Brasil vive nova onda de entrada de marcas estrangeiras
Loewe, Le Labo e Rip´n´Dip acabam de abrir lojas no país. Comme des Garçons e Alo Yoga se preparam para estrear em 2025, assim como a H&M. É para ficar ou apenas testar o mercado?

De tempos em tempos, o Brasil vive ondas de entrada e de saída de grifes estrangeiras. Na maioria das vezes, as razões estão associadas à performance da economia brasileira.
Neste momento, o movimento é o de chegada de marcas internacionais, justamente quando alguns indicadores econômicos, como emprego e inflação, estão mais favoráveis ao consumo.
Depois que a rede de moda sueca H&M anunciou, para 2025, a inauguração de uma loja no shopping Iguatemi São Paulo, parece que outras marcas decidiram seguir o rastro.
A Loewe, grife espanhola que pertence ao grupo francês LVMH, especializada em moda feminina, bolsas, sapatos e acessórios, acaba de estrear no shopping Iguatemi.
Criada em 1846 e comandada desde 2013 por Jonathan Anderson, a Loewe possui um estilo de moda baseado em artesanato e cultura.
A Le Labo Fragrances, marca de perfumes de Nova York, é outra que chegou ao país e também no shopping Iguatemi.
A perfumaria oferece coleções de perfumes, velas e produtos para cuidados com o corpo e se prepara para que clientes possam personalizar os seus perfumes, assim como nos EUA.

No exterior, os dog walkers (passeadores de cães), considerados "descolados", são o perfil de contratação da empresa para trabalhar como vendedores, o que deve ser repetido por aqui.
No bairro de Pinheiros, em São Paulo, chegou a californiana Rip´n´Dip´, criada por Ryan O´Connor, em 2009, que já causou fila de clientes na porta.
Com foco na moda chamada de streetwear, as peças têm estampas consideradas irreverentes, marcadas com o símbolo do gatinho sarcástico Nermal.

2025
Vem mais novidades por aí. A marca japonesa Comme des Garçons, conhecida pela sigla CDG, fundada e dirigida pelo estilista Rei Kawakubo, deve estrear no país em maio de 2025.
Fundada em 1973, a CDG tem a sua principal loja em Aoyama, um bairro nobre de Tóquio, no Japão. O Brasil foi escolhido para sediar a primeira unidade na América do Sul.

