Preço e busca por saúde levam academias ‘low cost’ a pipocar pelo Brasil

Panobianco, de Campinas, se prepara para inaugurar 205 unidades neste ano; Skyfit, 40; Smart Fit, cerca de 300 no mundo. Cidades menores são os principais alvos das ‘fits’

Fátima Fernandes
09/Abr/2025
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Preço e busca por saúde levam academias ‘low cost’ a pipocar pelo Brasil

Em 2016, eram 4 unidades. Em 2020, 49. Em 2024, 245 e, neste ano, a rede se prepara para abrir mais 205 em todo o país. Qual é a empresa e o setor com tanto potencial de expansão?

O nome dela é Panobianco, com sede em Campinas, interior de São Paulo, e o setor é o de academias ‘low cost’, isto é, de baixo custo, com foco em clientes das classes C e D.

Assim como a rede campineira, marcas com o mesmo perfil estão em forte crescimento no Brasil, seguindo o caminho da pioneira Smart Fit, que fará 16 anos em 2025.

Os motivos para a expansão desse modelo de negócio têm tudo a ver com preço menor e maior conscientização sobre a importância de hábitos saudáveis, incluindo a atividade física.

A Panobianco nasceu em 2012 no bairro Campos Elíseos por meio da sociedade de três professores de academia da família Panobianco, André, Bruno e Rafael.

Ao cobrar uma mensalidade de R$ 49,90, os três sócios viram o negócio decolar. Durante a pandemia, a rede inaugurou 20 unidades em regiões mais residenciais do que comerciais.

“Passamos por todas as áreas, limpeza, recepção, professores, o que nos deu bagagem para tocar o negócio”, afirma André Panobianco.

Hoje, a rede está presente em 13 estados brasileiros, basicamente por meio de franquias, modelo deflagrado em 2016, com a abertura da primeira unidade em Hortolândia (SP).

Outras empresas trilham o mesmo caminho e quase todas levam ‘fit’ no nome, abreviação da palavra inglesa ‘fitness’, que significa preparo físico, condicionamento físico.

Marcos Hirai, sócio fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas), diz que negocia uns 200 contratos para a instalação de academias ‘low cost’ em todo o país, dos quais 50 em centros comerciais.

“Os shoppings entenderam que academia é âncora dos empreendimentos. A ‘low cost’ traz pessoas que não iriam aos shoppings por outro motivo, se não o de se exercitar”, afirma.

O foco do negócio é cobrar uma mensalidade menor, ao redor de R$ 100, um pouco mais, um pouco menos, oferecendo equipamentos de qualidade, como os das academias mais caras.

Quem costuma andar por bairros de São Paulo e de outras capitais, principalmente, deve ter observado diferentes nomes de academias com o apelo ‘fit’, disputando a clientela.

FitClass, FitStop, BlueFit, SkyFit, VoiFit, Allp Fit são alguns dos nomes que se pode ver em São Paulo, a maioria delas com a proposta ‘low cost’.

A Panobianco está presente em 13 estados por meio de franquia. O investimento em uma unidade da marca exige aporte mínimo de R$ 700 mil, com leasing e locação de equipamentos.

 

O mercado

Existem hoje quase 60 mil empresas registradas na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 9313-1/00, que inclui as atividades de condicionamento físico.

O Brasil ocupa o segundo lugar em academias no mundo, atrás dos EUA, de acordo com a International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA).

As academias em geral, não apenas as ‘low cost’, estão presentes em quase 4.400 municípios brasileiros, indicando a ampla penetração no país.

O Brasil, aliás, também está em segundo lugar no ranking mundial de frequência de academias, com uma participação de 21% da população, atrás da Índia, com 24%.

Por aqui, o setor movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano. Esses dados constam em estudo sobre o setor feito pelo Sebrae-PR.

O potencial de crescimento do mercado de academias ‘low cost’ no Brasil ainda é grande, de acordo com empreendedores e quem trabalha com expansão das marcas.

“Espera-se que o setor continue crescendo, impulsionado pela crescente demanda por saúde e bem-estar”, afirma Cássio Ferraro, consultor de planejamento estratégico do Sebrae-SP.

A pioneira no modelo ‘low cost’ continua em expansão, e não somente no Brasil. A Smart Fit pretende abrir umas 300 unidades no mundo neste ano, com estreia no Marrocos, pouco mais da metade no Brasil.

A rede de academias ‘low cost’, com cerca de 5,2 milhões de alunos, que fez sua estreia na Bolsa de Valores em 2021, possui quase 1.800 unidades em 15 países da América Latina.

Em 2024, a Smart Fit inaugurou 305 unidades, adicionando quase 700 mil alunos. A receita líquida da empresa foi de R$ 5,6 bilhões, 31% maior do que a de 2023.

