Para Moody’s, economia melhora a partir do 2º semestre de 2016
Recessão deve durar dois anos, com o recuo de 3% no PIB em 2015, segundo expectativas do FMI e da agência de classificação de risco

A agência de classificação de risco Moody’s trouxe, nesta terça-feira (06/10), um alívio ao mercado brasileiro. Mesmo concordando com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em relação ao tamanho da retração econômica para 2015 – estimada em 3% por ambas as instituições – os executivos da Moody’s apontam que já no segundo semestre do ano que vem será possível ver alguma melhora.
O vice-presidente da Moody's, Mauro Leos, afirmou nesta terça-feira que a média de crescimento no segundo governo Dilma Rousseff (2015-2018) deve ser negativa - ou de um recuo de 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos pelo país). No primeiro mandato, a média foi de crescimento de 2,1% do PIB.
A expectativa da agência para este ano é de contração de 3% do PIB neste ano, queda de 1% em 2016, e depois uma recuperação gradual, com crescimento de 1% em 2017 e 2% em 2018.
Enquanto isso, no âmbito fiscal, o superávit primário (economia do governo para pagar os juros da dívida) médio no segundo governo Dilma deve ser de 0,6%, ante 1,2% no primeiro mandato.
E a dívida bruta deve ficar em 68,5% do PIB, de 54,6% no primeiro governo Dilma.
"A relação dívida/PIB sempre foi um dos elos mais fracos da nota do Brasil porque sempre foi maior do que a média dos pares com rating na faixa Baa. É altamente improvável que essa proporção volte para onde estava antes, nós temos um novo cenário", comentou Paloma San Valentin, diretora gerente da Moody's para os Estados Unidos e Américas.
A avaliação da agência é que a economia do Brasil pode melhorar a partir da segunda metade de 2016.
Apesar disso, a agência acredita que o ambiente econômico continuará fraco e a dinâmica política instável neste fim de 2015 e em 2016. Leos disse que não está otimista com os próximos anos.
Apesar disso, Paloma destacou que os problemas políticos não são suficientes para comprometer a sustentabilidade fiscal do país.
Mesmo assim, se houver um fracasso no cumprimento dos objetivos fiscais e econômicos, ou uma instabilidade política maior do que o esperado, o rating do Brasil poderia ser rebaixado.
"Isso ocorreria se as métricas de dívida do governo se deteriorarem mais e mais rápido do que esperamos - que é basicamente que a dívida bruta chegue a 70% do PIB e se estabilize", afirmou.
ORÇAMENTO E CPMF
Mauro Leos avaliou que, no curto prazo, uma das questões mais importantes que o Brasil precisa resolver é o Orçamento de 2016.
"É preciso haver um consenso mínimo sobre as medidas básicas que precisam ser tomadas. Há elementos para que o superávit seja o mais perto possível da meta de 0,7% do PIB", comentou.
Leos disse que existem medidas que podem e devem ser tomadas no âmbito das despesas, mas isso é mais para o médio prazo. No curto prazo, elevar as receitas é essencial. "Grande parte da discussão atual tem a ver com a CPMF", apontou.
Leos afirmou que não acredita que a CPMF seria a única medida que vai solucionar as dificuldades das contas públicas do país. "Não digo que a CPMF é a solução para os problemas fiscais. Mas é difícil ver ajuste fiscal sem medidas para elevar as receitas. A CPMF é uma delas", disse.
GRAU DE INVESTIMENTO
A diretora-gerente da Moody's Latin America, Susan Knapp, afirmou que as forças subjacentes do Brasil ainda são suficientes para manter o grau de investimento, apesar de as dinâmicas atuais de crescimento serem piores do que a agência antecipava. A declaração foi dada na 17ª Conferência Anual da Moody's, em São Paulo.
"As forças subjacentes ainda são suficientes para manter o grau de investimento, mas o Brasil enfrenta desafios, como o crescimento fraco, desequilíbrios fiscais persistentes e a situação política", comentou Susan.
A diretora apontou que o desempenho econômico brasileiro tem sido mais fraco do que a Moody's havia antecipado e que espera uma melhora apenas moderada no curto prazo.
"O governo não tem sido capaz de cumprir as metas fiscais e falta consenso político para lidar com a rigidez estrutural, o que é essencial para garantir o equilíbrio fiscal". Ela lembrou que as baixas taxas de aprovação do governo Dilma Rousseff também colaboram para a crise política.
FMI
O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a cortar as previsões de crescimento para o Brasil no "Panorama Econômico Global", divulgado nesta terça-feira (06/10), em Lima. Para este ano, a previsão foi cortada de queda de 1,5% para recuo de 3%. Em 2016, a estimativa passou de crescimento de 0,7% para retração de 1%.
O Brasil foi, entre as principais economias mundiais, a com maior corte das projeções na comparação com o relatório do FMI de julho.
O necessário ajuste macroeconômico no país está pressionando negativamente a demanda doméstica. A piora da economia brasileira, afirma o documento, está afetando outros países da América Latina, pelo tamanho e importância do país na região e sua interconectividade por meio, por exemplo, do comércio.
Nesse cenário, a América Latina deve ter um novo ano de crescimento decepcionante e abaixo da tendência. Em 2015, a região deve se contrair 0,3% e no ano que vem, a previsão é de expansão de 0,8%.
Para a Moody’s, um dos vilões da região é a China, que hoje cresce menos e pressiona o continente latino-americano. Na região, o Brasil é o país mais exposto ao menor crescimento da China, tendo em vista, principalmente, a menor demanda de commodities.
* Com informações de Estadão Conteúdo
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