Gurus internacionais dão dicas para startups brasileiras
Nem só de boas ideias e de criatividade vivem as startups. Empreendedores internacionais ensinam o bê-a-bá para começar um negócio de sucesso

Empreender virou moda. E essa não é apenas uma observação de uma repórter que frequenta eventos sobre o tema.
Quase todo mundo conhece alguém que quer abrir uma empresa ou um amigo que tem uma ideia genial para um novo aplicativo. Há ainda aqueles que estão apenas esperando um momento “eureca” para começar essa empreitada.
"Empreender virou o equivalente a ter uma banda rock nos anos 1980”, afirma Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e Inovação do Insper.
Os números também revelam essa percepção. De acordo com o último relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 40 milhões de brasileiros estão empreendendo. Entre os que ainda não fazem parte desse grupo, 80% consideram que abrir um negócio é uma opção desejável para a carreira.
Figuramos entre os quatro países com maior número de empreendedores do mundo, atrás de China, Índia e Nigéria. Mas nem sempre a quantidade e a qualidade andam juntas.
Parte considerável desses novos empresários precisa se aprimorar em alguns pontos, como no modelo de negócio ou na gestão da empresa.
UMA BOA IDEIA
Katia Verniano é fonoaudióloga e teve uma ideia para um novo aplicativo. Durante 28 anos, estudou e trabalhou com o atendimento de pacientes com deficiência de comunicação em seu consultório particular.
Há dois anos, ela começou atender pelo sistema público de saúde e se deparou com uma triste realidade brasileira: o alto índice de analfabetismo. “Atendi adolescentes que estavam cursando o oitavo ano e que não conseguiam ler”, afirma.
Em vez de se concentrar apenas em seus pacientes, Katia queria fazer algo que atingisse mais pessoas. A fonoaudióloga decidiu sair da sua zona de conforto e se lançar no mundo do empreendedorismo.
Ela criou o aplicativo “Foco x Cuca Fresca”, com o intuito de driblar os obstáculos de aprendizagem. Katia usou estudos e metodologias de alfabetização para formular um jogo em que os participantes vão unindo sílabas e formando palavras.
Por enquanto, apenas uma parte do projeto foi concluída. Para seguir pela trilha correta, ela se inscreveu e foi uma das selecionadas para participar da 9ª edição do Concurso Acelera Startup, organizado pela Fundação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Além de assistir palestras sobre empreendedorismo, Katia teve a oportunidade de conversar com empresários experientes entre eles, Marco Berger, fundador da IERU Communications e radicado em Tel Aviv, o dinamarquês Martin Justesen, gestor e fundador da Sund Innovation, e o americano Jonathan Jones, da aceleradora GVS do Vale do Silício.
MENTORIA
Por meio de videoconferência, Berger elogiou a ideia de Katia. Ele a aconselhou a pensar num plano para monetizar seu aplicativo. Ou seja, tornar esse projeto rentável, um passo fundamental para conseguir investimento.
“Quando ele perguntou sobre o retorno financeiro, fiquei um pouco insegura porque não tinha todas as respostas”, afirmou Katia.
Assim como a fonoaudióloga, diversos empreendedores brasileiros têm ideias louváveis, mas encontram dificuldade nos pontos essenciais, como definir o público-alvo ou ter viabilidade financeira.
A deficiência brasileira passa por diversos pontos. Um dos principais é que os conceitos básicos sobre gestão não são ensinados nas escolas e nem mesmo em algumas universidades.
Grande parte dessa lacuna é preenchida por instituições como Sebrae, Endeavour e pela própria Fiesp.
CONSELHOS DE QUEM ENTENDE
Não à toa que a oportunidade de conversar com empresários experientes foi um dos momentos mais concorridos desse último Acelera Startup.
As filas para as sessões de mentoria eram longas e alguns participantes esperaram mais de uma hora para ter essa oportunidade.
Mesmo para os empresários que têm um modelo de negócio mais estruturado, os mentores estrangeiros aconselharam a revisão de alguns pontos cruciais.
Para Bruno Doneda, fundador da Contraktor, empresa que oferece serviços de edição e gestão de contratos jurídicos na nuvem, Beger o aconselhou focar em um público-alvo específico. A startup pensava inicialmente em atender tanto as empresas quanto os escritórios de advocacia.
“Conversando com o mentor, percebi que os advogados são um público conservador e que usam outras soluções tecnológicas, por isso existe uma barreira de entrada maior nesse mercado”, afirma Doneda.
“As pequenas e médias estão mais desamparadas com relação a essas novas tecnologias e, por isso, vamos focar nesse público.”
Mais um caso que passou pelo Acelera Startup foi o da empresa SmartHealth, fundada por Guilherme Ribeiro. A startup desenvolveu uma plataforma para ajudar pacientes que buscam atendimento em hospitais.
O aplicativo localiza as especialidades médicas e mostra em um mapa quais são os locais aceitos pelo convênio médico do paciente. Além disso, a ferramenta ajuda a organizar a fila de espera e realiza um pré-atendimento.
O empreendedor dinamarquês Martin Justesen acredita que o próximo passo é realizar testes. “Ele nos aconselhou a montar um piloto e levá-lo para os hospitais”, diz Ribeiro. “Além disso, ele acha que temos que conversar com médicos, pacientes e administradores sobre a nossa plataforma”.
PASSO A PASSO
Para quem não teve a oportunidade de conversar com esses gurus e está pensando em empreender, o professor Marcelo Nakagawa aconselha começar com o curso Empretec, oferecido pelo Sebrae, que ajuda os futuros empresários adquirirem habilidades essencial para o mundo dos negócios.
O próximo passo é buscar autoconhecimento. “Antes de começar uma empresa, é preciso entender quais são suas habilidades e pontos forte”, afirma Nakagawa.
Nessa fase também é importante participar de cursos, palestras e eventos sobre o tema e conversar com outros empreendedores para entender os erros e acertos mais comuns.
Por último, o professor aconselha que o empreendedor pense no problema que sua empresa irá resolver e se realmente vale pena investir tempo e dinheiro nessa ideia.