Dinheiro para crescer existe. Conheça a Desenvolve SP
Especializada em PMEs, a agência paulista de fomento financia projetos de investimento para ampliar e modernizar empresas. Para o presidente Milton Santos (foto), inovação e startups ganham cada vez mais espaço
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O termo fomento faz parte do vocabulário das médias e grandes empresas e nem tanto das pequenas.
Por se tratar de instituições financeiras, as agências de fomento têm mecanismos trabalhosos de acesso, que costumam desanimar os pequenos empresários. A maioria nem se dá ao trabalho de conhecê-las.
Criadas com a finalidade de impulsionar o desenvolvimento de um setor ou de uma região com crédito de longo prazo e taxas mínimas, seguem as mesmas regras que regulam o sistema financeiro. Exemplos são o BNDES e a Finep, do governo federal, e o IFC, do Banco Mundial.
No entanto, as agências (ou bancos de desenvolvimento) não existem apenas para os grandes projetos públicos e privados.
Menos conhecidas, as instituições especializadas em pequenas e médias empresas constituem um caminho atraente para quem busca financiamento para crescer ou inovar.
Em operação desde 2009, a Desenvolve SP ou Agência de Desenvolvimento Paulista é uma instituição financeira aberta pelo Governo do Estado de São Paulo.
Como principal acionista, o governo paulista colocou R$ 1 bilhão de capital próprio à disposição das operações do banco.
“Trabalhamos como instituição de fomento financeiro e como repassadora de recursos”, disse Milton Luiz de Melo Santos, presidente da agência. “Todas as nossas operações são regidas pelas regras do Banco Central.”
Assim como as regras, a supervisão de suas atividades também cabe ao BC. Entre os requisitos mínimos, a instituição é regida por uma estrutura de conselhos, cujos membros precisam ter a indicação aprovada pelo Banco Central.
Entre os destaques da Desenvolve SP, está o apoio às startups, feito pelo caminho do financiamento ou pela aquisição de participação societária na empresa.
O presidente da Desenvolve SP será um dos palestrantes no Fórum Empreendedor 2016, promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) com o tema Vencendo a Crise.
Na manhã de 27 de outubro, ele irá dialogar com empreendedores e executivos no painel de finanças e investimentos. Quem estiver interessado pode se inscrever agora no site do evento clicando aqui.
Em entrevista ao Diário do Comércio, Milton Luiz de Melo Santos explica como a agência atua e quais as condições de financiamento para as PMEs.
Quais as principais diretrizes da agência paulista de fomento?
A Desenvolve SP atende as empresas instaladas e com sede no Estado de São Paulo, pois se destina a beneficiar a economia local e regional.
Temos como prioridade as de porte micro, pequeno e médio, com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 300 milhões, estabelecidas nos setores de indústria, comércio, serviços e agronegócio.
Para empresas com faturamento superior a R$ 300 milhões, a agência trabalha apenas como agente repassador das linhas de financiamento com recursos de terceiros.
Além das empresas, destinamos recursos para as prefeituras e os órgãos da administração direta e indireta dos municípios. Nesse caso, são utilizadas as linhas de financiamento específicas para o setor público.
Quais as fontes de financiamento utilizadas, além do capital próprio?
A agência opera por meio de programas de governo, linhas de financiamento, fundos de desenvolvimento, fundos de investimento e parcerias.
Trabalhamos em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na oferta de linhas de crédito vinculadas.
São as destinadas financiar os projetos de investimento em ampliações e modernizações, a aquisição de máquinas e equipamentos. Nas linhas de financiamento dirigidas para a inovação, contamos com o apoio de outras instituições.
Uma dúvida comum se refere à confusão entre a agência de fomento e um banco comercial. Qual a diferença?
Não captamos recursos junto ao público e não prestamos nenhum serviço de crédito pessoal ou capital de giro, por exemplo.
A finalidade de nossos recursos é bem clara: financiar projetos que melhorem o desempenho do negócio e se revertam em benefícios para a sociedade, como aumento de produtividade, inovação, emprego e renda.
Há poucas instituições especializadas em PMEs. Em sete anos de atividades, como aprenderam a direcionar os recursos e obter escala?
Com o tempo, fomos conhecendo melhor as particularidades que cada região apresentava, identificamos as vocações e conseguimos definir as cadeias produtivas mais importantes.
Estudamos os principais atores de cada cadeia e utilizamos sua capilaridade com fornecedores e clientes para criar mecanismos de financiamento. Fizemos isso em convênio com o Sebrae.
