Você sabe distribuir os ovos em diferentes cestas?

A máxima de que não se deve deixar os recursos poupados em uma só aplicação também vale em ano de crise

Rejane Tamoto
16/Jun/2015
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Você sabe distribuir os ovos em diferentes cestas?

Apetite ao risco, objetivos, prazos e liquidez (possibilidade de resgate sem perda do valor). É preciso pensar nessas questões na hora de diversificar os recursos em aplicações financeiras, de forma que elas atendam a um planejamento com a melhor relação risco e retorno. Especialistas em finanças pessoais recomendam: é uma regra deve ser seguida em qualquer cenário econômico. 

O momento atual é de inflação resistente e alta, de 8,47% em 12 meses até maio, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Por isso, a taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano e o Comitê de Política Monetária do Banco Central deixou a porta aberta para novos aumentos, como medida para conter a escalada de preços. 

Na hora de dividir os ovos em diferentes cestas é preciso tomar somente o cuidado de não exagerar. 
Quem coloca os recursos em muitas aplicações diferentes pode reduzir a própria capacidade de negociação, já que as instituições financeiras oferecem as melhores taxas de retorno a quem está disposto a aplicar um montante maior de recursos. 

Por outro lado, é importante não deixar 100% dos recursos em uma só aplicação, pois isso aumenta os riscos sem que o investidor perceba. 

“Um dos clichês que circulam no mercado financeiro é de que a diversificação só serve para a pessoa física que não sabe de nada. E isso é uma armadilha, já que quem aloca todo o recurso em apenas uma aplicação corre risco de graça. É como jogar em um cassino em Las Vegas”, diz Paulo Tenani, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV) e co-autor do livro "Armadilhas de Investimento". 

Um consenso entre especialistas é que a liquidez é um aspecto que deve ser considerado com mais atenção neste ano.

“É importante ter a possibilidade de resgatar o dinheiro para aproveitar alguma oportunidade que possa surgir em época de crise”, diz Jansen Costa, planejador financeiro CFP (Certified Financial Planner, certificação do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros).

Ao alocar os recursos em aplicações diferentes – que também devem ser escolhidas de acordo com o perfil de risco, objetivos e prazos – o poupador pode ter a chance de tirar vantagem de diferentes cenários da economia. 

 “É preciso ter três reservas financeiras, não importa o momento econômico do país. Para quem tem um planejamento, o cenário não muda. Mas é preciso ter em mente três critérios: rentabilidade, risco e liquidez”, diz Ana Paula Hornos, coaching e educadora financeira. 

Para Luiz Nazareth, gestor de fundos da AZ FuturaInvest, ao diversificar o investidor deve alocar uma parte de seus recursos em aplicações protegidas pelo FGC (Fundos Garantidor de Crédito) dentro do limite de R$ 250 mil por CPF e instituição financeira. 

As aplicações cobertas pelo FGC são, além da poupança, os CDBs (Certificado de Depósito Bancário), que costumam ter liquidez, e as letras de crédito imobiliário e do agronegócio –que têm carência de 90 dias.

Veja as dicas de especialistas para distribuir melhor os ovos em diferentes cestas:

 

Antes de montar uma carteira de investimentos, é preciso observar qual o próprio perfil de risco: conservador, moderado ou arrojado. Para isso, os bancos e corretoras aplicam questionários de Análise de Perfil do Investidor (API). 

Ao descobrir o próprio perfil, o próximo passo é estudar as aplicações financeiras. Mesmo dentro da renda fixa há uma gama de opções, com diferentes prazos de resgate e, assim, objetivos.

Nessa jornada, mesmo o investidor de perfil conservador pode distribuir os recursos em diferentes aplicações, algumas até com um pouco mais de risco. 

Saber o perfil é importante porque mostra o quanto cada um está disposto a perder em troca da possibilidade de mais retorno. 

Com isso, divida os recursos em diferentes prazos: curto, médio e longo. Para cada um haverá um objetivo diferente: reserva de emergência, realizações de sonhos no médio prazo e aposentadoria.

O perfil de risco pode mudar de acordo com a faixa etária. Quem está na faixa de 20 a 50 anos de idade –que é a de crescimento profissional - pode arriscar um pouco mais, claro que dependendo do apetite que identificar na análise do perfil.

Mas o fato é que o investidor ainda tem tempo. Já quem está na faixa de 50 e 65 anos, a preocupação pode ser mais preservar o patrimônio. “Mesmo quem tem perfil agressivo, começa a ficar moderado nessa idade para proteger a aposentadoria, que em breve será usada”, diz Ana Paula. 

Em qualquer momento da economia, mas principalmente em ano de crise, é preciso ter um colchão financeiro, ou em outras palavras uma reserva para cobrir emergências. 

Ela serve para amortizar os acontecimentos que podem desorganizar a vida financeira, como a perda do emprego ou de clientes no caso de empreendedores, ou mesmo uma doença. 

Segundo Christiano Ehlers, superintendente executivo de Investimentos do banco Santander, a primeira preocupação é ter essa reserva de emergência. Depois, com o restante dos recursos disponíveis o investidor pode pensar em diversificação – ou seja, distribuir os ovos em cestas de médio e de longo prazos. 

“O que recomendamos, principalmente aos clientes que são empreendedores e de perfil conservador é obter primeiro a reserva financeira, que deve corresponder ao valor de seis meses de despesas fixas”, afirma. 

