Produtores atingidos pelas queimadas terão linha de crédito especial
Anúncio foi feito pelo ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, em reunião na ACSP. Governo paulista já havia prometido R$ 100 milhões para pequenos produtores
Neste mês de agosto, o Brasil registrou o maior número de focos de queimadas desde 2010, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Para reduzir os prejuízos de produtores rurais atingidos pelos incêndios, os governos Federal e estaduais prometeram estabelecer linhas de crédito específicas para esse grupo.
O anúncio foi feito pelo ministro da Agricultura e Pecuária Carlos Fávaro em palestra realizada no Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na última terça-feira (27). Ele afirmou que tem conversado com representantes dos governos dos estados mais atingidos - como São Paulo, que teve o pior agosto para queimadas desde 1998, início da série histórica. Foram 5.294 focos, alta de 31% ante igual período do ano passado (1.666).
"Nos reunimos com o secretário Guilherme Piai [de Agricultura e Abastecimento de São Paulo] e tratamos da liberação do crédito para a reconstrução de propriedades queimadas", disse o ministro.
O governador Tarcisio de Freitas já havia anunciado a liberação R$ 100 milhões em crédito, com juro zero e carência de dois anos, para efeito imediato, por meio do Feap (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista).
"O prejuízo passa de R$ 1 bilhão, pegou muitas lavouras de cana que estavam com brotos pós-colheita e em processo de renovação", disse, em conversa com jornalistas, após anúncio do projeto vencedor da nova sede administrativa do Governo no Centro da Capital Paulista.
Mesmo citando fala da ministra Marina Silva, que disse que menos de 2% das queimadas vêm de crimes ambientais, a pasta do Meio Ambiente não descarta a possibilidade e acionou a Polícia Federal para investigar possíveis crimes, disse o ministro da Agricultura.
Porém, o clima não tem colaborado para melhorar esse quadro, alertou Fávaro, e a modernização do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), subordinado ao Ministério da Agricultura, é parte importante para minimizar esses efeitos, ajudando a prevenir e antecipar focos de incêndio com as secas.
Fávaro lembrou que, em tempos de mudanças climáticas, o Instituto ainda é analógico, e usa servidores para coletar dados meteorológicos diariamente. "Investiremos na modernização, na simplificação e uso de algoritmos pelo Inmet, para até 2026 ser o melhor da América Latina."
Para concretizar esse processo, serão destinados R$ 200 milhões, sinalizou. "Às vezes está tudo prontinho: a terra, o equipamento, tem semente boa, tudo está prontinho. Mas não chove, vem a estiagem, a seca, as queimadas. Por isso, o clima é o ativo mais importante."
Na quinta-feira (29), Tarcísio afirmou que a situação das queimadas em São Paulo estava sob controle, não haviam focos ativos no Estado, e que é hora de tomar medidas de prevenção e enfrentamento dos incêndios. E dar apoio, em especial, aos pequenos produtores afetados.
"O prejuízo vai passar da casa de R$ 1 bilhão porque pegou muitas lavouras, perdeu-se matéria orgânica, pequenas propriedades foram destruídas... E perderam-se também suprimentos, animais, instalações. Então, a gente agora vai dar esse suporte", completou o governador.
CLIMA OU CRIME?
Para justificar as queimadas, nesta semana o governador Tarcísio de Freitas disse, em conversa com a imprensa, que o Estado passa por uma estiagem muito severa: da média de 700, 800 focos registrados em anos anteriores em agosto, dessa vez eles passaram dos 5 mil.
"No ano passado choveu menos, mas neste ano nós estamos numa situação que já vinha comprometendo a safra, com quebra de safra de grãos. A cana, um pouco mais resiliente, garantiu um bom resultado do agronegócio paulista no primeiro semestre, mas agora temos vários municípios em situação de emergência e com princípio de racionamento de água."
Ele citou algumas medidas emergenciais para mudar esse quadro, como o aprofundamento de cursos de água, desassoreamento, autorizações especiais para captação e construção de poços artesianos e sistemas de abdução emergenciais em locais como Pitangueiras e Bauru.
Tarcísio também disse que uma combinação de fatores climáticos colaborou para piorar a situação, como a baixíssima umidade relativa do ar, que bateu os 17%, altas temperaturas acima dos 30 graus e ventos muito fortes, que são fatores que provocam ignição.
Mas admitiu casos criminosos, porém, "pontuais". "Um cigarro, uma fogueira de alguém que foi fazer um piquenique, um pedaço de alumínio, um vidro... Com esses incêndios, oportunistas aproveitaram para fazer descarte ilegal de materiais, e isso agravou a situação."
Também afirmou que foram efetuadas prisões em flagrante (cinco, até a última quarta-feira, 28) de pessoas que estavam ateando fogo nos municípios de Batatais e Guaraci, que devem responder por procedimento criminoso, e que já há até inquérito instaurado para isso.
Porém, ao ser perguntado se essas queimadas poderiam ser uma ação coordenada, o governador disse que não foi possível constatar nenhum tipo de relação entre essas pessoas, e culpou mais uma vez a combinação climática adversa, mais indivíduos ateando fogo de maneira criminosa por essa situação complexa, que tomou uma proporção gigantesca.
"Causou um prejuízo enorme, foram mais de 20 mil hectares. Registramos mais de 2 mil focos na quinta-feira (22) na região de Piracicaba, de Araçatuba, da Alta Paulista, no entorno da região de Barretos, em Rio Preto. O epicentro foi ali em Ribeirão Preto", enumerou. "Mas, no sábado, reduzimos para pouco mais de 200 ocorrências, no domingo para seis e na segunda fizemos o rescaldo de alguns focos em Franca, Igarapava e Ituverava."
O governador ainda anunciou medidas preventivas que devem ser tomadas para evitar a repetição da onda de queimadas, alimentadas por condições climáticas, de baixa umidade relativa do ar e ventos fortes, que atingiram o Estado nos últimos dias.
Entre elas, o Refloresta-SP, que prevê a recuperação de 40 mil hectares de mata nativa, estímulo aos combustíveis sustentáveis com produção de biometano e ações de atração de investimentos privados para agilizar as emissões de créditos de carbono.
*Com informações do Estadão Conteúdo
IMAGEM: ACSP