Nem o Dia das Mães deve salvar as vendas no segundo trimestre

Confiança do consumidor tem queda recorde em março, segundo levantamento encomendado à Ipsos pela Associação Comercial de São Paulo

Karina Lignelli
08/Abr/2015
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Nem o Dia das Mães deve salvar as vendas no segundo trimestre

A trajetória descendente continua: a confiança do consumidor fechou o mês de março com 117 pontos – uma queda de 11 pontos ante fevereiro, e de 20 pontos comparada a março de 2014.

Os dados são do INC (Índice Nacional de Confiança do Consumidor), da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), medido pelo Instituto Ipsos junto a 1,2 mil brasileiros. O indicador é o menor desde abril de 2009, no auge da crise global.  

“Os ajustes na economia, os aumentos de tributos, preços e tarifas e a alta do câmbio provocam quedas no poder aquisitivo e na confiança da população”, afirma Alencar Burti, presidente da ACSP e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo).

No recorte por região, o Sudeste registrou a marca a mais pessimista, com 107 pontos. O Estado de São Paulo puxou para baixo o resultado, com 104 pontos – a pior da série histórica iniciada em 2005.

“A crise hídrica e a desindustrialização são os principais fatores da queda na confiança da região”, afirma Emílio Alfieri, economista da ACSP. Norte/Centro-Oeste, e o Sul, em geral as regiões mais otimistas por conta do agronegócio, tiveram queda de 20 e 16 pontos em março ante fevereiro, com 134 e 113 pontos respectivamente.

Só no Nordeste o indicador se manteve estável, com aumento de um ponto em março (126). O aumento do salário mínimo e a prioridade às políticas do Bolsa-Família no combate à pobreza mantiveram a estabilidade do indicador, afirma o economista.

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PESSIMISMO GENERALIZADO

No que diz respeito às classes sociais, o indicador se fixou em 97 pontos no topo da pirâmide de renda – abaixo de 100, portanto, o campo do pessimismo do INC. “Mesmo com condições de enfrentar a crise, as classes mais altas são as mais informadas e atentas ao noticiário econômico”, diz Alfieri.

Na classe C, a queda na confiança foi de 11 pontos em março (134 para 123), devido à piora nas condições de crédito. Já na D/E, a queda de nove pontos (130 para 121) se deve ao impacto do preço dos alimentos e da energia elétrica.  

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Outras percepções do consumidor também se deterioraram. Do total de entrevistados, 38% estavam otimistas quanto à sua situação em março ante 43% em fevereiro e 47% em março do ano passado. Já a situação financeira futura se manteve estável, com 46%, 47% e 48% nesses períodos.

A segurança quanto ao emprego ficou em 30% no mês passado, ante 31% em fevereiro. “Vale ressaltar que 35% declararam insegurança quanto a manter o emprego”, diz Alfieri.

Quanto à intenção de compras à prazo, 31% estavam mais à vontade para adquirir eletrodomésticos contra 39% menos à vontade. Para compra de bens de maior valor, como carros e imóveis, 51% estão menos à vontade, em comparação aos 23% que se sentem mais à vontade. 

De acordo com Alfieri, o quadro faz lembrar comportamento semelhante ao da crise de 2009. “O que se deve  ressaltar é que foi completamente revertido por aqui em 2010. A expectativa é que, após os ajustes macroeconômicos, as coisas comecem a melhorar.”

MENOR INTENÇÃO DE COMPRA EM ONZE ANOS

Aparentemente, nem o Dia das Mães, a segunda melhor data em vendas para o varejo, vai salvar as vendas no segundo trimestre de 2015. Pesquisa do Provar (Programa de Administração do Varejo), da FIA (Fundação Instituto de Administração), em parceria com o Ibevar (Instituto de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo) e pela Felisoni Consultores Associados, confirma: o percentual de consumidores que pretendem comprar bens duráveis no período é de 46,6%.  

O levantamento, realizado em março com 500 paulistanos e divulgado nesta quarta-feira (8), revela que o indicador é o menor desde igual período de 2004, quando ficou em 45,1%. Comparado ao primeiro trimestre de 2015, quando ficou em 49,6%, o indicador caiu três pontos percentuais. Ante o segundo trimestre de 2014, a queda foi ainda maior (6,6 pontos), já que o índice fechou em 53,2%.

O cenário pessimista de inflação, insegurança no emprego, juros altos e restrição do crédito são os responsáveis pelo resultado, afirma Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Conselho do Provar/FIA.

VESTUÁRIO ESTÁ NA LANTERNA DO RANKING DE COMPRAS, SEGUNDO O PROVAR

“O segundo trimestre sempre apresenta elevação em relação aos primeiros meses do ano. Mas não esperamos um bom indicativo de vendas para essa data (o Dia das Mães) no varejo”, diz, ao lembrar que a projeção é de 1,5% de queda nas vendas no período.  

Olhando mais de perto, o comprometimento da renda das famílias ainda é alto, com sobra de apenas 6,1% para novos gastos, aponta a pesquisa do Provar. O crediário ocupa o maior espaço, com 23,1% do total. Alimentação fica com 19%, seguida por habitação (12,6%), transportes (8,3%) e saúde e cuidados pessoais (4%). Vestuário ficou em último, com 3,4%.  

Na prática, o consumidor tem diversificado locais de compra para gastar menos, segundo levantamento da Nielsen sobre hierarquia das decisões. Em busca do melhor preço, atacarejos têm sido a opção de 44% das famílias, mas 5% já procuram reduzir as idas ao ponto de venda - inclusive para comprar alimentos.  

“O consumo hoje é mais qualificado, e o consumidor não quer perder essa ‘conquista’. Mas evita compras por impulso e tem dado um passo atrás nas marcas para se readequar ao momento”, diz Olegário Araújo, diretor de atendimento para atacado e varejo da Nielsen.

E-COMMERCE

Por outro lado, o e-commerce pode resgatar as vendas: de acordo com a E-bit (consultoria especializada em informações do comércio eletrônico) apresentados pelo Provar. A intenção de compras pela internet soma quase o dobro para o trimestre: 92,8%.

Pedro Guasti, diretor executivo da E-bit, diz que, em tempos de crise, consumidores migram para o comércio virtual, principalmente pelos descontos e condições especiais de pagamento. E em tempos de economizar, buscadores e comparadores de preços são uma ajuda extra.  

“Assim como aconteceu em outras crises, a disputa entre o varejo off e online se acirra porque o consumidor está com menos dinheiro no bolso. Mais conectado e mais consciente, esse consumidor online tem mais condições de balizar preços antes de ir às compras.”  

Mesmo assim, a E-bit afirma que pode revisar as projeções de crescimento do e-commerce, estimadas em 20% para 2015, no próximo relatório Webshoppers. Guasti afirma que os dados preliminares do primeiro trimestre mostram um crescimento menor, de 13%: “Mas esperamos uma retomada, já que as vendas pelas internet costumam crescer mais no segundo semestre puxadas por datas como a Black Friday e o Natal.” 

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