O restaurante que é sinônimo de comida mineira

Conheça a trajetória de Geraldo Magela Carneiro, (no destaque), fundador e sócio do Consulado Mineiro

Wladimir Miranda
15/Jun/2019
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O restaurante que é sinônimo de comida mineira

O nome dele é Geraldo Magela Carneiro, mas ele gosta mesmo é de ser chamado de Consulado Mineiro. É pelo nome do restaurante do qual é sócio, que ele ficou conhecido.

São três as unidades do restaurante. O da Praça Benedito Calixto, 74, administrado por ele e os dois sobrinhos, Giovani e Helvécio; o da rua Cônego Eugênio Leite, 504, comandado por Fernando Carneiro, seu irmão, e o da rua Artur Ramos, 187, todos na região de Pinheiros, que tem o outro sobrinho, Alexandre, no comando.

BUFÊ DO RESTAURANTE

Geraldo virou uma personalidade da vida cultural e gastronômica da cidade. Como reconhecimento, ganhou o título de cidadão paulistano.

De uma família de treze irmãos, Geraldo desembarcou em São Paulo em 1974, com uma mala de papelão nas mãos “trajando calça e camisa xadrez e sapatos plataforma”.

Junto com ele, vieram cinco dos treze irmãos. Deixou para trás os pais e a pequena Senador Firmino. Geraldo garante que não é o mais famoso da família. Celebridade mesmo é o chef Fernando Carneiro, um de seus irmãos, que se especializou em gastronomia e hoje costuma aparecer em programas sobre culinária na televisão.

CASARÃO

De perto, a casa da Praça Benedito Calixto nem parece um restaurante. É um casarão com vários cômodos. Detalhe: todos cheios, principalmente na hora do almoço, de segunda a segunda.

O jeitão mineiro não está só nos pratos, do tutu especial, que serve tutu com linguiça e ovos, lombo, torresmo, farofa de banana, couve e arroz, à costelinha à mineira, que vem com costelinha, linguiça, tutu, couve e arroz, mas, e principalmente, nos “uais”, “ansdionte” (antes de ontem), “acóde eu” (me ajude), falados pela maioria dos garçons que trabalham na casa.

Afinal, como dizia Guimarães Rosa, “Minas, são muitas. Porém, poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais”.

É que, dos 28 funcionários que trabalham no restaurante, 23 vieram de Senador Firmino, a terra de Geraldo Magela e família.

Senador Firmino fica na Zona da Mata, a 312 quilômetros de Belo Horizonte.

O faturamento mensal do Consulado Mineiro da Praça Benedito Calixto chega a R$ 400 mil. Mas Geraldo, como bom mineiro que é, vai logo avisando que os gastos são muitos.

“Só de aluguel do imóvel eu pago R$ 30 mil. Deste total, tenho de tirar as com a folha de pagamento, gás, água e luz. A carga tributária é pesada. Mas eu gosto disto aqui. É a minha vida”, diz ele.

Ostentação não é com ele.

“Levo uma vida simples. As viagens que faço são para a minha terra. É o que eu vou fazer agora, na Semana Santa.

Não gosto de acumular riquezas. Tenho um bom apartamento e dois carros. Está bom demais, sô. O Consulado Mineiro é a minha vida. Não tenho plano b”, , afirma, embora também tenha participação como sócio do menos conhecido Restaurante Consulado da Bahia.

Geraldo tem 69 anos de idade. Fala com orgulho dos 28 anos que está à frente do consulado. Lembra-se perfeitamente como tudo começou.

PERTO DO BAR RIVIERA

Quando chegaram à São Paulo, Geraldo e os cinco irmãos foram morar em um apartamento, alugado, no bairro do Paraíso. Fixar residência na região da Av. Paulista fazia parte dos planos do grupo de mineiros.

Trazia um diploma de ginásio e um sonho: vencer na Capital paulista. Trabalhou em supermercado, em banco, no metrô, no Prodam/CET. Fez curso técnico de mecânica, de 1976 a 1980. Em 1981, ingressou na faculdade de administração de empresas, mas não concluiu o curso.

“A gente sabia que morar perto da Avenida Paulista facilitava a vida de quem queria arrumar emprego ou estudar”, recorda ele.