Outras marcas estão em fase de prospecção ou negociando pontos. Uma delas é a Alo Yoga, varejista norte-americana de roupas esportivas, com sede em Los Angeles, nos EUA.
Criada em 2007 por Danny Harris e Marco DeGeorge, a marca surgiu para divulgar o bem-estar por meio do Yoga e acabou expandindo os negócios para o mundo da moda.
A modelo brasileira Maria Klaumann, da Mega Models, acaba de ser contratada pela marca e já foi fotografada pelo chileno Sebastian Sabal com looks nas ruas de Nova York.
BRASIL ENTROU NA ROTA
“Após a ressaca de mais de 15 anos, dá para dizer que o Brasil entrou na rota das marcas internacionais em vários setores, como moda, alimentação, material esportivo”, afirma Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).
Não dá para negar que um forte empurrão, diz ele, foi dado pela varejista H&M. De início, a rede quer abrir lojas em capitais da região Sudeste para, em seguida, avançar pelo país.
“O mundo ficou pequeno para algumas marcas. Nos países de primeiro mundo, que foram o foco da expansão de grandes grifes, o que tinha de abrir já abriu”, diz.
Além do grande potencial de mercado, diz, o Brasil vive de fato uma democracia, um critério importante para a decisão de empresas que buscam crescer em novos mercados.
O Brasil também está longe do palco das guerras e, mesmo tendo boa parte da população pobre, diz, tem uma classe média forte que, sozinha, equivale à de muitos países.
Caio Camargo, consultor de varejo, diz que os mercados norte-americano e europeu estão estagnados e os emergentes, como consequência, estão virando estratégia para a expansão.
“No passado, o foco era Argentina e Peru. Hoje, o Brasil é a bola da vez, com um mercado mais seguro, ainda mais depois que a H&M anunciou que vem para cá.”
ANÁLISE
Durante e logo após a pandemia, com as restrições às viagens ao exterior, as grifes de luxo e também de luxo acessível se surpreenderam com o arranque nas vendas.
Um empresário do setor de luxo, que prefere não se identificar, afirma que o crescimento nas vendas, dependendo da marca, cresceu de 5% a 35% nos últimos anos no Brasil.
Esse, em sua avaliação, é um dos principais motivos da entrada de novas marcas estrangeiras no Brasil, além, evidentemente, da perspectiva de melhora de fundamentos econômicos.
“Também é preciso dizer que as marcas que estão vindo são, especialmente, as mais novatas, que desconhecem o mercado brasileiro e desejam, por enquanto, fazer uma experiência de mercado. Na maioria das vezes, elas entram com operadores locais, não sozinhas.”
Grifes internacionais que já estiveram por aqui e foram embora ou que estão até de olho no país, diz, ainda não têm coragem, segurança de investir em subsidiárias por aqui.
“Os empresários estrangeiros têm medo de entrar em um país com estrutura fiscal complexa e desconhecida, capaz de levar a um mau desempenho dos negócios”, afirma.
As marcas estão, especialmente as de luxo, em sua maioria, sendo trazidas pelos próprios shoppings, um processo liderado pelos grupos Iguatemi e JHSF.
“Vale lembrar ainda que esses shoppings não dependem dessas marcas para sobreviver. Elas funcionam mais como bibelôs, para enfeitar os corredores”, diz o empresário.
São marcas também que, muitas vezes, diz, acabam ficando presas nos centros comerciais, pois não têm política de preço para escalar o negócio para todo o país.
Esse é justamente um dos motivos, de acordo com o empresário, que levaram muitas grifes a desistir do mercado brasileiro no passado.
A Longchamp, que esteve por dez anos no Brasil (saiu em 2017) e, quando chegou, a clientela teve de ficar na fila para adquirir alguns modelos de bolsas, é um exemplo.
A lista está na casa de dezenas. Outras marcas de luxo ou não que vieram e saíram são Versace, Ralph Lauren, Piaget, Vacheron Constantin, Kate Spade, Tissot, Swatch, Fred Perry, Lanvin, Accessorize, Topshop.
No caso da H&M, parece que não será uma operação robusta como a da Zara, dizem especialistas em varejo, porém, a marca tem um potencial grande de crescimento.
A onda de entrada de marcas estrangeiras no país está sendo sentida não apenas em São Paulo, mas também na região Centro-Oeste, como em Goiânia (GO).
João Ricardo Gusmão, superintendente do shopping Flamboyant, inaugurado em 1981, diz que o centro comercial já deu início a estudos para expansão de área, justamente para dar conta da demanda de marcas internacionais e nacionais.
“Goiás é um Estado que está se desenvolvendo muito por conta do agronegócio. Desde antes da pandemia, já havia este movimento de interesse de estrangeiras no nosso mercado”, diz.
Com 63 mil metros quadrados de ABL e 260 lojas, o shopping, que está totalmente ocupado, já possui marcas como Louis Vuitton, Gucci, Armani, Dolce & Gabbana, Hugo Boss.
Recentemente, inaugurou uma loja da Chanel. “Estamos conversando com várias marcas do mesmo perfil dessas e de vários segmentos”, afirma Gusmão.
LUXO X POPULAR
Maurício Morgado, coordenador do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGVcev), diz que, bem ou mal, grifes de luxo têm pouca representatividade no varejo brasileiro, especialmente se o foco for a venda para quem não está preocupado com preço.
“Agora, fico interessado em saber como será o desempenho de marcas estrangeiras mais populares, como a H&M. Essa, sim, quero saber se vai ou não incomodar o varejo. Se chegar com preço acima do que o de fora, vai ter de tratar o mercado brasileiro de outro jeito”, diz.
O dia a dia de marcas fortes internacionais pressupõe, diz, a exploração de novos mercados.
“Não podemos dizer que o Brasil está ruim ou que está a mil maravilhas. Os indicadores econômicos são favoráveis, mas a questão do dólar pode ser prejudicial para as marcas.”
A expectativa que envolve especialistas em varejo e lojistas é se a H&M e outras que virão serão capazes de se estabelecer de vez no Brasil, assim como outras que chegaram e transformaram o mercado brasileiro, como as francesas Decathlon e Leroy Merlin. A ver.
IMAGENS: divulgação