Pequenos negócios paulistas têm pior faturamento em 17 anos
Pesquisa do Sebrae/SP registra o impacto do cenário recessivo sobre o desempenho das MPEs paulistas e o aumento do pessimismo entre os empresários. MEIs têm queda ainda maior
Setembro representou o pior mês em 17 anos para o desempenho das micro e pequenas empresas (MPEs) do Estado de São Paulo. No total, as empresas registraram queda de 19,2% no faturamento real (já descontada a inflação) em comparação com o mesmo mês de 2014, segundo a pesquisa Indicadores Sebrae-SP.
Foi o maior porcentual de queda para um mês de setembro em relação a igual período do ano anterior. A receita total das MPEs foi de R$ 48,1 bilhões, ou seja, R$ 11,5 bilhões abaixo da registrada no mesmo mês em 2014. No acumulado de janeiro a setembro, a redução no faturamento chega a 12,1% sobre o mesmo período de 2014.
De acordo com Letícia Aguiar, consultora do Sebrae/SP, o resultado refletiu a desaceleração do setor de serviços como reflexo direto da queda do consumo. “Historicamente, o setor de serviços é o último a refletir o cenário econômico, depois da indústria e do comércio”, explica.
A pesquisa Indicadores Sebrae-SP é realizada mensalmente, com apoio da Fundação Seade. São entrevistados 1.700 proprietários de MPEs e 1 mil MEIs do Estado de São Paulo por mês.
No levantamento, as MPEs são definidas como empresas de comércio e serviços com até 49 empregados e empresas da indústria de transformação com até 99 empregados, com faturamento bruto anual até R$ 3,6 milhões. Os dados reais apresentados foram deflacionados pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O comparativo dos indicadores demonstra que o recuo no faturamento atingiu as MPEs de todos os setores: indústria, comércio e, de maneira mais forte, serviços. O fraco desempenho dos segmentos de serviços prestados às empresas e de transporte e armazenagem foi o responsável pela queda de 23,6% nesse setor.
No caso da indústria, a queda menos acentuada na comparação com os outros setores se deve à base mais fraca de comparação. Em setembro de 2014, a indústria havia apresentado redução de 2,6% no faturamento sobre setembro de 2013 e em igual período, a receita média das MPEs do Estado teve aumento de 6,9%.
Por regiões, o recuo foi geral nos três setores. A maior queda, de 30,3%, foi registrada no Grande ABC por causa da base de comparação, já que em setembro de 2014, as MPEs da região tiveram crescimento de 19,2% na receita ante elevação média de 6,9% desses negócios no Estado.
A diferença nos resultados regionais, lembra a consultora do Sebrae, está atrelada aos resultados setoriais. “Por ter forte presença do setor de serviços, o município de São Paulo apresentou a segunda queda mais expressiva de faturamento de MPEs”, esclarece.
A queda no faturamento das MPEs está ligada ao nível mais fraco de demanda na economia, à piora nas condições do mercado de trabalho, com mais desemprego e redução na renda real dos trabalhadores. Esse cenário contribuiu para a diminuição do consumo das famílias, enfraquecendo também a procura por insumos e serviços de outras empresas.
Enquanto não houver sinais claros de reação na economia, de acordo com a consultora do Sebrae-SP, o enfraquecimento do mercado leva à piora ainda mais acentuada nos resultados das MPEs, que são mais dependentes do mercado interno. Nesse caso, o principal indicador para esses negócios é a volta da expansão do consumo.
De acordo com Letícia Aguiar, não há expectativa de que as próximas pesquisas indiquem uma melhora de desempenho, com maior probabilidade de se ter um Natal fraco para as MPEs.
EMPREGOS E SALÁRIOS
De janeiro a setembro, as MPEs paulistas aumentaram em 1,7% o total de pessoal ocupado (sócios-proprietários, familiares, empregados e terceirizados) em relação ao acumulado de igual período do ano passado. Porém, a folha de salários teve redução real de 1,6% e o rendimento dos empregados caiu 2%.
EXPECTATIVAS DOS PEQUENOS E MÉDIOS EMPRESÁRIOS
Há uma clara diferenciação para o pessimismo, a depender do assunto, segundo a pesquisa. Ele é maior para o cenário econômico do que para o desempenho do negócio. O mesmo comportamento aparece entre os proprietários de MEIs.
Para os próximos seis meses, 56% dos donos de MPEs paulistas disseram, em outubro, esperar estabilidade no faturamento do negócio, o que demonstra uma pequena queda ante outubro de 2014, quando 58% deles tinham essa expectativa.
Os que aguardam piora no faturamento são 12%; um ano antes, 7% compartilhavam essa opinião. Os que acreditam em melhora são 23%; em outubro de 2014 a parcela de quem pensava assim era de 26%.
No que se refere ao nível de atividade da economia brasileira, os próximos seis meses devem ser de estabilidade, segundo 41% dos proprietários de MPEs do Estado de São Paulo. Eram 50% em outubro de 2014. A piora é esperada por 37% deles, bem mais do que os 16% de um ano antes. A economia deve melhorar na visão de 14%. Já em outubro de 2014, apenas 19% acreditavam nisso.
RESULTADOS DOS MEIs
Nessa edição do estudo, a pesquisa Indicadores Sebrae-SP iniciou a divulgação mensal dos resultados para os Microempreendedores Individuais (MEIs).
A apuração mostra que o faturamento real dos MEIs do Estado de São Paulo caiu 21,5% em setembro em relação ao mesmo mês de 2014. A receita total dos MEIs no período foi de R$ 2,3 bilhões, o que representa R$ 639,5 milhões a menos do que um ano antes. A inflação já está descontada desses números.
Na análise por regiões, o faturamento dos MEIs do interior do Estado apresentou diminuição de 31,4% em setembro ante o mesmo mês de 2014. Os MEIs que atuam na Região Metropolitana de São Paulo apresentaram recuo de 12% na receita, em igual período.
Segundo a legislação, MEI é quem trabalha por conta própria, ganha até R$ 60 mil por ano, se formaliza como empresário, não tem participação em outra empresa como sócio ou titular e exerce atividades incluídas na categoria, como cabeleireiro, eletricista, jornaleiro, manicure, mecânico, pedreiro, serralheiro, técnico de manutenção de computador entre outros. No Estado de São Paulo, existem hoje cerca de 1,4 milhão de MEIs.
EXPECTATIVAS DOS MEIs
Em relação ao futuro, os MEIs se mostraram um pouco mais otimistas que os proprietários de MPEs. Em outubro, 48% disseram esperar aumento no faturamento do negócio nos próximos seis meses.
A maioria deles pensa assim agora, mas em outubro de 2014, o grupo de otimistas era um pouco maior e reunia 51% dos MEIs paulistas.
A parcela dos que aguardam estabilidade praticamente permaneceu a mesma: 37% em outubro de 2014 e 36% esse ano. Os MEIs que acreditam em piora são 12%, ante 9% em outubro do ano passado.
As perspectivas dos MEIs sobre o comportamento da economia mostram pessimismo em nível relativamente elevado. Para 43%, a situação vai piorar nos próximos seis meses. Em outubro de 2014, 25% tinham essa opinião. Os que aguardam estabilidade são 29% e eram 35% um ano antes. Na visão de 24%, haverá melhora na economia ante 32% em outubro do ano passado.
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