Na Ceagesp, comerciantes perdem 7 mil toneladas de alimentos
Prejuízo com a enchente foi estimado em R$ 24 milhões, mas permissionários garantem que não haverá risco de desabastecimento nem aumento de preços. População ainda tenta remediar os danos
Permissionários da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) perderam 7 mil toneladas de alimentos com a enchente que atingiu o local, na zona oeste. O prejuízo foi estimado em R$ 24 milhões.
Nesta terça-feira (11/02), os comerciantes trabalhavam na limpeza das áreas afetadas e previam para a tarde de hoje a retomada dos serviços ao público. Em outras regiões da capital paulista, o dia também foi de recuperação. Em todos os corredores, funcionários desinfetavam o chão e as paredes, que ainda tinham manchas de lama.
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Do lado de fora, as mais diferentes frutas eram descartadas, formando montanhas de melão, melancia, abacaxi e laranja. Trabalhando desde 1975 no local, o gerente da Frutas Previtali Antonio Alceu Bernardo, de 67 anos, conta que nunca tinha visto destruição nessas proporções. "Ainda não dá para calcular o prejuízo. A gente trabalha com uva, ameixa, pêssego, todas frutas nobres. Tudo o que estava a 1 metro e meio do chão foi perdido. Perdemos os computadores que estavam no escritório e estamos vendo como estão as empilhadeiras. Temos duas e cada uma custou R$ 37 mil", conta.
Permissionário do box, Carlos Previtali, de 55 anos, diz que não há previsão de desabastecimento nem aumento de preços. "No caso das frutas, as lojas estão abastecidas. Estou com estoque e os fornecedores vão mandar mais. Não tem esse negócio de subir o preço."
Vendedor da TH, Ricardo Delvecchio, de 42 anos, disse que estava com outro funcionário quando começou a inundação dos estandes. "A gente chegou às 2h20 e a água subiu muito rápido. O nosso prejuízo não foi tão alto porque a gente conseguiu subir a mercadoria", conta. "Tudo tem de ser jogado fora. A população não corre risco. Quando reabrir, só vai ter fruta nova. A gente só vende produtos de qualidade", afirma Bernardo.
Cerca de 40 funcionários da padaria Super Pão também faziam a limpeza do local. Mesas, cadeiras e expositores eram higienizados do lado de fora por um grupo, enquanto outro trabalhava no interior.
MORADORES
Na região central de São Paulo, além dos prejuízos para o comércio, a enchente também provocou danos para os moradores. No pequeno sobrado no Bom Retiro, onde mora com a mãe e a irmã, Antônio Bezerra, de 43 anos, contou que em minutos viu a água do temporal e do transbordamento do Rio Tietê atingir tudo.
"Ainda estava escuro, era umas 5h, quando a gente ouviu um barulho de água, como se fosse um vazamento ou uma torneira aberta. Eu levantei e vi que a água já tinha invadido toda a parte térrea. Pensei em levantar os móveis, mas só deu tempo de colocar a geladeira em cima da mesa", contou.
Segundo ele, em menos de meia hora, a água já ultrapassava a altura dos joelhos e a família deixou a casa às pressas. Bezerra e a irmã voltaram para a casa na noite de segunda-feira, quando parte da água já havia recuado. Ontem, eles iniciaram a limpeza. Do lado de fora, uma pilha de roupas, enfeites, sofá, cadeiras e outros pertences estragados. Dentro, o que ainda tinham esperança de não ter estragado.
"Espero que a máquina de lavar não tenha quebrado. A geladeira, que é mais cara, foi só o que consegui salvar na hora."
Concentrar a atenção no que era possível salvar também era o esforço do radialista Reginaldo da Mata, de 58 anos, na tarde de ontem. A casa dele no Bom Retiro, a cerca de quatro quadras do Rio Tietê, também foi invadida pela água. "Entre na sala e veja o que sobrou, só a televisão", disse, enquanto lavava um colchão de casal, com mangueira e sabão, em frente de casa.
Mata mora há 30 anos no bairro, com a mulher e a filha, e contou que a rua sofre constantemente com alagamentos por causa da chuva, mas nunca na gravidade desta segunda-feira. "É um descaso. Sabem que a região alaga, que sofre com enchente, mas não fazem nada. Nunca foi tão grave assim, mas não tenho esperança de que vão fazer algo por nós."
O prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou que as famílias atingidas pelo alagamento podem pedir isenção de IPTU para o próximo ano. No entanto, as casas do Bom Retiro já são isentas do tributo exatamente pelo risco de transbordamento. A Prefeitura informou que, nas últimas três semanas, equipes fizeram limpezas nas bocas de lobo e poços de visita no Bom Retiro.
Segundo a nota, o serviço de limpeza é frequente e diz ter coletado 17,8 mil toneladas de resíduos de bueiros e bocas de lobo no ano passado. Também informou que nos últimos dois dias mobilizou 4,5 mil agentes para lavagem das vias afetadas. Questionada sobre obras e ações para evitar novas enchentes no local, a Prefeitura não respondeu.
FOTO: Reprodução/Ceagesp