantidade de metros quadrados. É o que afirma seu presidente, Evandro Ferrer: ”Cada um paga (o condomínio) equivalente ao tamanho de seu empreendimento”.  

Segundo ele, não há como não repassar um aumento de 42% no custo da energia. “Mas nos aprofundamos na questão da economia, principalmente em caso de vacância elevada. E o que fizemos para ser diferente é a medição individual, por loja.”  

Glauco Humai, presidente da Abrasce, diz que são realizados levantamentos constantes no setor sobre gestão de água e energia sob dois vieses: redução de consumo e geração de recursos.

Há mil processos de shoppings aguardando concessão para abrir poços artesianos. “Ocorre que a legislação dificulta. Estamos fazendo várias mobilizações conjuntas para encontrar solução de longo para captação de água para o setor”, diz Humai.

No caso da energia, boa parte dos empreendimentos, segundo ele, têm investido na redução de consumo com uso de lâmpadas de led, ar condicionado com termo-acumuladores e geradores de gás a diesel.

KEIRALLAH (À ESQ.) E HUMAI: REIVINDICAÇÕES CONJUNTAS NO VAREJO

Com isso, houve redução média de 30% no consumo. Outra ideia são telhados adaptados para captar energia solar – o que beneficiaria os imóveis do entorno. “Conversamos com o Ministério das Minas e Energia, mas falta criar legislação para gerar crédito aos usuários”.

Segundo Humai, as medidas de economia de energia e água e as campanhas e cartilhas de conscientização devem reduzir entre 25% e 30% os custos de ocupação.  Mas ainda há muito o que fazer, nesse sentido, já que há 1.682 projetos de leis com impacto negativo sobre os centros de compras.

Para atender a essas e outras demandas, Nelson Kheirallah lembrou que, na última quarta-feira (17), um grupo de 15 entidades do varejo, se reuniu em Brasília com o vice-presidente Michel Temer e com o ministro da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa Guilherme Afif Domingos para solicitar a abertura de diálogo com o governo.

“Mesmo crescendo menos, o varejo representa 22% do PIB, e precisamos de um desenvolvimento sustentável”, afirma.  “Não queremos concessões nem benefícios, mas sim dialogar e encontrar um espaço de negociação sobre questões como formalização, crédito e redução da burocracia e da carga tributária”, entre outras questões, completa Humai.

Em breve, o varejo, que nunca teve um representante no governo, deve contar com um secretário dentro do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC). “Será alguém do setor, pois entende suas necessidades”, diz Keirallah.

O novo secretário, Marcelo Maia, herdeiro das Lojas Maia, comprada pelo Magazine Luiza, foi anunciado no 3º Fórum Nacional de Varejo, realizado no último sábado (21).

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SOBREPOSIÇÃO

Há cerca de três anos, quando o faturamento do varejo ainda crescia na casa dos 8% ao ano, diversos empreendedores pretendiam abrir shopping centers nas mesmas praças – em especial nas cidades médias (abaixo de 200 mil habitantes) para atender à demanda crescente de consumo.

Era o movimento de “sobreposição”, ou seja, a onda de construções e lançamentos simultâneos em um raio de dois ou três quilômetros de distância, que poderiam inviabilizar investimentos tanto do próprio shopping quanto dos lojistas – em especial os pequenos.

O assunto foi até tema de debates e de rodadas de apresentação de projetos de construtoras e investidores de centros de compras nas reuniões do Conselho de Varejo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ao longo de 2013 e 2014.

A ideia era avaliar soluções conjuntas, como fusões, ou até a postergação de lançamentos para não inviabilizar nenhum lado dos negócios. “A preocupação do varejista, que chega a investir até R$ 5 milhões para entrar em um shopping, é não ter consumidores suficientes para se manter”, diz Kheirallah, vice-presidente da ACSP e coordenador do Conselho de Varejo.

Dois deles, inclusive já foram inaugurados sob essa ótica, após mobilização dos lojistas, em Foz do Iguaçú (PR) e Criciúma (SC)  - o segundo, na última quinta-feira (19).

Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) lembra que o período foi atípico, devido à introdução da nova classe consumidora. Mas diminuiu naturalmente, e a atividade está mais racional.

“Existem opções em várias cidades. Muitas têm capacidade de sediar um shopping, e ainda não têm nenhum. Até a logística de cada uma influencia a opção melhor”, afirma.

A informação se confirma: Glauco Humai, da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), diz que hoje os shoppings estão em apenas 190 municípios entre 5,5 mil existentes no país. “O universo para crescer ainda é muito grande”, afirma.

Hoje, segundo Humai, a taxa média de ocupação de shoppings é de 96,5%, e poucos são os têm em torno de 60%, por estarem na curva de maturação, de quatro, cinco anos.

Outro dado da Abrasce aponta que o consumidor visita 2,7 shoppings em média – o que mostra que ele não é um cliente fiel. Por isso, um shopping não anula o outro. “À medida que renda aumenta e o mix for diferenciado, ele consome o serviço mais conveniente.”

Como em 2015 a grande discussão será a “sobrevivência, e não a sobreposição”, conforme disse Keirallah, muitas inaugurações previstas para este ano (26) devem ficar para 2016.

“Não adianta abrir shopping com loja-âncora e um monte de tapumes nos corredores. Já houve shopping inaugurado com 14 lojas, e esse é o grande temor. Quanto maior a vacância, maiores os custos de ocupação”, afirma. 

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