A história de Lisa Braun: "Perguntavam quem era o homem da minha empresa"

Empreendedoras já desafiaram o machismo do mundo dos negócios. Agora enfrentam os próprios demônios

Bárbara Ladeia
12/Mar/2015
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A história de Lisa Braun: "Perguntavam quem era o homem da minha empresa"

Em 1978, quando a farmacêutica abriu Lisa Braun, 60 anos, abriu seu próprio negócio, ainda era raro ver mulheres à frente de iniciativas empreendedoras.

A pouca participação das mulheres no universo empreendedor não foi suficiente para desencorajá-la de dar esse grande e arriscado passo na carreira. Abandonou o emprego em uma farmácia de manipulação, vendeu seu Fusca verde abacate e, com o dinheiro, abriu o seu pequeno empreendimento.

Aproveitou o conhecimento que ganhou com o trabalho e abriu uma farmácia de manipulação, em que ela, no melhor estilo empreendedor, fazia tudo – desde o plano de negócios até o manuseio e fabricação dos produtos. A farmácia virou uma fábrica de dermocosméticos, a primeira do país, com mais de 60 franquias abertas e 300 produtos no portfólio. Mais que isso, a Dermage é uma empresa feminina: dirigida por mulheres e com público-alvo também do gênero feminino. Atualmente, 90% da força de trabalho da empresa é composta por mulheres e sua filha, Ilana Braun, 35 anos, é a presidente da opera

LISA BRAUN: "DIZIAM QUE EU TRABALHAVA COMO UM HOMEM" 

Uma das grandes missões de Lisa nesse período foi provar para si mesma e para os seus pares que ela poderia sim empreender, mesmo sendo mãe de família. “Perguntavam para mim quem era o homem que estava por trás do meu negócio, diziam que eu trabalhava como um homem”, conta. “A participação do meu marido no negócio foi de encorajamento mesmo, me estimulando a efetivamente ‘botar para fazer’.”

Certamente, Lisa foi apenas uma das mulheres de sua época que enfrentaram os olhares enviesados sobre o empreendedorismo feminino. No entanto, é inegável que, de lá para cá, esse debate avançou – e muito. Ao contrário de sua mãe Lisa, hoje Ilana enfrenta um cenário mais amigável. Segundo levantamento da Serasa Experian, são 5,7 milhões de empresárias, o equivalente a 47% do total de empreendedores do país. 

Na GEMA Ventures, aceleradoras de startups focadas no atendimento de empresas (B2B), metade dos projetos conduzidos são de mulheres. “Não há nenhum esforço da GEMA em olhar com mais atenção os projetos vindos de mulheres”, diz Luisa Ribeiro, que comanda a empresa. “As mulheres tem marcado forte presença no mundo de startups.”

Luisa conta que há alguns traços comuns nos projetos apresentados por elas. O mais proeminente deles é o alto planejamento. “Se uma mulher está à frente da startup, pode ter certeza que o negócio foi bem pensado e planejado”, diz. Mais que isso, a flexibilidade feminina permite maior aproveitamento dos movimentos de tentativa e erro. “A mulher é mais resiliente aos erros e às dificuldades. Até para provar que é capaz de chegar lá, acaba mostrando uma garra muito maior.”

Por outro lado, toda essa luta pelo seu próprio espaço tem criado dificuldades pessoais às empreendedoras. Além de todas as questões relacionadas ao excesso de atividades e a duplicação da jornada, Kátia Campelo, consultora de comunicação e mentora Endeavor, lembra que há mudanças na autopercepção das mulheres. 

Mesmo com a autoestima mais alta e o reconhecimento das competências femininas, muitas mulheres ainda adotam posturas desfavoráveis dentro e fora do ambiente do trabalho. Kátia explica que a postura agressiva, tipicamente masculina, que um dia foi condição sine qua non para sobrevivência no mundo dos negócios, ainda gera mudanças no comportamento feminino.

“Hoje há resquícios dessa exigência numa espécie de inconsciente coletivo”, diz. “É muito freqüente ver a perda de alguns traços muito femininos, como a suavidade, a docilidade e a habilidade conciliatória – que são fundamentais durante uma negociação.”

Mais que isso, essa necessidade de comprovar que a competência não está atrelada ao gênero fez com que muitas empreendedoras e executivas se tornassem altamente centralizadoras. “Elas se preocupam em não mostrar inseguranças e confundem flexibilidade com fragilidade. Acabam não pedindo ajuda e se tornando inflexíveis.”

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