Ele diz que esse recurso deve ficar em aplicações com liquidez, como em fundos DI e o CDBs pós-fixados (o qual o retorno é definido no ato do resgate). 

Para Costa, CFP, o montante mínimo de reserva pode também ser de, no mínimo, três meses das despesas. “Esse valor pode ser aplicado em título público pós-fixado como o Tesouro Selic”, afirma. 

Esse título público paga o percentual da Selic no período, e o investidor que aplicar a reserva de emergência nele só deve observar a tributação – que é a mesma de fundos e CDBs. 

A incidência de Imposto de Renda é de 27,5% sobre os rendimentos se a saída ocorrer em seis meses. A alíquota diminui progressivamente e é reduzida a até 15% se o resgate ocorrer após dois anos. 

Para o médio prazo, é preciso priorizar duas coisas: liquidez e retorno porque supõe-se que a pessoa sabe exatamente quando precisará resgatar da aplicação para adquirir um bem ou serviço. Pode ser um carro, uma casa ou uma viagem internacional. 

“Quem pretende poupar para comprar imóvel no médio prazo pode escolher aplicações que estejam atreladas a esse mercado, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) ou os Fundos de Investimentos Imobiliários (FII).  Se o objetivo for fazer uma viagem aos Estados Unidos, tem sentido fazer uma proteção por meio de fundos cambiais”, afirma Ana Paula. 

Nazareth, da AZ FuturaInvest, diz que o investidor de perfil conservador ou agressivo precisa distribuir os recursos em aplicações que estão se beneficiando do atual cenário da economia. 

Uma aplicação bem avaliada pelo gestor é o fundo multimercado do tipo Macro, que tem na sua composição papéis atrelados a juros e inflação. “Também consideramos, de forma pontual, os fundos de renda fixa índices para o médio e longo prazos”, diz. 

Nazareth afirma que é importante escolher aplicações que não tenham correlação entre si, ou seja, que não valorizem e desvalorizem pelos mesmos motivos. 

Para Christiano Ehlers, superintendente executivo de Investimentos do Santander, uma alternativa que pode ser avaliada na hora de diversificar na renda fixa são os fundos de crédito privado. Quem consegue assumir um pouco mais de riscos, o fundo multimercado com pequena exposição a ações do exterior.

“É uma forma de diversificar os investimentos em outras economias, mas para o conservador indicamos apenas a alocação de até 5% do montante total disponível para investir”, diz Ehlers. 

Segundo a educadora Ana Paula, a liquidez não é a prioridade para as aplicações de longo prazo, como a aposentadoria. O cenário macroeconômico, desta forma, deve ser considerado na hora de revisar a carteira de investimentos. 

“Na revisão, é preciso considerar também os impostos e os custos das aplicações, que trazem impacto no rendimento no longo prazo. O momento de saída do investimento deve levar em consideração a alíquota de Imposto de Renda”, diz Ana. 

Assim, mesmo que o mercado de ações esteja ruim neste momento, pode valer a pena ter uma carteira de ações que pagam bons dividendos e fazer ajustes nela ao longo do tempo, sem se ater às oscilações do momento atual.

“Com esse objetivo a dica é não entrar se os preços das ações estiverem muito altos. Também acho que vale procurar um planejador financeiro para orientar as decisões, já que elas também envolvem a análise de tendências de mercado e de setores da economia”, afirma a educadora.

Tenani, da FGV, lembra que o empreendedor que quiser fazer uma aplicação de longo prazo na bolsa deve tomar cuidado na escolha dos papéis. Isso porque os empreendedores se deixam levar por um aspecto comportamental.  

“Para diminuir o risco, não é bom investir em ações de empresas que estão no mesmo ramo que a sua. Se um evento na economia atingir o seu setor de atuação também provocará desvalorização das ações que você comprou. O ideal é fazer um estudo e investir em setores pouco relacionados com o da própria empresa”, completa.

Costa diz que pessoas de perfil conservador devem colocar de 1% a no máximo 10% em renda variável.

Para quem não quer administrar os próprios recursos, ele recomenda fundos de ações, com o cuidado de pesquisar o histórico do gestor e descobrir se ele busca superar o retorno de um indicador de mercado. 

“Avalie as taxas de administração e se vale a pena pagar o come-cotas (adiantamento da cobrança de IR duas vezes ao ano)”, afirma. O mesmo vale para quem opta por um fundo de previdência privada.

O planejador financeiro diz que uma aplicação que pode ser considerada para o longo prazo é o título público Tesouro IPCA, que paga a variação da inflação no vencimento mais uma taxa de juros pré-definida, que tem oscilado de 5,8% a 6,6%.

“É o tipo de aplicação que garante rentabilidade real. Quem está preso ao CDI pode ter surpresas porque a inflação está alta”, diz. 

O risco desse título é o de o investidor perder parte da rentabilidade se precisar vendê-lo, já que esta é a única maneira de sair da aplicação antes do vencimento. Ele pode ter de pagar uma taxa maior de juros e, assim, perder uma parte do rendimento pré-definido quando entrou. As taxas no mercado secundário mudam diariamente. 

Por isso, o título Tesouro IPCA pode fazer parte de uma estratégia de longo prazo - há títulos com vencimento em até 2050 - para a aposentadoria. 

 

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