Inflação oficial sobe 9,56% em 12 meses até julho
O índice subiu 0,62% em julho, a maior alta desde 2004. A tarifa de energia continua sendo a vilã. Daqui para frente, o dólar alto será uma fonte de pressão

A inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou para 0,62% em julho na comparação com junho, quando foi de 0,79%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas isso ainda não pode ser comemorado.
O percentual menor na comparação com junho ainda veio muito acima ao de julho de 2014, quando a inflação subiu apenas 0,01%. Isso porque, a partir de julho, há uma queda sazonal da inflação.
Neste ano, porém, ela não será sentida, já que o índice do mês passado ainda carrega o peso da alta dos preços administrados, que são aqueles controlados pelo governo, como por exemplo tarifas de água, energia, transporte e gás.
Em julho, o preço da energia elétrica subiu 4,17% e exerceu um impacto de 0,16 ponto percentual na alta de 0,62% do IPCA. As taxas de água e esgoto e o condomínio mais caros pressionaram o grupo Habitação, que avançou 1,52% em julho.
Em agosto, as tarifas de energia elétrica, água e esgoto, pedágios, ônibus e gás encanado devem exercer pressão sobre o IPCA. Houve aumento de 7,14% nas tarifas de ônibus intermunicipais em Goiânia e de 14% nos pedágios de São Paulo, ambos a partir do início do mês, listou o IBGE.
É bom lembrar que no acumulado do ano o IPCA já passa do teto da meta de 6,5% - ao atingir 6,83% - o pior resultado para os meses de janeiro a julho desde 2003. Em 12 meses até julho, a inflação oficial alcançou 9,56%.
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Neste ano, a pressão de alta nos preços deve continuar por causa da valorização do dólar, que já subiu 33,30% no acumulado deste ano.
Com a alta da moeda norte-americana, há um repasse nos preços de produtos brasileiros. Ontem, a cotação do dólar comercial encostou em R$ 3,57, o que fez o Banco Central intervir no mercado de câmbio.
O dólar começou a subir com mais intensidade após o anúncio da redução da meta de superávit primário (economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública).
Depois disso, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s colocou a nota de risco de crédito do Brasil em perspectiva negativa.
Essa mudança de direção fez o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, a elevar a taxa básica de juros (Selic) para 14,25% ao ano. Os riscos para a inflação permanecem altos neste ano, mas os economistas se dividem sobre mais aumentos nos juros para conter a inflação.
Para Márcio Milan, economista da Tendências, a taxa Selic será mantida neste patamar até o fim do ano.
No entanto, a consultoria revisou a inflação deste ano para cima – de 8,9% para 9,6% no fim de 2015. O principal motivo foi a alta do dólar, que pode gerar um incremento de até 4% no índice de inflação.
Para o ano que vem, a projeção do economista para o IPCA se manteve em 5,40%. O que vai reduzir a inflação primeiro é o fim do impacto do aumento dos preços administrados. Depois, o desemprego, que vai reduzir principalmente a demanda de serviços e, consequentemente, os preços. Em julho, a inflação de serviços veio acelerada, de 8,54% contra 7,90% em junho.
Quem considera que a queda da demanda será o principal fator de redução da inflação oficial é André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Ele estima que o IPCA encerre 2016 em 4,75%.
O índice será puxado por uma queda de cerca de 6% na massa salarial até o fim deste ano, segundo o economista. “A minha projeção está abaixo dos colegas porque a desaceleração será severa”, afirma.
O efeito, no entanto, será só para o ano que vem. Perfeito avalia que neste ano as pressões do câmbio e da crise política ainda afetarão o IPCA, para o qual ele projeta 9,24% no fim de 2015. Por isso, diz Perfeito, a taxa de juros ainda deve subir 0,25 ponto percentual em setembro.
DÓLAR E ENERGIA PRESSIONAM OS ALIMENTOS
O dólar vem exercendo uma pressão importante sobre os preços dos alimentos, assim como a energia elétrica, avalia Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Com isso, o grupo registrou alta de 0,65% no mês passado, a maior variação desde 2012, quando houve um forte choque na oferta de alimentos.
"O impacto do dólar sobre a inflação nos próximos meses vai depender do comportamento dos agentes econômicos", diz Eulina.
Os meses de julho costumam ser de baixa nos preços da alimentação. De 1994 para cá, o mês foi de deflação em dez vezes - incluindo 2014 e 2013. Mas agora os agricultores reclamam do dólar, que se soma à energia elétrica como um fator de encarecimento dos custos.
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"Percebemos em vários alimentos a pressão do dólar e também da energia elétrica. Agricultores em geral têm atribuído muito à questão do dólar os aumentos de preços. Falam também que isso pode levar a uma redução da área plantada, em especial aquelas (culturas) que dependem de irrigação", diz.
Segundo Eulina, comprar adubos fica mais caro diante do dólar desvalorizado. Além disso, a irrigação é cara, e fica ainda mais onerosa diante da energia elétrica em alta e também do avanço nas tarifas de água e esgoto.
Em julho, ficaram mais caros produtos como feijão-mulatinho, leite longa vida, macarrão, pão francês e biscoito.
QUEDA NO PREÇO DAS ROUPAS
O mês de julho foi de liquidações no vestuário e a principal razão foi a falta de movimento nas lojas. O inverno não acabou, mas os comerciantes estão tentando desovar estoques o quanto antes, explica Eulina.
Em julho, o grupo Vestuário registrou queda de 0,31% nos preços. "O pessoal está antecipando a liquidação de inverno, dada a retração que está sendo observada no comércio", diz.
O quadro de queda ou de aumentos tímidos nos preços se repete na taxa acumulada em 12 meses até julho. Em Vestuário, a alta é de 3,39%, praticamente um terço da taxa da inflação geral, de 9,56% no período.
ALIMENTAÇÃO FORA DE CASA
Os estabelecimentos de serviços de alimentação não têm conseguido repassar o aumento dos custos para os clientes diante da queda na demanda.
Com isso, o preço da alimentação fora de casa neste ano subiu menos do que os alimentos consumidos no lar, invertendo uma tendência que havia se firmado nos últimos anos.
"Com o bolso mais vazio por causa de outras despesas básicas, comer fora tem tido menor demanda. Muitas vezes no trabalho, as pessoas estão levando comidinha feita em casa. A presença das pessoas nos restaurantes tem diminuindo. Os comerciantes não estão conseguindo repassar, e isso pode significar redução de margem de lucro", diz.
No acumulado dos sete primeiros meses de 2015, a alimentação fora de casa subiu 6,46%, abaixo do resultado observado entre os alimentos consumidos no domicílio (7,76%), segundo o IBGE.
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* Com informações de Estadão Conteúdo