Pequeno empresário terá crédito para capital de giro em 7 segundos

Foi o que prometeu Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, em palestra nesta segunda-feira (14/08) na Associação Comercial de São Paulo. Programa, chamado Giro Pré-Aprovado, será anunciado pelo Ministério do Planejamento

João Batista Natali
14/Ago/2017
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Pequeno empresário terá crédito para capital de giro em 7 segundos

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, disse nesta segunda-feira (14/08), em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que o banco lançará no próximo dia 25 uma linha de crédito para capital de giro, em que o empresário saberá em até sete segundos se foi contemplado.

O programa será anunciado pelo ministro do Planejamento, Dyogo de Oliveira, e se chamará Giro Pré-Aprovado.

Por meio dele, a micro, a pequena e a média empresa obterão o crédito com base no cadastro que já possui no BNDES, sem a necessidade de esperar que o banco particular ou o banco público envie uma cópia do cadastro à instituição de fomento.

A medida, que obedece a lógica da desburocratização, foi anunciada em palestra que Rabello de Castro fez em sessão plenária da ACSP, em reunião que coincidiu com o encontro mensal do Conselho Político e Social (Cops) da entidade.

Os trabalhos foram abertos por Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e dirigidos pelo senador Jorge Bornhausen, coordenador do Cops.

Com relação à agilização dessa linha de crédito, o presidente do BNDES afirmou que se trata de algo parecido ao Progeren (financiamento do capital de giro), mas com procedimentos simplificados, já que permite que a operação seja concluída sem que o banco público ou privado da qual a empresa é correntista precise enviar informações ao BNDES.

Presente à sessão, Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae Nacional, criticou o cenário atual de crédito para as micro e pequenas empresas.

“O crédito não chega na ponta porque os canais estão obliterados. Essa é a nossa discussão dentro do BNDES, pois 83% do universo de pequenas empresas não têm acesso ao sistema bancário e se viram de forma alternativa”.

Ele lembrou que as MPEs representam 98% do universo de empresas no Brasil e que o Microempreendedor Individual (MEI) é “o maior fenômeno de inclusão econômica e social do mundo na atualidade”.

QUEDA NOS EMPRÉSTIMOS 

 Ainda com relação ao banco de fomento, o Diário Oficial da União publicou nesta segunda-feira que foram desembolsados no primeiro semestre deste ano R$ 33,5 bilhões, com uma queda de 17% em relação ao primeiro semestre do ano anterior.

As empresas médias e pequenas, no entanto, aumentaram a participação nos empréstimos, com respectivamente 14% e 10,5% a mais, mas as microempresas tiveram uma participação menor em 15,2%.

As grandes empresas ainda representam 60,3% das 183,4 mil operações fechadas com o BNDES.

Em sua palestra na ACSP, Rabello de Castro disse que o banco emprestará este ano R$ 65 bilhões, o que já será o suficiente, diante da pouca apetência do empresário em buscar dinheiro, em razão dos efeitos persistentes da recessão econômica.

“A economia brasileira está anêmica, não há disposição para investimentos no mesmo ritmo que no passado. Esse apetite para o investimento deve ter caído no mínimo 30%”, disse ele.

Nos seis primeiros meses de 2017 foram emprestados R$ 33 bilhões. Segundo ele, caso o BNDES, o Banco do Nordeste e o Desenvolve São Paulo fechassem suas linhas de crédito, o país cairia para 6% de investimentos em relação ao PIB.

Por enquanto, os investimentos correspondem a um pouco menos de 15% do PIB.

UM “MINISTÉRIO PÚBLICO EMPRESARIAL”

Rabello de Castro condenou de maneira enfática os efeitos da Lava Jato na economia.

Disse que, ao lado do Ministério Público Federal, deveria existir um “Ministério Público Empresarial”, para informar os juízes e ministros de tribunais superiores os efeitos de certas sentenças no emprego e na atividade econômica.

“Estamos jogando fora o bebê com a água do banho”, disse ele, recorrendo a uma metáfora francesa que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usava com frequência.

“Precisamos ensinar os senhores procuradores que da caneta deles saem óbitos, desempregos e empresas fechadas”.

A seu ver, a verdadeira punição a empresários acusados por malfeitos deveria estar na obrigação de trabalhar mais, lucrar mais e terminar as obras iniciadas.

Rabello de Castro aproveitou a presença de um auditório formado por empresários para digressões sobre a história do fomento.

Leu um ofício do Banco de Desenvolvimento alemão que destinava em 1965 ao então BNDE (o “s” da palavra “social” não havia sido ainda incorporado à sigla) 27 milhões de Marcos Alemães para financiar as pequenas indústrias brasileiras.

RABELLO DE CASTRO NA ACSP
SESSÃO PLENÁRIA DA ACSP EM DEBATE COM PAULO RABELLO DE CASTRO
 
Também abordou a maneira pela qual, a partir de 2001, o país procurou “desatar o nó do crédito”. Há 17 anos, o BNDES emprestou, em valores atualizados, R$ 83 bilhões. Ou quase a mesma quantia emprestada no ano passado (R$ 88 bilhões).

Entre as duas datas, há um pico sensível em 2009, quando, “num movimento correto do governo petista”, chegou-se a investir R$ 116 bilhões, para evitar, a exemplo do que fizeram outros países, que se mergulhasse numa grande depressão.

Também se referiu a dois exemplos de ajuste fiscal. Na Alemanha, afirmou, Angela Merkel cortou despesas em 2009, antes que a queda na arrecadação de impostos corroesse o orçamento federal.

Nos Estados Unidos, em 2011, o presidente Barack Obama definiu um corte e enviou ao Congresso mensagem para que deputados e senadores definissem onde iriam aplica-los.

Como a questão não foi resolvida pelos políticos, a Casa Branca optou por cortar por conta própria. Foi o que se designa em linguagem orçamentária americana como “sequestro”.

Rabello de Castro disse, por fim, esperar que em 2019 o Brasil esteja nos trilhos, a partir de decisões corretas que as eleições de 2018 deverão viabilizar.

FOTOS: Fábio H. Mendes

 

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