Mercado analisa cautela do Copom
O Comitê de Política Monetária reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, interrompendo a sequência de cortes de 0,5 ponto percentual que acontecia desde agosto do ano passado
As incertezas relacionadas ao cenário externo, especialmente sobre o início dos cortes dos juros nos Estados Unidos, e dúvidas quanto à trajetória da inflação no Brasil contribuíram para uma posição mais cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom), que em uma decisão apertada, por 5 votos a 4, reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, interrompendo a sequência de cortes de 0,5 ponto percentual que acontecia desde agosto do ano passado.
Com o novo corte, a Selic ficou em 10,5% ao ano, menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,75% ao ano. A posição mais conservadora do Copom já era esperada pelo mercado.
Segundo Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mesmo com o “comportamento mais benigno da inflação”, o aumento das incertezas no campo fiscal pesou na decisão do comitê.
“Com a mudança da meta de resultado primário em 2025, e dos sinais negativos do cenário internacional, o Copom deve ter levado em consideração o forte crescimento dos salários e os possíveis impactos nos preços futuros”, diz Ruiz de Gamboa, acrescentando que a cautela na condução da política monetária se justifica.
Para Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, o mercado deixou de acreditar que há possibilidade de uma taxa de juros no patamar de 1 dígito em 2024. “As incertezas externas e a preocupação fiscal evoluíram de maneira desfavorável, a projeção do Focus aponta Selic em 9,5% em 2024, enquanto a curva de juros precifica 10,25%”, diz.
Ainda segundo Camila, o comunicado do Copom foi “seco”, sem sinalizar sobre os próximos passos. “Na circunstância de divergência de votos, a ata do Copom será lida com lupa na próxima semana.”
Para Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, a cautela atual do Copom deve favorecer a convergência mais rápida das expectativas de inflação de 2025 para o centro da meta.
“Os números da inflação no país estão bons, estamos em processo de desinflação. A atitude mais conservadora agora deve criar uma convergência maior no colegiado para um corte mais acelerado dos juros nas próximas reuniões, quando ficar claro que os juros nos EUA vão começar a cair”, diz Miraglia.
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