Mãos à obra para a revitalização do Triângulo Histórico

Em visita à ACSP, Marcos Monteiro, titular da Siurb, e o presidente da SP Obras, Taka Yamauchi, detalham o projeto de melhorias para a região e informam sobre as medidas para minimizar os impactos das intervenções no comércio local

Karina Lignelli
08/Mai/2023
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Mãos à obra para a revitalização do Triângulo Histórico

A prefeitura de São Paulo iniciou o processo de revitalização do chamado Triângulo Histórico, delimitado pelas ruas Líbero Badaró, Boa Vista e Benjamim Constant. Atualmente, são três canteiros de obras ativos na região, que marcam o início de uma profunda reestruturação com o objetivo de atrair investimentos, gerar empregos e melhorar segurança e mobilidade dessa área nobre da capital paulista.

Esse projeto é tido como prioridade pelo prefeito Ricardo Nunes, que reconhece a complexidade envolvida nele. Porém, as reformas não podem ser feitas a toque de caixa devido ao potencial arqueológico dessa região. Trilhos de bonde já foram encontrados nessas primeiras escavações e, além disso, prédios históricos, como a Catedral da Sé, estão no perímetro e não podem sofrer efeitos colaterais das obras.

Outro ponto de preocupação da prefeitura é tocar o projeto de revitalização de uma região com forte presença do comércio, causando o mínimo impacto possível aos negócios locais.

Em visita à Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcos Monteiro, secretário de infraestrutura e obras da cidade de São Paulo, e Taka Yamauchi, presidente da SP Obras, responsáveis pelo trabalho de revitalização, detalham, em bate-papo com o Diário do Comércio, o andamento das obras iniciadas em novembro último e previstas para durar 22 meses.

IMPACTO NO COMÉRCIO

Monteiro e Yamauchi afirmaram ter desenvolvido soluções para evitar que as reformas prejudiquem os comerciantes, uma estratégia que envolve inteligência logística e comunicação social.

Nos três canteiros ativos (entre a Líbero Badaró e a São Bento, na Praça do Patriarca e no trecho em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil, na Álvares Penteado), onde as pedras portuguesas do calçadão estão sendo substituídas por concreto de alta resistência, as obras acontecem em lados alternados da via.

Essa será a diretriz para toda a reforma do calçadão para evitar ao máximo estrangular o trânsito de pedestres. Vale lembrar que as compras por impulso são fundamentais para as lojas físicas da região. Assim, segundo Monteiro, o primeiro conceito é “nunca fechar ruas”.

O segundo é revitalizar trechos menores para liberá-los logo, nunca impedindo a passagem nem a entrada de uma loja para que, mesmo operando, haja uma via de acesso.

"Claro que poeira e barulho não têm como evitar, mas a ideia é diminuir o transtorno para o comerciante para que ele perca o mínimo de trabalho e faturamento possível", disse Monteiro.

Quanto à comunicação social, o secretário afirmou que foi aberta licitação para contratar uma equipe especializada, que irá preparar materiais de divulgação e esclarecimento a cada etapa das obras.

"A ideia é manter o comerciante informado, evitando qualquer ruído ou desconforto,para que ele tenha a quem reclamar se aparecer algum problema específico em algum ponto do projeto."

Nesse ponto, o secretário destacou a importância da adesão da ACSP ao projeto, que pode intermediar conversações com os comerciantes que representa. 

AS MELHORIAS

Ainda que as obras tenham começado pelos calçadões, o pacote de revitalização do Triângulo Histórico contempla não só troca de piso, mas a instalação de valas técnicas e drenagem, nova iluminação funcional e cênica de edifícios históricos, reformulação da sinalização turística com informações em português e inglês e troca de mobiliário urbano, como jardineiras, lixeiras e bancos. 

Quanto à questão de segurança, tão necessária nessa região, as melhorias ocorrem com a ajuda do governo do Estado, que tem deslocado um contingente maior de policiais militares para o entorno da Praça da Sé, segundo Monteiro.

E agora, após campanha da ACSP, o Tribunal de Contas do Município (TCM) liberou a realização de edital para contratação da empresa que irá implementar o Smart Sampa, projeto que prevê a instalação de 20 mil câmeras de reconhecimento facial na capital, com ênfase para a região central.

"O novo edital está previsto para sair em junho", informou o secretário.

O objetivo final desse projeto é trazer a população de volta para o Centro da cidade e, para isso, paralelamente às obras de melhoria dos espaços públicos, a prefeitura tem estimulado, com incentivos fiscais, ações de retrofit em prédios antigos, com o objetivo de transformá-los em moradias.

