Preços dos grãos em queda e falta de armazenagem prejudicam produtor
Sem espaço para estocar a produção, o produtor se vê obrigado a vender no pico da colheita, período em que as cotações estão mais pressionadas

Com os preços dos grãos em queda na bolsa de Chicago, estoques globais elevados, sem armazéns suficientes para estocar a safra e crédito de comercialização escasso, o produtor, sobretudo o pequeno e médio, passa por um momento delicado de fluxo de caixa, alerta o coordenador do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Cesario Ramalho.
O preço da saca de soja nas principais praças, por exemplo, caiu cerca de 30% em um ano. Diante desta conjuntura, o produtor que conseguiu armazenar aguarda melhor oportunidade para comercializar a safra. Todavia, esta opção é para poucos.
Com os silos abarrotados, sem mais espaço para armazenar a produção, o produtor se vê obrigado a vender no pico da colheita, período em que as cotações estão mais pressionadas. Mesmo quem fez hedge - travou seu preço de venda - pode não conseguir exercer esta opção, porque não tem local para armazenar, a fim de entregar futuramente.
O Brasil vai colher nesta temporada uma safra de grãos superior a 315 milhões de toneladas, prevê a Conab. Em São Paulo, a área em produção de soja estimada é 2,7% superior à verificada no ciclo passado. Já a produção esperada é 5,7% maior [projeção de 4,9 milhões de toneladas], com produtividade média 3% acima da obtida na última colheita. As regiões de Itapeva, Assis e Ourinhos predominam na produção de soja paulista, com uma parcela de 40,2% do total.
No tocante ao milho, por exemplo, estamos prestes a colher uma safra cheia, e não há espaço para armazenagem. Já a capacidade disponível para armazenamento gira em torno de apenas 190 milhões de toneladas, aponta o IBGE.
No desafio da infraestrutura logística, registramos ligeiros avanços, ainda que demasiadamente insuficientes, em rodovias e portos. Por outro lado, no que diz respeito à armazenagem, o gargalo permanece. Viabilizar condições para que o produtor possa investir em armazenagem própria tem que ser uma das prioridades do novo Plano Safra 2023/24.
Contudo, a manutenção da taxa Selic em 13,75% preocupa o setor produtivo rural em relação às condições de juros para o Plano. Neste cenário, aumenta o tamanho da verba governamental necessária para equalizar - amortecer - os juros do financiamento agrícola.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que é produtor, está ciente do quadro, e vem demonstrando empenho para endereçar a questão. A expectativa de Cesario Ramalho é que a equipe econômica, que tem a missão de sanear as contas públicas em consonância com o investimento estatal, acolha no novo Plano Safra as legítimas demandas favoráveis ao financiamento agrícola.
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