Washington Fajardo: Recuperação de centros históricos passa pela habitação

Coordenador do Cities LAB, do BID, o urbanista considera absurdo que moradores de grandes cidades sejam obrigados a viver em regiões a duas horas de seus trabalhos quando há imóveis ociosos em bairros centrais

Mariana Missiaggia
14/Mai/2025
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Washington Fajardo: Recuperação de centros históricos passa pela habitação

Controlar a expansão das cidades para as suas bordas, ter uma visão holística do espaço público e contemplar diversas faixas de renda no plano de reocupar centralidades esvaziadas são algumas das indagações levantadas pelo urbanista Washington Fajardo na hora de redesenhar o futuro próximo de algumas das grandes cidades brasileiras.

Defensor de medidas que contemplem possibilidades que vão além das impostas por um pensamento normativo, como, por exemplo, a força econômica do mercado imobiliário, Fajardo diz que a organização das cidades brasileiras repete modelos antiquados, praticados desde os anos 1930, em que o Estado é um financiador, que subsidia a produção privada.

Embora existam avanços no arcabouço jurídico urbanístico e experimentos de muita qualidade, o especialista argumenta que, em geral, a formulação sobre políticas habitacionais ainda é mal alocada, especialmente no provimento de moradia acessível.

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Para Fajardo, o afastamento de moradores e empresas dos centros urbanos é consequência da expansão do mercado imobiliário, que prioriza terrenos mais acessíveis nas periferias para novos projetos. Ele diz que, atualmente, as políticas habitacionais dão pouca atenção à formação dos preços e ao custo da alocação do capital na produção da moradia.

"Somos guiados pelas regras do mercado. É preciso ter uma visão mais holística e integrada. É absurdo que moradores de grandes cidades sejam obrigados a viver em regiões que estão a duas horas de seu trabalho. Enquanto isso, temos terras e imóveis ociosos em bairros que já tiveram relevância econômica e agora estão esvaziados", diz.

Responsável pelo Reviver Centro, um plano de recuperação criado para atrair moradores e reverter o esvaziamento da região central do Rio de Janeiro, Fajardo parte da ideia de que a habitação é um passo fundamental para reocupar centros e reativá-los como uma centralidade, onde é possível morar, trabalhar, estudar e consumir.

Especialista sênior em habitação e desenvolvimento, atualmente à frente do Cities LAB do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ele aponta que o momento é de prioridade histórica para o BID no financiamento de soluções de habitação social em toda a América Latina, com foco em buscar as melhores soluções, ancoradas em evidências e projetos bem-sucedidos.

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O urbanista argumenta que, ao trazer moradores de volta às áreas históricas esvaziadas, injeta-se vida nova nas ruas, impulsionando o comércio local, a oferta de serviços e a efervescência cultural. "A habitação é um catalisador fundamental para transformar centros decadentes em núcleos vibrantes e multifuncionais, onde as pessoas podem verdadeiramente viver a cidade, integrando moradia, trabalho, estudo e lazer", diz.

Reconhecido por sua atuação em políticas públicas para habitação social, preservação do patrimônio e regeneração de espaços urbanos na América Latina, Fajardo participou do seminário Novas Centralidades Urbanas, organizado pelo Arq.futuro, em Campinas, na última semana.

Ele também está por trás da criação do projeto Favelas 4D, desenvolvido em parceria com pesquisadores do Senseable City Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Criado para mapear a Rocinha, o projeto foi premiado internacionalmente e tem como objetivo identificar construções e ruas ou vielas da região. A partir do escaneamento, os estudiosos podem entender no detalhe a estrutura da favela e propor ações mais efetivas. Nas palavras do especialista, trata-se de um projeto com muita visibilidade fora do Brasil, porém, pouca valorização interna.

Ainda assim, ele defende que o uso dessas e de outras tecnologias na reciclagem das cidades pode, por exemplo, ressignificar áreas degradadas, imaginar novas formas de ocupação e mobilizar as pessoas em prol de melhorias de acordo com a realidade de cada cidade.

Ao sinalizar que não há uma receita pronta em busca de um projeto viável, Fajardo se diz favorável a um amplo diagnóstico dos centros esvaziados, levantando o número de prédios desocupados, patrimônio histórico existente e a definição da política para reocupação dessas regiões. Do ponto de vista do poder público, ele diz que sua atuação passa também por dotar a área central de equipamentos sociais para atrair novos moradores, nas áreas de saúde, educação e lazer.

Já do lado da iniciativa privada, a participação envolve uma mudança de visão empresarial. “As incorporadoras não sabem hoje calcular o investimento necessário e o retorno que terão ao incluir um projeto na Lei do Retrofit. Com isso, preferem não arriscar e continuam investindo na política expansionista, que já conhecem”, afirma.

 

IMAGEM: André Vieira/Prefeitura do RJ 

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