Os seis irmãos passaram a ser ótimos anfitriões para os mineiros que vinham de Senador Firmino para tentar a sorte em São Paulo.

O apartamento no Paraíso começou a ficar pequeno demais para os conterrâneos que chegavam de Senador Firmino. Foram, então, morar do outro lado da Av. Paulista, nas proximidades da Rua da Consolação, em um imóvel vizinho ao Bar Riviera, que ficou famoso na década de 1960, reduto de artistas, jornalistas, intelectuais, poetas, boêmios em geral.

HABILIDADES NA COZINHA

Eram tantos os mineiros que frequentavam o apartamento, que ele não demorou a começar a ser apelidado de Consulado Mineiro. Além de abrigar quem vinha de Senador Firmino, Geraldo e Fernando Carneiro começaram a mostrar suas habilidades na cozinha.

A feijoada e os pratos mineiros servidos começaram a ficar famosos.

“A gente não cobrava nada pela comida. Mas as pessoas logo tiveram a ideia de ajudar a comprar os ingredientes. A ‘vaquinha’ ficou famosa. Além dos mineiros, colegas de trabalho da CET começaram a frequentar o apartamento. Também apareciam "lá em casa" funcionários do metrô, onde Fernando Carneiro trabalhava”.

Pronto, nascia ali o Consulado Mineiro.

Quando Geraldo encontrou a casa em que uma das unidades do Consulado Mineiro está instalado até hoje, na Praça Benedito Calixto, teve de pedir licença não remunerada em seu trabalho na CET.

“Fiquei dois anos licenciado. Queria ver se eu dava certo como empreendedor”, conta.

GLOBAIS

Deu tão certo que a sua casa vive lotada. Globais como o ator Tarcísio Meira, o comentarista esportivo Casagrande, o apresentador de televisão Luciano Huck e ex-jogadores/celebridades como Ronaldo, Raí e jogadores atuais como Elias, do Atlético Mineiro, sempre aparecem por lá.

O que faz Geraldo ficar orgulhoso é que vários restaurantes de comida mineira que existem em São Paulo, pertencem a garçons que trabalharam em uma das unidades do Consulado Mineiro.

“Eu sei disso, porque já visitei vários restaurantes e encontrei lá garçons que passaram pelo Consulado Mineiro”, garante ele.

Hoje, Geraldo avisa que não quer abrir outros negócios ou expandir o Consulado Mineiro. Ele teve outra experiência também no ramo de gastronomia, que não deu certo. Lá, eram servidos pratos à moda da culinária do Espírito Santo, como moqueca e torta capixabas. Era o Espírito Capixaba, na rua Francisco Leitão, também na região de Pinheiros.

“Deixei na mão de um gerente e a casa faliu”, conta.

No Consulado, o cliente vai encontrar o clássico da comida mineira, como feijão tropeiro, vaca atolada, carne de sol, arroz, ovo, tutu e couve.

O chamado prato executivo custa, em média, R$ 30,00.

Entre os pratos regulares do cardápio, o Zona da Mata (carne-de-sol na manteiga, tutu, couve, mandioca frita e arroz), é um dos mais servidos, ao preço de R$ 108,00, suficiente para duas pessoas.

O prato mais vendido é a feijoada, servida todos os dias.

FESTIVAL DE SOPAS

A atração da casa nas noites frias de junho é o 3º Festival de sopas, cremes e caldos. No bufê, creme de mandioca, canja de galinha, caldo verde, canjiquinha com costelinha, caldo de feijão, bambá de couve, sopa de inhame, creme de mandioquinha, sopa de alho-poró e canjica de milho com amendoim (sobremesa), além de vários acompanhamentos: cuscuz de carne de sol, torresmo, torrada, pães, alho torrado, cebolinha e queijo ralado.

O preço é de R$ 42,00 por pessoa. Crianças até cinco anos não pagam e de seis a 11 pagam R$ 21,00.

Geraldo lembra que o Consulado Mineiro faz, desde que foi fundado, um trabalho interessante na área cultural, no apoio a espetáculos teatrais, musicais e exposições.

“Eu vivo daqui. Não fiz plano b da minha vida", avisa.  

IMAGENS: Divulgação

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