Escultura Viva, a pequena floricultura especializada em plantas carnívoras

Roberto Basile transformou a garagem de sua casa, na Pompeia, em uma loja especializada em plantas exóticas e raras

Bruna Galati - DC News
10/Mar/2025
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Escultura Viva, a pequena floricultura especializada em plantas carnívoras

Em São Paulo se encontra de tudo. Aparentemente sim. Um desses endereços únicos está na rua Cayowaá, nos limites da Pompeia com o Sumaré, no distrito de Perdizes. Ali, um empresário transformou sua paixão por plantas em um negócio que reflete o compromisso com a natureza e com a experiência do cliente.

Roberto Basile, 43 anos, é o fundador da Escultura Viva, loja especializada em plantas exóticas e raras, especialmente as carnívoras. A floricultura foi resultado de um presente inusitado de seu pai: uma dionaea, famosa pelas ‘boquinhas’ que abrem e fecham. Fascinado pelo diferente, Basile recebeu a planta exótica com entusiasmo, mas logo enfrentou dificuldades no cultivo.

Naquela época, por volta dos anos 2000, a internet oferecia poucas informações sobre cuidados específicos, e ele não conhecia outros colecionadores para trocar experiências. “Não sabia que precisava deixá-la ao sol, por exemplo. Por falta de conhecimento, acabava matando algumas plantas”, disse.

Apesar dos desafios iniciais, seu fascínio por essas plantas curiosas só aumentou com o passar dos anos. Mas foi somente em 2018 que Basile investiu seriamente no hobby. Transformou a garagem de casa em um pequeno espaço dedicado ao cultivo de plantas carnívoras. Com apoio de amigos e da mãe, começou a construir o que se tornaria a Escultura Viva.

A experiência como designer gráfico e publicitário foi fundamental. Ele cuidou de todos os detalhes visuais do negócio, desde a criação dos cartões e folhetos até a pintura e reforma do local. O nome Escultura Viva reflete perfeitamente sua visão: cada planta é uma verdadeira obra de arte da natureza, com formas e cores.

No início da Escultura Viva, Basile enfrentou desafios comuns a qualquer novo negócio, além de dificuldades específicas por ser uma das lojas pioneiras no setor de plantas carnívoras. Um dos principais obstáculos foi entender o mercado e encontrar um público-alvo para esse tipo de planta, ainda pouco conhecida. De primeira, ele se deparou com a falta de lugares que vendessem e tratassem o cultivo das carnívoras com o cuidado necessário.

“Nos gardens, você encontrava uma ou outra planta carnívora, mas elas não eram bem cuidadas e ninguém sabia explicar sobre o cultivo.” Com o tempo foi desenvolvendo estratégias para driblar as dificuldades, como construir a sua própria estufa.

Mesmo com o crescimento gradual, a gestão da Escultura Viva permanece familiar. É uma microloja. A mãe de Basile, aos 81 anos, continua auxiliando no atendimento presencial, enquanto ele cuida de todas as demais etapas, desde a produção das plantas até as vendas e o atendimento por WhatsApp e no site. E faz um detalhado pós-venda: se mantém disponível para orientar os clientes, compartilhando dicas para que o cultivo tenha bons resultados.

Basile já planeja expandir a operação. Pretende contratar um funcionário e aumentar a produção própria, indo além da multiplicação de mudas por divisão que já realiza. Ele estuda adotar a técnica de cultivo in vitro, que permite acelerar o processo.

Por enquanto, a Escultura Viva fatura mensalmente cerca de R$ 7 mil, com picos que chegam a R$ 9 mil. É uma operação bem artesanal, desde a montagem dos terrários até a produção de vasos com designs exclusivos, como vidros da Indonésia derretidos em troncos de madeira.

Logística

Para as entregas de plantas, o empresário utiliza métodos variados, adaptando-se às necessidades de cada cliente e à localização. As entregas em bairros próximos à loja ele mesmo realiza, muitas vezes utilizando transporte público – o metrô Vila Madalena fica a três quarteirões – ou serviço de aplicativos.

Quando as encomendas são de outras cidades do interior ou estados, o envio ocorre via Sedex ou transportadoras, com os custos calculados e comunicados previamente ao cliente.

Basile também destaca o cuidado meticuloso com o embalo das plantas para garantir que cheguem em perfeitas condições, mesmo em viagens longas. Ele utiliza materiais como garrafas PET e invólucros plásticos para protegê-las e para que permaneçam úmidas. O empresário aprendeu ao longo do tempo as técnicas adequadas para embalar as espécies. Algumas plantas conseguem ficar até 20 dias na caixa, sem luz, quando bem acondicionadas. O cliente recebe o código de rastreio para acompanhar a entrega.

Apesar de o Brasil abrigar uma diversidade significativa de plantas carnívoras, segundo Basile são aproximadamente 140 espécies, a maioria das que ele cultiva e comercializa na Escultura Viva é originária de outras partes do mundo. Elas vêm de extremos como Filipinas, Indonésia, Austrália e América do Norte.

De acordo com ele, as plantas carnívoras brasileiras são relativamente menores e apresentam flores delicadas, mas em menor quantidade em relação às de fora. “Essas plantas brasileiras são belas, mas acabam não sendo o foco principal. Os clientes buscam plantas com visuais mais marcantes e armadilhas maiores.”

A clientela da Escultura Viva, aliás, é bem diversificada. Quando abriu a loja, Basile tinha receio de não encontrar um público específico, mas logo percebeu que suas plantas carnívoras atraíam tanto colecionadores apaixonados quanto curiosos em busca de presentes diferenciados. Mas surgiu um público em particular que Basile não imaginava encontrar: crianças.

E também percebeu um interesse especial de crianças autistas, que tendem a desenvolver hiperfoco e, em alguns casos, se dedicam ao cultivo de plantas com grande atenção e envolvimento. “Eu estimulo bastante esse interesse vindo de todas as crianças. Porque ao cuidar das plantas ela aprende a ser responsável”, afirmou. “Além de ser uma opção às telas de computador e celular.”

 

IMAGEM: Bruna Galati/DC News

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