Os desafios das cidades inteligentes
Questões como privacidade, segurança e controle dos dados foram discutidas durante o fórum da Campus Party

Uma cidade totalmente conectada deixou de fazer parte da imaginação ou dos filmes de ficção científica. Hoje, parte significativa da população das grandes cidades do Brasil e do mundo têm acesso à internet.
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do ano passado mostrou que o número de smartphones no país já alcançou a marca de 168 milhões.
O total é de 1,6 dispositivo por brasileiro, se somados esses celulares com os computadores.
Esses números continuarão a crescer. Até 2018, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) calcula que os smartphones devem chegar a 236 milhões.
Todos esses aparelhos geram diariamente um número gigantesco de dados: 2,5 quintilhões de bytes são criados em 24 horas, segundo a Business Software Alliance (BSA). Esse valor deve se multiplicar com a Internet das Coisas nos próximos anos.
ESPECIALISTAS DEBATEM O FUTURO DAS CIDADES INTELIGENTE NA CAMPUS PARTY
CIDADES INTELIGENTES
Coletar e armazenar esse volume de dados já é possível. O principal desafio, agora, tanto para o poder público quanto para as empresas é saber interpretar essas informações. E mais para frente, com o desenvolvimento da inteligência artificial, capacitar as máquinas para agir diante desses dados.
Esse foi um dos temas discutidos no Fórum Campus que ocorreu na 10ª edição da Campus Party.
Especialistas se uniram no palco do evento para discutir os rumos das cidades inteligentes nos próximos anos.
Hoje, por exemplo, já é possível mapear a mobilidade das grandes cidades por meio da combinação de diferentes bancos de dados, como os dos aplicativos que os usuários de carros, bicicletas e ônibus utilizam diariamente.
Por meio do cruzamento dessas informações, já é possível entender, nos mínimos detalhes, como funciona o deslocamento dos cidadãos, quais são os pontos mais críticos e, até mesmo prever congestionamentos.
Porto Alegre é uma das cidades brasileiras que já está usando os dados produzidos pelos próprios cidadãos na internet para guiar as políticas públicas.
O projeto, ainda em fase inicial, está sendo utilizado para debater o reajuste das tarifas dos transportes públicos. Nesse caso, o Big Data ajuda a entender o comportamento e a opinião dos usuários.
“Os preços das tarifas deixam de ser algo discutido apenas entre a prefeitura e as empresas de ônibus”, afirma Michel Costa, diretor do Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre. “Agora, por meio do Big Data, a população está envolvida nas negociações. ”
Mas nem sempre é tão fácil. Uma das questões envolvidas é que alguns dados pertencem às empresas privadas que, geralmente, vendem essas informações ou simplesmente as mantém em sigilo.
Por isso, Francesco Farruggia, presidente da Fundação Campus Party, defende que todos os dados devem pertencer aos cidadãos.
SEGURANÇA
Outra questão que permeia as cidades inteligentes e a coleta de dados diz respeito à privacidade. Para explicar o problema, Farruggia faz o seguinte paralelo: durante a revolução francesa, as pessoas lutaram pelos direitos básicos do cidadão.
Hoje, temos que lutar para que esses direitos conquistados no passado sejam estendidos para o mundo digital.
A correspondência de um cidadão, por exemplo, só pode ser aberta com ordem judicial. O mesmo não acontece com o e-mail. As empresas provedoras têm acesso a todas as informações e conteúdos mesmo sem autorização judicial.
Com a ampliação da internet das coisas e com as cidades inteligentes, os problemas de segurança dos dados e privacidade podem ganhar proporções gigantescas.
O deputado federal Paulo Teixeira (PT), que participou do fórum, se comprometeu a levar a questão para a câmara. Ele deseja em conjuntos com os especialistas do tema criar uma nova legislação para proteger os dados dos cidadãos.
FOTO: Thinkstock