Manifestações em 90 cidades defendem a Lava Jato
Atos foram bem menores que os do impeachment de Dilma. Avenida Paulista pode ter reunido até 100 mil pessoas, que também criticaram a votação para 2018 em lista fechada

Manifestações neste domingo (26/03) em 90 cidades brasileiras apoiaram a Lava Jato e condenaram a adoção, ainda incerta, do voto em lista fechada para as eleições de deputados estaduais e federais em 2018.
Os atos públicos atrairam número bem menor de pessoas que os realizados em 2016 em favor do impeachment de Dilma Rousseff.
A avenida Paulista, em São Paulo, que atraiu mais manifestantes, não tinha nem de perto as 500 mil pessoas (Datafolha) ou 1,4 milhões (Polícia Militar) de 15 de março do ano passado.
Embora desta vez não existam estimativas da PM, é possível estimar a presença em pouco menos de 100 mil pessoas.
É um número ligeiramente inferior à participação do ato da oposição do último dia 15 de março, que protestou contra a Reforma da Previdência e teve como principal orador o ex-presidente Lula.
As manifestações deste domingo e do dia 15 tiveram uma configuração diferente. Enquanto a os petistas se concentraram em três quarteirões da Paulista, com conglomerado bem mais denso diante do único palanque, desta vez o público se estendia por seis quarteirões e sem um ponto único de aglomeração.
A maior delas, diante do Masp, junto ao carro de som do MBL (Movimento Brasil Livre), não dispunha de um orador de peso para mobilizar os participantes.
Outras atos, com número bem inferior de manifestantes, ocorreram no Rio, Belo Horizonte, Salvador e mais capitais da Região Norte. No interior de São Paulo, Campinas, segundo a PM, conseguiu reunir o maior multidão, com 5 mil pessoas.
Além de apoio à Lava Jato e repúdio ao voto em lista - pelo qual não se votaria mais em candidatos, mas nas listas fechadas que serão montadas por cada partido político -as demais reivindicações não foram consensuais entre os movimentos, que convocaram os atos públicos pela internet.
Ao lado de grupos absolutamente inexpressivos, como os que propunham um golpe militar ou a volta à Monarquia (a bandeira brasileira anterior a 1889, tremulava nas mãos de alguns militantes), alguns pediam o fim do estatuto do desarmamento ou, mais consensualmente, o fim do foro privilegiado para o julgamento de crimes de corrupção em tribunais superiores (STF ou STJ).
Foram a todo seis caminhões com auto-falantes e oradores desconhecidos.
Paradoxalmente, o fato de os atos públicos não terem sido retumbantemente expressivos foi considerado de forma positiva pelo Palácio do Planalto.
A assessoria do presidente Michel Temer, segundo a Folha de S. Paulo, temia que ao grupo deste domingo se juntassem partidários do "Fora Temer!" e que mesclassem palavras de ordem contra a Reforma da Previdência. Os dois temas estavam desta vez ausentes das ruas.
Em São Paulo, muitos dos manifestantes deixaram de vestir camisetas de cor amarela, que se tornaram habituais na sucessão de atos públicos pelo impeachment de Dilma. E tampouco se viu multidões agitando bandeiras brasileiras.
Um dos vendedores ambulantes, com as mãos ainda cheias de bandeiras, perto da esquina da av. Brigadeiro Luís Antônio, queixava-se ao repórter do Diário do Comércio. "O dia está fraco!"
Mas foram suficientemente numerosos manifestantes para transitaram pela Paulista com uma enorme faixa contra o foro privilegiado, ou aqueles que desfilavam com cartazes, improvisados em cartolina, que homenageavam a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro.
ATOS NAS DEMAIS CAPITAIS
As menores manifestações ocorreram em Maceió (AL) e em Manaus (AM), com algo em torno de 40 pessoas cada uma, segundo o portal G1.
Foram 2 mil em Goiânia (GO) e 500 em Brasília (DF), 800 em Belo Horizonte (MG), 300 em Belém (PA) e 2 mil em Curitiba (PR) e 5.500 em Recife, estimativa dos organizadores, segundo ainda o G1.
No interior de São Paulo aconteceram manifestações, além de Capinas, também em Araçatuba, São José do Rio Preto, Votuporanga, Indaiatuba, Piracicaba, Atibaia, Franca e São Carlos.
A soma dos participantes de todas essas pequenas manifestações supera amplamente o número de pessoas que a oposição reuniu no dia 15 na avenida Paulista, em torno do palanque em que Lula foi o orador principal.
Nas redes sociais, no entanto, petistas e simpatizantes qualificaram os atos deste domingo de "grande mico", como se eles representassem em conjunto um fracasso que não existiu.
Em todo o país, duas conclusões inevitáveis. Há consenso sobre os perigos que a Lava Jato está correndo -a anistia ao caixa dois esvaziaria as denúncias que podem ser apresentadas contra políticos - e o fato de o voto em lista ainda não estar muito nítido como bandeira de protesto.
É um modelo inédito para o eleitorado brasileiro, e apenas os cidadãos mais informados conseguem calcular seu alcance.
FOTO: Renato Cerqueira/FuturaPress/Estadão Conteúdo