Mais três meses perdidos no varejo
Queda nas vendas entre janeiro e março foi de 9,3%, segundo Boletim AC Varejo, da ACSP. Nem setores que resistiam à crise, como farmácias e perfumarias, ficaram imunes ao resultado

A trajetória de queda continua. Em março, o varejo ampliado paulista – que inclui móveis e materiais de construção – caiu 13,5% em volume de vendas, de acordo com o Boletim AC Varejo, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O resultado foi menor do que o recuo de 8,1% registrado em fevereiro. Com isso, as vendas do trimestre fecharam em queda de 9,3% ante igual período de 2015, com ligeira alta do faturamento em 0,6%.
As incertezas em relação à crise política, ao impeachment e aos rumos da economia provavelmente “contaminaram” o desempenho do varejo em março, afirma Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP.
“Também poderia ser um problema de base fraca de comparação, mas a verdade é que não houve mudança”, diz.
“O varejo continua mantendo a tendência de queda porque aqueles fatores (renda, crédito, emprego) continuam operando nessa direção.”
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No varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção), as vendas caíram 9,1% nos três primeiros meses do ano. Já o faturamento aumentou 1,8%.
Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), reforça que a crise do varejo se estende pelo País e decorre da diminuição da renda, do avanço do desemprego e da contração do crédito, deixando o consumidor mais inseguro e pessimista, sem disposição para comprar.
“E o Estado de São Paulo sente mais porque é afetado pelas reduções da atividade econômica e do emprego advindas do setor industrial”, afirma.
A ligeira melhora na confiança em abril sinaliza que o foco é recuperá-la de qualquer maneira, segundo Burti.
“Há uma perspectiva positiva em relação à nova equipe econômica. Acreditamos que, até o final do ano, de forma gradual, o comércio pare de cair e comece a sinalizar uma recuperação, que só deverá vir, de fato, no ano que vem”.
Gamboa afirma que, apesar de até o fim do ano a tendência ser de melhora, 2016 talvez seja mais um ano perdido, como foi 2015.
Mesmo que o novo governo e as medidas anunciadas deem uma guinada positiva na confiança, também não significa que os consumidores vão “sair correndo para gastar no shopping”, ou que os empresários “construirão um hotel amanhã”, diz o economista.
“Ainda que haja recuperação, a insegurança no emprego, entre outros fatores, manterá a confiança no campo pessimista. Será difícil esperar crescimento este ano”, completa.
REGIÕES E SETORES
Todas as regiões do Estado apresentaram resultados negativos nas vendas no primeiro trimestre ante igual período de 2015.
As quedas mais acentuadas ocorreram nas regiões Metropolitana Oeste (-15,5%), Campinas (-10,5%) e Litoral (-10%). Já os menores recuos foram registrados no Vale do Paraíba (-3,3%) e região de Araçatuba (-3,7%).
Todos os setores do varejo paulista também ficaram no vermelho no primeiro trimestre, com destaques para as concessionárias de veículos (-19,7%) e lojas de departamento, eletrodomésticos e eletroeletrônicos (-19,4%).
Até segmentos que demoraram para sentir os efeitos da crise, como o de farmácias e perfumarias e o de supermercados, registraram quedas. Em farmácias, o recuo foi de 2,3% e em supermercados, a redução nas vendas foi de 2,8%.
O Boletim AC Varejo é um levantamento elaborado mensalmente pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP, a partir de informações fornecidas pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz-SP).
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