Trump e Xi Jinping dobram suas apostas
Produtos chineses importados pelos Estados Unidos podem ser sobretaxados em até 104%. Como reação, governo de Pequim diz que produtos norte-americanos receberão as mesmas tarifas

*com informações do Estadão Conteúdo
O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começará a cobrar tarifa adicional de 50% sobre os bens importados da China amanhã, dia 9, disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, em entrevista coletiva nesta terça-feira, 8/4. Com isso, a subretaxa aos produtos chineses chega a 104%.
A nova tarifa sobre os produtos chineses foi uma reação de Trump após a decisão de Pequim de retaliar o tarifaço anunciado pelo presidente americano na última quarta-feira, 2, que atingiu o país asiático com uma alíquota de 34%. Por sua vez, o governo chinês retaliou os EUA com o mesmo porcentual.
O problema parece longe de um final negociável. Após a nova ameaça de Trump, o governo chinês avisou que "lutará até o fim" e ameaçou retrucar ainda mais os Estados Unidos. O Ministério do Comércio da China informou na manhã desta terça-feira que "Pequim tomará resolutamente contramedidas para salvaguardar seus próprios direitos e interesses" caso o governo americano amplie a taxação.
Xi Jinping mostra estar disposto a uma guerra comercial, e as últimas movimentações de seu governo parecem indicar isso. O Banco do Povo da China definiu a chamada fixação do yuan em 7,2038 em relação ao dólar nesta terça-feira, a primeira vez desde setembro de 2023 que a taxa de referência caiu para 7,20. O alívio no controle do yuan reflete os esforços da China para dar suporte aos mercados financeiros e baratear suas exportações diante das novas taxações de Trump.
Além disso, as autoridades chinesas anunciaram outras medidas para dar suporte aos mercados, incluindo permissão da Administração Reguladora Financeira Nacional, o principal órgão de fiscalização financeira do país, para que as seguradoras chinesas invistam mais nos mercados de ações.
Pequim também iniciou uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas dos Estados Unidos. "A China afirma que as medidas são inconsistentes com as obrigações dos Estados Unidos sob várias disposições do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês) de 1994, do Acordo sobre Valoração Aduaneira e do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias", diz a OMC.
Hollywood - Em outra frente, segundo a Bloomberg, o governo chinês, que tem grande controle sobre o lançamento de filmes no país, estaria considerando banir produções norte-americanas. Em postagens simultâneas nas redes sociais locais, Liu Hong, editor de uma agência de notícias governamental, e Ren Yi, influente produtor de conteúdo e neto do ex-chefe do partido comunista da província de Guangdong, disseram que o governo chinês estaria planejando "reduzir ou banir a importação de filmes dos EUA", além de taxar produtos agrícolas e serviços norte-americanos.
Segundo as postagens, as informações vieram de fontes anônimas com conhecimento das ações tomadas pelo governo para contra-atacar as tarifas de Trump.
Segundo maior mercado de filmes do mundo, a China vinha sendo responsável por uma boa parte da quantia adquirida por produções hollywoodianas em sua bilheteria mundial. Embora essa participação tenha caído nos últimos anos, com o público chinês preferindo blockbusters locais a importados, o país segue representando uma porcentagem considerável da arrecadação dos grandes estúdios norte-americanos.
Atualmente, a China limita o número de grandes produções norte-americanas importadas a 34 títulos por ano, além de manter 25% da bilheteria adquirida no país.
IMAGEM: DC