Por meio desse método, temos maior controle sobre o nível de capacitação das empresas beneficiadas.
Damos preferência a empreendedores que passaram por treinamento e tem o conhecimento necessário para fazer bom uso do crédito dirigido.
Nos últimos anos, a agência aumentou os recursos destinados a projetos de inovação. Como chegam às startups e às empresas que investem em inovação?
Na análise das cadeias produtivas, acabamos nos defrontando com os parques tecnológicos que o Estado de São Paulo disponibiliza e com as incubadoras.
Conseguimos chegar a um número expressivo de startups, muitas saídas da academia. Em 2012, criamos o programa Inova SP, com linhas de financiamento exclusivas para inovação, seja em produtos, serviços ou processos.
Temos a estratégia de fortalecer progressivamente esse apoio. Em 2016, ampliamos em 130% o aporte de recursos em inovação.
Existem campos prioritários para receber estes financiamentos?
Entramos no campo de venture capital com aporte em cinco Fundos de Investimento em Participações (FIP) e, nesse caso, há especialização na destinação dos créditos.
No total são R$ 534 milhões em capital, sendo R$ 105 milhões do Fundo Inovação Paulista, idealizado pela Desenvolve SP. Todos seguem as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), têm gestão independente e especializada e visão de fomento.
Esses profissionais prospectam os projetos inovadores para os fundos. Algumas linhas têm o benefício do juro zero.
O Fundo Inovação Paulista, fruto de parceria com Fapesp, Finep, Sebrae-SP e a Corporación Andina de Fomento (CAF), dá preferência a segmentos de ponta, como biotecnologia, nanotecnologia e tecnologias limpas.
Os outros quatro se destinam ao setor aeroespacial, petróleo e gás, de saúde e ciências da vida. Ou a estimular a profissionalização e o aperfeiçoamento da gestão e da governança de empresas com perfil inovador. Entre os investidores, estão a Embraer, BNDES, BID, Pfizer e BBI Financial.
As empresas da economia criativa fazem parte da carteira de investimentos da agência?
A agência promoveu algumas ações neste novo mercado, como no segmento de jogos eletrônicos, para aproximar esses empresários das fontes de financiamento. Mas nos deparamos com um obstáculo, um grau de informalidade enorme.
Há um fosso entre a economia criativa e as formalidades obrigatórias para as instituições financeiras. Os empreendedores têm dificuldade para apresentar documentos e um plano de negócios e de investimentos que ajudem a formalizar o projeto. Temos um espaço enorme para investir na preparação desses jovens.
Como os financiamentos para municípios se encaixam nas diretrizes da Desenvolve SP?
Selecionamos projetos de infraestrutura que tragam benefícios para o cidadão e para as empresas. Os recursos são dirigidos para a construção de distritos industriais, de centros de lazer e turismo ou de turismo de negócios, obras de meio ambiente, tratamento de água e esgoto, iluminação pública. Temos 260 municípios beneficiados no estado, seja por crédito para as empresas ou para a prefeitura.
A sustentabilidade faz parte dos fundamentos da agência. Como se aplica?
A agência tem uma política de responsabilidade socioambiental aprovada pelo Conselho de Administração, conforme a regulamentação do Banco Central.
As regras estão inseridas no modelo de análise de crédito e de contratação de serviços. Olhamos muito o projeto e a empresa, para estabelecer o impacto do setor em que atua, como a exigência de certidões e documentos relacionados ao projeto.
Além disso, a agência tem produtos específicos de financiamento para projetos de substituição de tecnologia que beneficiem a economia verde e atendam as preocupações com as mudanças climáticas.
Sendo uma atividade que envolve capital de risco, a inadimplência representa um dificultador?
Quem atua com agência de fomento sabe que o risco é maior e inerente ao setor. No entanto, hoje temos um nível mais baixo de inadimplência do que a média do mercado. Enquanto o Banco Central informou um índice de 5%, a agência está agora com 3%.
Houve mudanças no humor das empresas após as recentes decisões no cenário político-econômico?
Percebemos que muitas empresas, que haviam colocado os projetos de lado em 2015, voltaram a fazer consultas sobre as linhas de investimento.
Os empresários querem estar preparados para quando a economia normalizar. Tivemos uma queda de 24% no desembolso de recursos em relação ao primeiro semestre de 2015.
Acreditamos que haverá uma retomada suave dos investimentos no segundo semestre. Isto acontecerá em todos os níveis. Deverá haver um novo fluxo de capital estrangeiro, pois há uma oferta gigantesca de dólares no mundo. Falta o Brasil mostrar que superou essa fase crítica.