"Vejo sinais de populismo no ar", diz Fraga, ex-presidente do BC
Para o economista Arminio Fraga, processo de reformas na política econômica é ameaçado pela possibilidade de vitória de um candidato populista em 2018

A troca de governo em 2019 é uma janela de oportunidade para o Brasil seguir fazendo mudanças e reformas na política econômica, mas o processo é ameaçado pela possibilidade de vitória de um candidato populista em 2018, disse o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Gávea Investimentos, Arminio Fraga.
O economista admitiu que conversou com candidatos e pré-candidatos, como o apresentador Luciano Huck, mas descartou uma participação mais ativa nas eleições de 2018, como fez em 2014, quando foi consultor econômico da campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG).
"Estamos olhando para uma janela de oportunidade em 2019, dependendo do governo escolhido e dependendo da qualidade do debate em 2018", disse Fraga, em palestra durante seminário promovido pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Universidade Columbia.
O economista disse que vê "sinais de populismo no ar", o que seria preocupante porque poderia haver retrocesso na economia. "É muito difícil derrotar um regime populista nas urnas. Em geral, eles quebram. De certa maneira, o nosso quebrou."
Na saída do evento, o ex-presidente do BC disse que a ameaça populista é clara. "A ameaça populista já chegou, é só ver alguns dos discursos", afirmou, evitando citar nomes.
Questionado sobre a desfiliação recente de economistas ligados ao PSDB, como o também ex-presidente do BC Gustavo Franco e Elena Landau, que coordenou as privatizações no BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso, Arminio destacou que não é filiado ao partido. "A política em geral envelheceu. O PSDB foi junto", afirmou.
Antes, na palestra Arminio defendeu uma ampla reforma no Estado, já que, do ponto de vista fiscal, o Brasil está "na UTI". "O Brasil precisa de um Estado eficaz, que tenha capacidade de entrega", disse.
Nesse quadro, a reforma da Previdência é importante e deve ser aprovada logo, mas novos ajustes no regime previdenciário serão necessários nos próximos anos. Além disso, a reforma do Estado deveria englobar recursos humanos, orçamento e as empresas estatais. "Não faz sentido o governo ter empresa", disse o economista.
Para Arminio, todas as empresas deveriam ser privatizadas, incluindo Petrobras e Eletrobrás. Tanto o fatiamento de grandes estatais quanto sua conversão em corporações são bons modelos.
"É interessante esse modelo de criar uma corporação na Eletrobrás, mas tenho certas dúvidas. Talvez a empresa seja muito grande", afirmou, defendendo ainda a desvinculação total das despesas e receitas nos orçamentos dos governos.
FOTO: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo