Lojão da Mulher: caminhão leva itens de beleza para vender na periferia
Sem trabalho na pandemia, empresário da Zona Leste transforma veículo em negócio sobre rodas. Com quatro veículos e uma loja física, empreendimento tem 22 funcionários contratados e faturamento mensal de R$ 300 mil
Paulistano da Penha, na Zona Leste, Rodolfo Pereira da Silva nem dormiu na véspera. Era julho de 2020. De manhã cedo, ele levou seu caminhão até Cidade Kemel, divisa com Poá, na Região Metropolitana de São Paulo, abriu as portas do baú, colocou a escada metálica e esperou.
A ansiedade durou três minutos. Uma moça subiu e comprou uma esponjinha para maquiagem, a R$ 2,50. “Foi a venda mais feliz da minha vida”, afirmou Silva. Começava ali a trajetória do Lojão da Mulher, que agora tem quatro caminhões circulando – o quinto começa a rodar ainda este ano –, uma loja física (outlet), 22 funcionários contratados com carteira e 185 mil seguidores no Instagram. E com uma clientela bem específica: “O público-alvo é a periferia”.
Rodolfo Silva manteve durante oito anos a rotina de ir e vir com produtos para fora de São Paulo. “Chegava na cidade, montava a estrutura, o estande”, disse. Até que a pandemia interrompeu as feiras itinerantes de que participava e, de uma hora para outra, ele ficou sem trabalho. Ao guardar suas mercadorias em um quartinho, percebeu que as medidas eram próximas do baú de seu caminhão. E veio a ideia de transformar o estoque numa loja sobre rodas, mantendo a atividade de vendas. “Eu já tinha o caminhão, já tinha a mercadoria, mas não tinha o formato”, afirmou. “Pensei: em vez de feira, vou montar uma loja itinerante e fazer esse negócio dar certo. Vou para onde o povo está, vou para as favelas.”
POPULAR
Conhecimento de comércio popular ele tem. Hoje com 32 anos, começou a trabalhar aos 13 no Brás. Aos 17, montou sua própria banca e quatro anos depois começou a fazer feiras itinerantes, até chegar à fórmula do Lojão da Mulher, nome que ele escolheu. “Queria um nome simples e fácil de pegar”, disse. Em seguida, pintou e adesivou o veículo e instalou uma escada reforçada de inox. “Para as pessoas entrarem num caminhão sem sentir que é caminhão.”
Naquele primeiro dia, o da esponjinha, teve fila para entrar no caminhão-loja. “Não demorei 60 dias para montar o segundo caminhão. Agora, estou indo para o quinto.”
Hoje, um fica na Zona Leste, outro na Zona Sul, o terceiro no município de Guarulhos e o quarto na região do ABC. Cada loja móvel tem três funcionários. Os caminhões costumam ficar uma semana, às vezes duas, em cada local, das 10h às 19h, de segunda a sexta-feira.
Nesta semana, por exemplo, estão no Jardim Santa Teresinha (Aricanduva), no Taboão (São Bernardo do Campo), na Vila Galvão (Guarulhos) e na Estrada de Itapecerica (nos limites de Embu das Artes). O quinto também terá a Zona Sul como destino. Já a única loja fixa está localizada na Vila Salete, na região da Penha, Zona Leste. Vende também pelo site.
O Lojão da Mulher comercializa mais de 500 tipos de produtos, entre cosméticos, bijuterias, kits, acessórios e itens de skincare (argila, demaquilante, hidratante, máscara facial, sabonete), entre outros. Com tíquete médio de R$ 70, o faturamento já atingiu R$ 300 mil por mês, de acordo com o empresário e proprietário. “Eu vendo acessibilidade”, afirmou. “Vou para onde muita gente não vai. Eu falo que o Lojão da Mulher é empreendedorismo social.”
Com os negócios literalmente andando bem, uma preocupação agora é com o uso de energia elétrica, o que exige geradores. Por isso, Silva está pensando em modernizar a frota: “Em breve vamos colocar energia solar nos caminhões.”
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