Como base de comparação, a rede de supermercados Sonda, uma das maiores do Estado de São Paulo, fechou 2024 com faturamento perto de R$ 5,2 bilhões no ano passado.

Com tantos planos de expansão no Brasil e em outros países, espera-se que o tamanho do mercado Health and Fitness Club da América do Sul dê um salto nos próximos anos.

Para a IHRSA, o crescimento estimado é de US$ 4,20 bilhões, em 2023, para US$ 6,84 bilhões em 2028, com uma taxa de retorno de 10,26% durante esse período.

Fábio Longo, diretor de expansão de marcas, como a SkyFit, diz que, além de o brasileiro ser vaidoso, a expansão desse mercado se deve ao retorno do negócio. “É maravilhoso”, diz.

Se bem operada, diz, uma academia que fatura R$ 160 mil por mês consegue, pagando todas as despesas, ter uma sobra de R$ 60 mil, com um retorno do investimento em um ano.

“Que franquia no Brasil tem um retorno em 12 meses?”, questiona Longo.

Com mais de 600 unidades espalhadas pelo país, a Skyfit acaba de abrir uma unidade em Tupã (SP), uma cidade com cerca de 65 mil habitantes, onde já possui 1.500 alunos.

Os planos da rede são abrir mais 40 unidades no Brasil neste ano.

“É difícil achar hoje um shopping que não tenha academia, por isso a expansão das redes deve acontecer mais nas ruas e no interior do país”, diz Longo.

Quer abrir uma academia? Veja as dicas

Que o brasileiro está cada vez mais preocupado com a saúde, favorecendo o setor de academias, isso ninguém mais duvida, aliás, esse parece ser um movimento mundial.

Porém, quem quer entrar no negócio como investidor precisa tomar alguns cuidados, especialmente no mercado ‘low cost’.

“O diferencial de uma academia de baixo custo é preço e qualidade. Portanto, é preciso ter uma quantidade maior de pessoas para o negócio fazer sentido”, diz Ferraro, do Sebrae-SP.

Se o negócio faz sentido com uma pessoa pagando R$ 200 por mês, por exemplo, mas o empreendedor cobra R$ 100, diz, então é preciso dobrar o número de alunos.

O investimento em uma academia ‘low cost’ é de, no mínimo, R$ 1 milhão, diz Longo, se o empreendedor optar por locação de equipamentos, não compra.

André, da Panobianco, fala em investimentos a partir de R$ 700 mil, no caso da sua marca, com leasing ou locação de equipamentos. As mensalidades cobradas são a partir de R$ 109.

“É preciso fazer conta antes de investir no setor. É preciso também ter condições para pegar empréstimos, boa capacidade financeira para entrar no negócio de forma sólida”, diz Ferraro.

Os três sócios da Panobianco, por exemplo, cursaram educação física. André tem também graduação em fisiologia do exercício e MBA em gestão de negócios.

“Eles aprenderam a empreender”, diz o consultor do Sebrae.

Além disso, outro ponto em que o empreendedor deve prestar atenção é em relação aos horários de pico de frequência das academias, que são logo pela manhã e no final de tarde.

“Há equipamentos suficientes para atender à demanda desses horários de pico? E o que pode ser feito para levar público aos espaços também durante o dia?”, comenta Ferraro.

O consultor do Sebrae faz outro alerta. Da forma que o mercado ‘low cost’ tem crescido, pode acontecer com esse modelo de negócio o que se vê hoje com os minimercados.

A Oxxo, por exemplo, se espalhou de uma forma quase que uma loja em cada esquina, diz, que começou a ter de fechar algumas unidades para evitar o processo de canibalização de vendas.

Com quatro anos no país, a rede de conveniência tinha, em 2024, cerca de 600 lojas no Estado de São Paulo, espalhadas em 24 cidades.

“Chega um momento em que o mercado fica saturado e empresas começam a adquirir outras, o que pode acontecer no mercado de academias”, afirma Ferraro.

Curiosidades

A primeira academia do mundo surgiu em Estocolmo, na Suécia, em 1865, a partir da decisão do dr. Jonas Gustav Vilhelm Zander de desenvolver aparelhos para exercitar o corpo.

Em 1876, o médico apresentou os aparelhos e a metodologia na Exposição Universal de 1876, o que lhe rendeu uma medalha de ouro.

No mesmo período, abriu uma filial do instituto em Londres e, depois, nos Estados Unidos.

No Brasil, o primeiro espaço comercial para atividades físicas foi criado anos depois, em 1914, em Belém (PA), para a prática de Jiu-Jitsu.

Até a década de 1940, esses locais não eram chamados de academias, mas sim de Institutos de Modelagem Física ou Centros de Fisiculturismo.

As informações históricas constam em estudo do setor do Sebrae-PR.

Quem diria que a ideia do dr. Zander viraria um mercado gigantesco mais de 150 anos depois.

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IMAGENS: Panobianco/divulgação

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