O que movimentou (ou não) o varejo de moda até agora
Datas comerciais foram representativas para o calendário do comércio e são uma oportunidade para dar fôlego para as empresas. Tíquete médio da categoria no online foi de R$ 291,81
Após enfrentar a maior crise da história, que teve início no segundo semestre de 2013, o comércio em geral está à espera do retorno dos consumidores.
Os números mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido - o movimento de vendas do varejo da capital paulista cresceu em média 1,6% no primeiro semestre deste ano frente ao mesmo período de 2018, de acordo com o Balanço de Vendas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Num recorte considerando apenas o varejo de moda, a expectativa é de estabilidade. O bom desempenho dos primeiros meses do ano levou a ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil, que reúne cerca de 90 empresas) a apostar na retomada da categoria em 2019.
Nas regiões do Brás e Bom Retiro, principais polos varejistas de moda da capital, as projeções são otimistas e os comerciantes acreditam na volta do crescimento de vendas em 2019.
Em uma travessa da rua José Paulino, no Bom Retiro, a vendedora Jhuliana Ramos, 36 anos, diz que os primeiros seis meses do ano ainda não correspondem ao cenário pré-crise, mas já foi melhor que 2018.
Araras promocionais com peças entre R$ 15 e R$ 40 são as grandes responsáveis por alavancar as vendas da loja. São peças de coleções passadas ou arrematadas por quilo em confecções por terem pequenos defeitos. Para os pagamentos em dinheiro, ainda tem desconto de R$ 5.
“Fazemos a nossa parte. Organizamos as peças por cores, passamos as roupas, trocamos as combinações dos manequins todos os dias. Tudo para encher os olhos das clientes”, diz.
Outro ponto positivo é que ruas como a José Paulino e Aimorés, que são muito procuradas pelos lojistas já apresentam menos imóveis desocupados e com placas de aluga-se.
A presença fixa de alguns foodtrucks na região também reforça o fluxo constante de consumidores pelas ruas de comércio.
Nelson Buraqui, gerente da Miraz, uma loja de roupas femininas, diz que a sensação ainda é de cautela. Durante a crise, seis funcionários tiveram de ser demitidos por contenção de custos e a equipe atual de apenas quatro funcionários ainda tem condições de atender um movimento de clientes 30% superior ao que tem recebido.
“Já vivemos dias melhores, na comparação com os anos anteriores. Mas, nossos estoques ainda estão reduzidos e a expansão das vendas pouco consistente”.
Na avaliação do gerente da Miraz, o que mais tem animado o consumidor final para encher as sacolas têm sido as peças com preços baixos e as oscilações de temperatura.
BRÁS VIRTUAL
Com o propósito de reunir a comunidade de vendedores da região do Brás em um único endereço na internet, a Giro no Brás vende para todo o país das duas formas mais consagradas pelo bairro: atacado e varejo.
Com a cartela de clientes bem equilibrada (50% varejo e 50% atacado), a plataforma registrou um crescimento de 400% no primeiro semestre deste ano. Pouco para Viviane Marrese, responsável executiva pelo marketplace.
Na opinião de Viviane, a insegurança no emprego e a renda comprometida assustam quem compra no varejo, assim como as vendas em baixa intimidam os atacadistas.
O Dia das Mães, por exemplo, uma das datas mais importantes para o varejo, praticamente não aconteceu dentro da plataforma Giro no Brás. Segundo a executiva, nenhum pico de compras foi registrado durante o mês de maio, tampouco nas semanas que antecipavam a data.
Algo parecido aconteceu no Dia dos Namorados e deve se repetir no Dia dos Pais, no próximo dia 11. Nessas datas, a procura foi mais forte por peças mais básicas e mais baratas, como camisetas e bermudas.
“Percebemos que a venda de falsificados ainda tenta os consumidores. Está todo mundo sem dinheiro”, diz.
Outro item importante é a virada dos termômetros que esse ano aconteceu mais tarde em São Paulo, mas que não teve relevância em Goiânia e outras cidades do Norte e Nordeste que são regiões importantes para as vendas do marketplace.
Com clientes sacoleiras de todo o país, o tíquete médio da plataforma no atacado é de R$ 2 mil. No entanto, as facilidades de compra online também atraem o consumidor final, que costuma gastar entre R$ 150 e R$ 200.
MODA NACIONAL
A venda de itens de Moda e Acessórios foi responsável por 5,6% dos R$53,2 bilhões faturados pelo varejo virtual brasileiro no último ano, de acordo com o relatório Webshoppers, da Ebit|Nielsen.
A categoria está entre as que lideraram o ranking de 2018 em número de buscas - no segundo lugar, com representatividade de 13,6%, quando o setor apresentou um crescimento de 6% no número de pedidos, em relação a 2017.
Assim como no comércio físico, a expectativa é que essa tendência de crescimento se mantenha ao longo de 2019. Um estudo feito com base em 36 milhões de vendedores virtuais, em que 15,1% correspondem à categoria de Moda e Acessórios apresenta boas perspectivas sobre o primeiro semestre de 2019.
O preço médio dos produtos da categoria durante o período foi de R$ 291,81. Em 2018, o tíquete médio ficou em R$177.
O relatório aponta que nos primeiros seis meses do ano, foi possível identificar vários picos de vendas, sendo que o maior aconteceu no dia 15 de maio (Dia do Consumidor) — logo após o Dia das Mães e a menos de um mês do Dia dos Namorados.
A data que comemora os apaixonados também puxou as vendas nas semanas que se seguiram, registrando o segundo maior pico de conversões para categoria no dia 6 de junho, a uma semana do evento.
Outro dado apurado pelo relatório mostra que Janeiro se destaca na performance do setor, sendo o segundo mês com maior representatividade de vendas. Janeiro concentra 18,4% das conversões dos primeiros seis meses do ano.
O primeiro lugar, no entanto, fica para o mês do Dia dos Namorados, junho, que representou 19,2% das vendas do setor. E, em terceiro lugar vem maio, mês das mães, em que a Moda e Acessórios aparece como uma das categorias mais vendidas, junto com Beleza e Saúde e Eletrodomésticos.
O mesmo relatório aponta que no primeiro trimestre do ano o desktop concentrava 57,1% das visitas, sendo o dispositivo favorito para pesquisa de ofertas dos consumidores.
Quando levamos em consideração os seis primeiros meses de 2019, a representatividade do canal cai para 48,2%, em benefício do Mobile, que passa a concentrar 51,8% das visitas em e-commerces da categoria.
FOTO: Mariana Missiaggia/DC