Crise chega à Oscar Freire e lojas famosas apostam em promoções
Na rua de comércio mais badalada do Jardins e na João Cachoeira, no Itaim, lojistas apostam em liquidações para salvar o Natal

Conhecida por reunir redes de lojas de marcas famosas e de luxo – as chamadas flagships -, a Oscar Freire é um dos principais redutos do comércio de rua de São Paulo.
Ela reúne estabelecimentos de moda badalados como a Dumond, Track & Field, Aramis, Riachuelo, Calvin Klein, Animale, Diesel, Boutique Nespresso, entre muitos outros, e já foi eleita a oitava via mais luxuosa do mundo.
Quem escolhe esse endereço para fazer as compras de fim de ano, normalmente não se importa com o preço. Costumava ser assim, mas isso mudou.
Nos últimos meses, os efeitos do dinheiro escasso bateram às portas da região. Ponto de encontro de celebridades da cidade, a Oscar Freire agora também tem de conviver com algo raro: os anúncios de liquidação.
Repaginada, a rua passou por ampla reforma em 2006, ao custo de R$ 8,5 milhões. As obras incluíram o enterramento da fiação elétrica entre as ruas Melo Alves e Padre João Manoel, o nivelamento das calçadas e a padronização do mobiliário urbano. A rua foi transformada em um shopping a céu aberto.
O desfile de mulheres e homens elegantes e endinheirados ainda pode ser notado por lá. Mas agora estes consumidores de alto poder aquisitivo se deparam com grandes faixas nas fachadas das lojas, oferecendo seus produtos por preços bem mais baixos.
No caso da Timberland, que vende sapatos e jaquetas de couro masculinos, os produtos são vendidos com um desconto de 50%.
Márcio Baccalá, gerente da loja, reclama do movimento.
“Está fraco”. Mas tem esperança de que tudo melhore na última semana antes do Natal. Coloca todas suas expectativas na faixa que mandou fixar logo na entrada do estabelecimento, onde se lê: Sale 50%.
“Coloquei esta faixa aí há cinco minutos. Tenho certeza de que o movimento vai melhorar”, disse na última quinta-feira (15/12).
A estratégia também foi adotada por outros comerciantes, como a da grife de sapatos, bolsas e roupas femininas Carmen Sttefens.
“O movimento este ano está bem mais fraco do que em outros anos. Vamos ver se esta promoção ajuda a aumentar as vendas”, afirma Fábia, gerente da loja, que não quis revelar o sobrenome.
O motivo da esperança de Fábia é o anúncio “Black December – 50% de desconto”, visível logo na entrada da loja.
Mas não são só as faixas de liquidação que unem os lojistas neste momento de penúria econômica. Os comerciantes também reclamam da Associação dos Lojistas da Rua Oscar Freire. Segundo eles, a entidade abandonou completamente a via neste fim de ano. A reclamação principal é por causa da falta de decoração natalina.
“Em outros anos, até um tapete vermelho enorme, entre as ruas Melo Alves e Augusta, era colocado aqui. Agora, não houve decoração e não há nada que lembre que estamos às vésperas do Natal”, disse Márcio Baccalá. O gerente da Timberland lembra que a loja paga R$ 400,00 mensais à associação.
A mesma reclamação foi feita por Leônidas Henrique de Macena, gerente da Dumond, loja de sapatos femininos.
“Este ano nenhum enfeite foi colocado na rua. Além disso, as calçadas estão cheias de buracos. É um absurdo que isto aconteça na Oscar Freire, uma das ruas mais conhecidas do mundo”, afirma o gerente da Dumond.
Jamile Ribeiro, coordenadora de marketing da Associação dos Lojistas da Oscar Freire, disse que a decoração de Natal não foi feita este ano por falta de dinheiro.
“Não conseguimos nenhum patrocinador para arcar com os gastos. Corremos atrás e não conseguimos suporte financeiro para decorar a rua. Este ano não temos nem o Natal iluminado, que é feito pela prefeitura, não só na Oscar Freire, mas também em outras ruas importantes da cidade”, afirmou Jamile.
Ela explica que em anos anteriores a iniciativa privada se encarregava de decorar a rua. Instituições financeiras como o Santander e o Bradesco assumiam os custos. Como contrapartida, ganhavam espaços na rua para expor suas marcas.
“Infelizmente a crise este ano impediu que houvesse decoração de Natal”, disse Jamile.
JOÃO CACHOEIRA
Nem tão luxuosa quanto a Oscar Freire, mas que também passou por uma ampla reforma, que a transformou em “shopping a céu aberto”, a Rua João Cachoeira, no Itaim Bibi, entre as ruas Jesuíno Arruda e Leopoldo Couto Magalhães, atende os clientes que querem fazer suas compras de maneira tranquila, sem os atropelos que enfrentariam, por exemplo, na José Paulino, no Bom Retiro.
E, o mais importante, as lojas da João Cachoeira procuram ofertar itens a um preço menor do que a maioria das lojas de shoppings.
Lá, as consumidoras que vão atrás de preços baixos podem encontrar saia longa, na altura do joelho ou mini, com estampa ou não, com preços que variam de R$ 70,00 a R$ 100,00. Jeans femininos ou masculinos, de R$ 80,00 a R$ 150,00.
E, assim como na Oscar Freire, os comerciantes que desejam atrair mais clientes no Natal da crise também estão tendo de fazer promoções.
Para ganhar o cliente, vale até fazer liquidações de marcas famosas. A Delon, lojas de roupas masculinas colocou em sua porta a faixa com os dizeres “Quinzena Calvin Klein – 30% de desconto”.
Sidney dos Santos, gerente da Delon há 15 anos, festeja o resultado da liquidação.
“Temos várias marcas de camisas, calças e bermudas. Mas a que está vendendo mais é a polo Calvin Klein, com 30% de desconto”, afirma.
Com a promoção, uma camisa polo Calvin Klein que custava R$ 169,00 sai por R$ 118,00. “A liquidação está dando resultado”, diz.
FOTO: Wladimir Miranda