Acessibilidade e inovação nos negócios
‘Acessibilidade deve ser contemplada e incorporada by design desde a concepção, da gênese de qualquer projeto’

*Cid Torquato é CEO do ICOM e ex-secretário municipal da Pessoa com Deficiência em São Paulo
Primeiramente, é com grande honra que escrevo para este importante veículo de informação sobre os principais acontecimentos da nossa Associação Comercial de São Paulo. Quero compartilhar com minhas e meus colegas associados conhecimento prático sobre acessibilidade, direitos e protagonismo das pessoas com deficiência nas relações de consumo e na sociedade como um todo.
Meu histórico de parceria com o "ecossistema" ACSP começou em 2021, quando também me associei a esta entidade centenária, pensando, justamente, em contribuir com minhas experiências sobre negócios eletrônicos e transformação digital, agora com foco em UX e na experiência do consumidor com deficiência! Ao longo de minha carreira, como Secretário Municipal e à frente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, interagi institucionalmente com a ACSP, mas só hoje tenho a oportunidade de conhecê-la por dentro, suas ofertas e contrapartidas, bem como a forte representatividade de seus associados.
Na verdade, vivo diariamente estas questões como tetraplégico, militante e CEO do ICOM, nossa transformadora plataforma de atendimento em Libras por videochamada!
Trabalho incansavelmente para promover o conhecimento e a valorização do conceito de acessibilidade em todas as suas formas, dimensões e aplicações. Atualmente, acessibilidade ainda é uma temática subestimada e pouco valorizada. Nosso objetivo é demonstrar que acessibilidade deve estar em um patamar de importância estratégica, transcendendo o âmbito operacional, assistencial e assistencialista, tornando-a elemento imprescindível no planejamento de empresas, governos e organizações em geral.
Neste contexto, acessibilidade deve ser contemplada e incorporada by design desde a concepção, da gênese de qualquer projeto, permeando todos os seus estágios, como um filtro ou uma nova ótica, garantindo acesso, inclusão, segurança e conforto para todos, não apenas para as pessoas com deficiência.
Hoje, ainda vemos muita gente entendendo e fazendo uso da acessibilidade como se fosse algo tópico, como uma camada de recursos acessíveis e assistivos a ser colocada na conclusão dos projetos, encarecendo e, muitas vezes, inviabilizando a acessibilização necessária!
Resumindo, o que queremos é que acessibilidade torne-se estrutural e, consequentemente, estruturante, permitindo a participação de pessoas antes excluídas, que passam a poder contribuir, potencialmente, com ideias e visões diferenciadas, inclusivas e inovadoras!
E é exatamente nesse momento que se dão as condições para que a acessibilidade fomente a inovação, sempre contemplando a participação de todos, tendo como norte o idealismo do Desenho Universal, do design para todos!
Pragmatizando, passo a dar alguns exemplos práticos para tornar o seu negócio, o seu comércio, acessível também para as pessoas com deficiência:
- seu site tem que ter acessibilidade, o que é muito fácil conseguir. Visite https://asesweb.governoeletronico.gov.br/, digite o endereço de sua página web e veja em segundos se está digitalmente acessível ou não!
- como está sua loja ou escritório em termos de acessibilidade? A ABNT NBR 9050 traz tudo o que você precisa saber para ficar dentro da lei e potencialmente ampliar sua clientela, tendo em vista os mais de 20 milhões de consumidores com deficiência!
- sensibilize e capacite seus colaboradores sobre como melhor atender e se comunicar com os consumidores com deficiências diversas. É fácil e será uma lição de vida para eles!
- contrate o ICOM (aproveito para fazer uma propaganda do bem) para atender seus novos clientes surdos, que se tornarão fiéis à sua empresa!
- contrate, se possível, profissionais com deficiência. Um negócio diverso é sem dúvida mais criativo e inovador!
- e, mais importante do que qualquer outra atitude, dispa-se dos seus preconceitos, do capacitismo estrutural! O sol nasce para todos!
Voltarei em breve com mais dicas, mas fico à disposição caso você queira trocar ideias sobre melhores práticas para um mundo muito melhor!
**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio
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