"Efeitos especiais" derrubam avaliação do prefeito Haddad em SP

Datafolha revela que 49% o consideram ruim ou péssimo. Ciclovias e fechamento da Paulista dividem opiniões em dois blocos

João Batista Natali
02/Nov/2015
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"Efeitos especiais" derrubam avaliação do prefeito Haddad em SP

Fernando Haddad (PT) recebeu do Datafolha uma má notícia aos seus planos de se reeleger em 2016 para a Prefeitura de São Paulo.

Segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira (02/11), sua administração é considerada ruim ou péssima por 49% dos paulistanos - o índice era de 44% em fevereiro último e de 28% em setembro do ano passado - enquanto as ciclovias, a redução generalizada da velocidade  e o fechamento aos domingos da avenida Paulista dividem a população em partes praticamente iguais.

O apoio às ciclovias caiu de 80% em setembro de 2014 para 56% (hoje 39% são contra). A redução da velocidade nas principais vias deu empate de 47% entre os que são favoráveis ou contrários. O fechamento da Paulista tem 47% apoiando e 43% se opondo.

Os resultados da pesquisa são uma ducha de água fria para o prefeito. Sua reeleição em 2016 que já se mostrava difícil, em razão do desprestígio que os escândalos de corrupção na esfera federal passaram a dar ao Partido dos Trabalhadores.

A queda na aprovação, e o aumento da oposição, a medidas de grande impacto na opinião pública e baixos custos orçamentários também coincidem com os resultados pífios em ações como construção de creches, ampliação dos corredores de ônibus, construção de casas populares e abertura de postos de saúde.

A Folha de S. Paulo publicou há semanas que em relação às creches e aos setores da saúde e habitação o prefeito havia cumprido apenas um terço das promessas de campanha em áreas da periferia.

Ele na época respondeu que foi obrigado a desacelerar seus planos porque o governo federal não havia feito os repasses necessários.

Não são, entretanto, repasses obrigatórios, como os do Fundo de Participação dos Estados e Municípios - em que a União distribui parte do que arrecada. Tratava-se de investimentos federais no Município de São Paulo, que caíram brutalmente diante das dificuldades fiscais do governo da presidente Dilma Rousseff.

Uma das interpretações possíveis para o fato de as torneiras de recursos estarem agora mais secas é de que o Fernando Haddad candidato, em 2014, não limitou suas promessas àquelas que pudessem ser financiadas com o dinheiro arrecadado pela Prefeitura. Ele também contava com o dinheiro que seria investido pela União.

Isso teria dado certo se não fosse pela atual crise, provocada pelo esgotamento do modelo "desenvolvimentista" de Dilma-1 e pelos gstos excessivos do governo dela para se reeleger no ano passado.

Mas é também a demonstração de que o voto "casado" (Dilma para presidente, e Haddad para prefeito) era um dos objetivos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurava alcançar junto ao eleitorado paulistano.

Lula se empenhou superlativamente na eleição à prefeitura de seu ex-ministro da Educação. Transformou-se em âncora dele do programa pelo rádio no horário eleitoral gratuíto. E apresentou como prova de uma futura administração positiva a abundância de recursos que Haddad receberia de Brasília.

É cedo para uma avaliação em conjunto daquilo que o prefeito de São Paulo conseguiu realizar. Mas o que parece bastante nítido é que ele, sem dinheiro para o fundamental, acabou queimando alguns cartuchos para uma administração cheia de "efeitos especiais".

Dois exemplos. O empresariado não foi consultado com relação à redução, em até 50 km/hora, da velocidade nas marginais, o que seria mais que sensato, na medida em que são corredores para o transporte de mercadorias.

Quanto às ciclovias, elas caíram na vala aberta pelo PT e na qual tudo se divide entre "direita" e "esquerda". Historicamente, no entanto, essa visão é de uma miopia brutal.

Tem-se notícias de ciclovias já por volta de 1915, na cidade americana de Detroit, quando os operários chegavvam de bicicleta às primeiras montadoras de automóvel. Existiram também ciclovias em Amsterdã durante a ocupação nazista, para que ciclistas não atrapalhassem as vias pelas quais o Exército alemão exigia prioridade.

Mais recentemente, em Nova York, o processo de consultas da população sobre a ciclovias durou sete anos e foi operado por um prefeito conservador, do Partido Republicano. Em Paris, ao contrário, a demorada consulta sobre um projeto semelhante teve como artífice um prefeito do Partido Socialista.

Mas em São Paulo, sobretudo em razão das redes sociais, Haddad ganhou o retrato de um vanguardista, de um "prefeito do futuro" ao implementar alguns planos de grande efeito no noticiário, mas que não havia discutido com os eleitores durante sua campanha eleitoral de 2014. Essa forma de discussão ocorreu em Paris e Nova York.

Mesmo a questão da redução da velocidade se ideologizou e provocou polarizações. Partidários de Haddad qualificam de "coxinhas", nas redes sociais, quem acredita que nas marginais o número de acidentes diminuiu em razão da crise econômica que reduziu o número de veículos de carga em circulação.

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