“Todas as grandes metrópoles seguem a tendência de renovar o Centro, e São Paulo não poderia ser diferente ao adotar tecnologia urbanística para trazer, o quanto antes, valor agregado para uma região que é referência de passado e também vai ser de futuro", destacou Taka Yamauchi.

REPOVOAR O CENTRO

Para Monteiro, uma coisa é ter pessoas trabalhando no Centro ou comprando na rua 25 de Março, outra é essas pessoas optarem por morar na região. A revitalização tem justamente o papel de permitir à população olhar não apenas para os seus problemas, mas também para suas qualidades.

"O Centro é tão bonito, tem prédios históricos interessantes ou chamativos como o Farol Santander, a Prefeitura, o Pateo do Collegio...", exemplificou o secretário.

Segundo ele, esses pontos turísticos não são tão divulgados por causa das condições atuais da região, algo que, de acordo com Monteiro, já começa a mudar ao se observar o crescimento de excursões de estrangeiros. "Já vemos muitos guias falando inglês, e até ônibus escolares ou de turistas de outras cidades têm vindo com mais frequência conhecer a região", comentou.

Já Yamauchi citou a revitalização de Nova York aliada à política de "tolerância zero" como exemplo de que transformar o Centro em um lugar mais aprazível, seguro e limpo faz a convivência das pessoas naquele local se tornar preponderante. E em São Paulo não será diferente, disse.

"Quando você tem toda uma infraestrutura que favorece o turismo, tendo como referência o polo histórico onde a cidade começou, esse ambiente colabora muito para trazer também moradores e empresas”, completou. 

DESAFIOS SUBTERRÂNEOS

De acordo com Monteiro, os três canteiros-piloto em atividade servem para detectar eventuais dificuldades ou pontos nevrálgicos - como os trilhos de bonde, que fazem parte da memória da cidade – que precisam ser contornados sem impacto na rotina dos paulistanos ou no cronograma das obras.

Um dos principais desafios, segundo o secretário, é a ocupação desordenada dos subterrâneos pelas concessionárias, em especial as de telefonia e de dados. O subsolo do Centro virou um emaranhado de cabos, e sua manutenção cria perigosos desníveis nas calçadas, comprometendo a acessibilidade.

"É fácil arrancar pedras de madrugada, fazer um buraco, passar um tubo e assentar de qualquer jeito", diz Monteiro. "Mas com o piso de concreto que estamos instalando, isso não vai mais poder acontecer, já que só será possível usar valas técnicas para passar tubulações."

O novo piso será mais resistente ao tráfego de caminhões de limpeza, carros-fortes, viaturas de polícia e veículos oficiais que trafegam diariamente pelo local. O secretário lembrou também que, no caso das concessionárias, não é possível obrigá-las a aprovar imediatamente investimentos para se adequarem, já que não dá simplesmente para desligar, remover os cabos e cortar os serviços.

A estratégia, explica, tem sido conversar com cada uma, pedir para deixar o cabeamento o mais organizado possível e, à medida que entenderem que têm de renovar sua infraestrutura, vão migrar para a vala técnica, ativar os novos cabos e desativar os antigos. "É uma coisa natural, que vai acontecendo aos poucos", sinalizou.

CRONOGRAMA

CET, Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, Iphan, Condephaat, Conpresp, Siurb, SP Obras e outros órgãos envolvidos na reforma do Triângulo Histórico estão empenhados em cumprir o cronograma de 22 meses, prazo estipulado para a intervenção que planeja revitalizar 62,2 mil m2 de calçadões, inclusive iluminação e mobiliário urbano, abrange 23 ruas e tem custo de R$ 63 milhões, segundo a prefeitura.

Yamauchi lembra que, por esta não ser uma obra "normal", necessita de um cronograma diferenciado. “É um projeto vivo, dinâmico, que tem de acomodar diversos atores e interesses ao desafio de fazer tantas interferências em pouco espaço. Tudo isso associado à condição de ser um Centro histórico.”

Por sua dimensão, o projeto passou a integrar a iniciativa do executivo municipal "Todos pelo Centro" que, segundo Marco Monteiro, envolve não só ações de revitalização urbana, mas mudança de legislação de retrofit, de segurança, zeladoria e políticas públicas voltadas à população em situação de rua, entre outras, ganhando um caráter "intersecretarial" para atacar os problemas da região.

Por isso, são realizados estudos constantes e análises semanais a quatro mãos (Siurb e SP Obras), buscando soluções de engenharia e tecnologia para otimizar a questão das obras, com brevidade de tempo e sempre atendendo a aspectos de economicidade e interesse público, concluiu Yamauchi. 

IMAGEM: Sammy Rocha/ACSP

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