Roberto Rodrigues: 'Segurança alimentar mundial depende do Brasil'
O ex-ministro da agricultura aposta na tecnologia do agro brasileiro para melhorar a produtividade, aumentar a oferta de alimentos e energia e gerar empregos
Segurança alimentar e energética, mudanças climáticas e desigualdade social. São essas as questões que Roberto Rodrigues, professor emérito da FGV e ministro da Agricultura entre 2003 e 2006, aponta como pautas globais prioritárias. Nesse contexto, segundo ele, o Brasil tem potencial para liderar as ações mundiais de enfrentamento a esses problemas.
Considerado um dos maiores especialistas no agro brasileiro, Rodrigues esteve à frente da lei da biotecnologia, do seguro rural e do trabalho em prol dos produtos orgânicos. Convidado pelo Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) para discutir o progresso do setor, o ex-ministro lembrou que a segurança alimentar tem papel predominante na estabilização das nações, sendo que, em uma década, a oferta mundial de alimentos precisa crescer 20%. No entanto, segundo ele, nenhum país cresce mais de 10%, a não ser o Brasil. "Para que o mundo cresça 20%, o Brasil precisa crescer 40%."
Para garantir essa demanda, ele reforçou a necessidade de estratégia, com parcerias com grandes empresas, seguro rural, investimentos em logística, armazenagem, equipamentos e indústria de transformação. Para crescer mais, Rodrigues propõe urgência em combater atividades ilegais que afetam a sustentabilidade e a imagem do agronegócio brasileiro, como o desmatamento ilegal, os incêndios criminosos e o garimpo ilegal.
"Minha visão de futuro e aposta é no agro tropical, porque é nesse cinturão - América Latina, África subsaariana e parte da Ásia - que há terra para crescer horizontalmente, mas onde a tecnologia é muito baixa. Quem tem que liderar é o Brasil, o único que detém essa tecnologia da agricultura tropical sustentável, com agroenergia e replicável", disse.
O ex-ministro destacou também que o agronegócio brasileiro tem dificuldade em mostrar e comunicar o que tem feito de bom, bem como sua modernização, ganhos de produtividade e foco na produção social e ambientalmente sustentável. “Nossa matriz energética é extraordinária, com mais da metade renovável - e metade disso é proveniente da agricultura. Temos uma agricultura tropical altamente sofisticada, sustentável e competitiva. E devemos mostrar isso para o mundo. Ninguém fala disso”.
Na sua visão, o que provocou esse grande arranque foi a tecnologia, que embora já estivesse disponível há muito tempo, não era aplicada porque as condições econômicas do país não a estimulavam.
Falando em evolução, o ex-ministro também destacou que, nos últimos 30 anos, o Brasil ampliou a produção agrícola acima de 400% com apenas o dobro da área plantada, algo que, segundo ele, reflete o nível de inovação e produtividade do setor. Em um resgate histórico, Rodrigues recorda que em 1990 o Plano Collor deu a primeira guinada nesse setor. Embora com erros importantes na formação da política, a gestão foi responsável por acender na cabeça do empresário rural a ideia de uma economia estabilizada.
Quatro anos depois, em 1994, o surgimento do Plano Real trouxe esse cenário de estabilidade, e segundo o ex-ministro, o produtor rural foi obrigado a ser mais competitivo e eficiente. A partir daí, os números melhoraram, a produtividade por hectare cresceu movida por sustentabilidade e pela tecnologia tropical gerada no Brasil nesse período pela pesquisa pública e privada.
O especialista explicou que as empresas privadas, sobretudo as multinacionais, avançaram em pesquisa de variedades, especialmente a partir de 2005, com a introdução da transgenia no Brasil. Nessa toada, a pecuária foi obrigada a evoluir e o produtor rural, com tecnologia, equipamento e gestão, incorporou a pecuária na atividade de grãos, fazendo mais safras por ano.
Olhando para a energia e o que o Brasil fez nessa área a partir do agro, ele destaca que o país lidera no mundo mantendo uma matriz energética onde 50% da energia é renovável, contra uma média global de 15%.
IMAGEM: Cesar Bruneli/ACSP