Para governo, manifestações não afetam reforma da Previdência
Grevistas ocuparam o Largo da Batata, em São Paulo. Temer lamenta fatos isolados de violência

O ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência da República, descartou prejuízo ao processo de votação da PEC da Previdência por causa dos protestos e paralisações contrários às reformas que acontecem nesta sexta-feira, 28/04, por todo País.
"Há uma consciência muito forte de que é preciso que nós enfrentemos a questão da reforma da Previdência. Se não tomarmos alguma medida urgente, vamos ter no governo federal o mesmo quadro do Rio de Janeiro, onde temos visto drama e desespero de pensionistas e aposentados que não estão recebendo", disse em entrevista à Rádio CBN.
Questionado sobre se o governo não deveria convencer sua própria base da necessidade das mudanças na Previdência, já que o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, tem se colocado contrário às reformas, Moreira Franco disse que não responde a provocações do senador.
O ministro ainda reforçou que a medida é importante para tirar o País da "maior crise econômica da história" e recuperar a capacidade de gerar empregos.
AS MANIFESTAÇÕES
Desde o início da manhã desta sexta-feira, centrais sindicais e organizações de categorias se mobilizam contra as reformas da Previdência e trabalhista.
As principais capitais amanheceram sem ônibus, trens e metrô, e vias foram bloqueadas. Algumas escolas também não abriram em uma mobilização que foi anunciada como greve geral.
As empresas orientaram seus funcionários a trabalhar de casa. Em São Paulo, algumas empresas formalizaram via departamentos de Recursos Humanos a decisão de que seus funcionários deveriam cumprir as atividades do dia a distância, relatam funcionários.
"A orientação oficial do RH foi que todos fizessem home office" relata Leandro Ramos, que trabalha com logística em uma multinacional.
Ele conta que a justificativa foram os possíveis problemas relacionados a transporte e segurança. "Ir ao escritório só em último caso. Procuramos antecipar o máximo de coisas no dia anterior. Achei o mais indicado, estava difícil prever como seria hoje."
A designer digital Flávia Vieira, que trabalha na região da Avenida Paulista, também teve um dia de trabalho diferente. "A paralisação deu pistas que seria muito grande. Então, ficou combinado que ninguém iria para o escritório por conta da dificuldade de mobilidade. Achei a solução ideal."
TEMER
O presidente Michel Temer divulgou no início da noite desta sexta-feira uma nota lamentando “fatos isolados de violência” nas manifestações políticas com greve geral convocadas em todos o país.
No comunicado, o presidente defendeu as reformas que o governo vem empreendendo, alvo das críticas das mobilizações.
“Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente. Fatos isolados de violência também foram registrados, como os lamentáveis e graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro”, escreveu o presidente.
Segundo o documento, as manifestações “ocorreram livremente” e com “a mais ampla garantia ao direito de expressão”.
MULTAS
O prefeito João Doria garantiu que os sindicatos dos rodoviários serão multados em R$ 500 mil por desrespeitarem a decisão judicial que previa o funcionamento de pelo menos 80% da frota nos horários de pico.
Ele também agradeceu aos funcionários municipais que trabalharam e não se envolveram na manifestação, a qual classificou como "muito mais política do que reivindicatória".
O prefeito voltou a afirmar que "ao contrário dos sindicalistas", acordou cedo para trabalhar, assim como outros servidores do município. "Houve um esforço muito grande dos funcionários públicos. Mais de 80% deles trabalharam. A maior ausência foi na rede municipal de ensino, com 50% (de presença). No atendimento médico tiveram 80%, nas outras áreas foram mais de 90%, algumas com todos presentes", disse.
Doria ainda afirmou que as manifestações foram mais semelhantes a um protesto do que a uma greve, mas que não conseguiram prejudicar tanto a mobilidade das pessoas, já que as polícias militar e civil, o Corpo de Bombeiros e a engenharia de tráfico agiram rapidamente para garantir movimentação.
AVALIAÇÃO
As duas maiores entidades sindicais do país – Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical – avaliam como exitosas as manifestações e paralisações.
Na avaliação do presidente da CUT, Vagner Freitas, a paralisação de hoje deve ser “a maior greve já realizada no país”.
Para o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), os trabalhadores decidiriam se mobilizar porque há “propostas viáveis para que o país retome o seu crescimento econômico sem a perda de quaisquer direitos trabalhistas, previdenciários e sociais”.
Em comunicado divulgado no fim da tarde, a Força estima que 40 milhões de trabalhadores pararam nesta sexta-feira.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo estima que 62 mil empregados de instituições financeiras da capital paulista, Osasco e região tenham aderido à greve, com o fechamento de 530 agências e 15 centros administrativos.
*com Agência Brasil
IMAGEM:Estadão Conteúdo