Como Rufino se tornou o showman da simplicidade
Na infância, Geraldo Rufino foi catador de sucata. Hoje, o empresário é presidente do conselho da JR Diesel, empresa que fundou em 1985 e que fatura mais de R$ 50 milhões a cada ano reciclando caminhões
A vida do empreendedor Geraldo Rufino costuma ser contada como uma sequência de altos e baixos.
O fundador da JR Diesel, empresa especializada em desmonte de caminhões, gosta de narrar todas as vezes que quebrou um negócio. Ao todo, foram seis idas à lona.
O último colapso se deu em meados de 2002, quando o empreendedor se uniu a um grupo americano para criar uma rede de concessionárias de caminhões.
A parceria não deu certo. Os investidores saíram do negócio e a conta da presepada, uma dívida de R$ 16 milhões, ficou nas mãos de Rufino.
A alternativa para reerguer a empresa foi se concentrar novamente na reciclagem de caminhões.
O mercado foi criado pela própria JR Diesel em 1985, quando Rufino desenvolveu um modelo de compra de veículos danificados para revender as peças internas. Foi a formalização dos populares desmanches.
Hoje, a empresa fatura aproximadamente R$ 50 milhões anuais e possui capacidade de desmontar 1.000 veículos por ano.
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Rufino foi um dos principais palestrantes da Feira do Empreendedor, realizada recentemente pelo Sebrae na capital paulista. Entre parte dos 140 mil entusiastas do empreendedorismo que participaram do evento, o empresário é um ídolo.
Em sua palestra, que não segue roteiro algum, ele costuma evocar palavras como “simplicidade”, “família” e “força de vontade”.
Quando desejar transmitir uma mensagem mais contundente, como a que “o empreendedor não pode terceirizar sua culpa, pois é o único responsável pelo seu sucesso”, Rufino costuma bater forte no peito.
Outra característica marcante é o sorriso constante. Ele afirma ser uma “pessoa incansavelmente feliz”. E o entusiasmo é contagiante. A cada frase motivadora, aplausos emergiam da plateia. Muitos fotografavam como se estivessem num show de uma estrela do rock.
A informalidade também se faz presente em seu vocabulário, repleto de palavrões e piadas consigo mesmo.
Ao responder dúvidas da plateia, Rufino teceu comentários inspiracionais.
Como conquistar clientes?
“Antes de enxergar um possível cliente, o empreendedor precisa enxergar a pessoa que está do outro lado como se fosse uma criança que busca novas amizades”, disse Rufino. “Um sorriso contagia e cria relacionamento.”
E como lidar com o medo que inibe quem arrisca empreender?
“Medo deve ser um sistema de ABS, que nos protege”, disse. “Jamais um freio de mão usado por insegurança e que nos trava.”
Nas palavras de Rufino, o empreendedor deve usar seus receios para buscar um equilíbrio entre o risco e a responsabilidade.
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O CATADOR DE SONHOS
Hoje, Rufino não está no dia a dia dos negócios. Ele mantém o cargo de presidente do conselho da JR Diesel e atua como embaixador da marca.
O empreendedor popular está constantemente na mídia. Já foi entrevistado por Jô Soares e João Doria – o atual prefeito de São Paulo foi o criador e apresentador do programa Show Business.
A imagem do showman foi forjada sobre a sua história de superação, relatada na autobiografia "O Catador de Sonhos", publicada em 2016.
O título da obra remete à sua infância. Entre os nove e onze anos, Rufino foi catador de sucata num lixão localizado próximo à Favela do Sapé, na zona oeste de São Paulo, onde morou com o pai e os irmãos ao migrar, ainda criança, de Minas Gerais.
Sua mãe, sua grande referência, morreu quando ele contava apenas sete anos.
O lixão foi o cenário de seu primeiro empreendimento. Rufino vendia latinhas. Parte das receitas era enterrada no aterro. O banco improvisado foi a razão de sua primeira falência.
Certo dia, após voltar da escola, ele descobriu que o terreno havia sido vendido e máquinas haviam removido parte dos resíduos – e lá se foi seu dinheirinho.
Posteriormente, ele teve a ideia de montar um campo de futebol num terreno da Prefeitura. Conseguiu uma autorização do poder municipal, comprou traves e uniformes e passou a locar o espaço para jogadores amadores da região.
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Na adolescência, Rufino trabalhou no Playcenter, conhecido parque de diversão paulista. Começou como office-boy e, quinze anos depois, era gerente de operações. Enquanto executivo, Rufino montou uma pequena frota de caminhões para transportar adubos.
O negócio era tocado por seus irmãos. Um dia, os veículos se envolveram num acidente e o conserto ficou inviável devido o alto custo.
A solução foi desmontar os caminhões à mão e vender as peças. A opção se mostrou lucrativa e Rufino, então, criou a JR Diesel.
Nos últimos anos, a JR Diesel foi beneficiada pela Lei dos Desmanches, sancionada em 2014.
A lei determina que as empresas que desmontam veículos sejam credenciadas no Detran, utilize etiquetas que atestem a origem dos produtos e gere notas fiscais eletrônicas.
Devido à experiência precoce no setor, a empresa se tornou a maior empresa de reciclagem de caminhões no Brasil.
De acordo com a consultoria alemã Roland Berger, setor brasileiro de reposição de peças automotivas movimentou R$ 23 bilhões em 2014. A estimativa é que o mercado atinja R$ 85 bilhões até 2020.
FOTOS: Cris Castello Branco/Sebrae-SP