Lembra da Marisa do Centro? Vai virar Princesa
Imóvel na esquina da rua Direita com a São Bento, em frente à Praça do Patriarca, que por cerca de 40 anos sediou a varejista de moda feminina, deve receber até o final de março uma megaloja da rede de perfumarias

Ainda faltam alguns retoques, o antigo e icônico relógio continua, mas as cores da fachada já mudaram para vermelho e branco, mostrando que o imóvel começa a assumir a identidade da nova ocupante: uma megaloja da rede de "supermercados de cosméticos" Princesa, ou "Princesinha", como é popularmente conhecida.
Até o final de março, o famoso prédio comercial de três andares na esquina das ruas Direita com a São Bento, em frente à Praça do Patriarca, no Centro Histórico da Capital paulista, que desde a década de 1980 foi sede da Lojas Marisa e ponto de encontro de consumidoras em busca de artigos de moda feminina e lingerie, deve sediar o novo empreendimento.
Presente desde 2002 na região, onde abriu a primeira loja na rua São Bento, 31, quase no Largo São Francisco (depois foi para o 51), a Princesa tem mais duas lojas nas imediações: no 259 da mesma rua, e no Largo da Misericórdia, 23.
Agora, a rede, que pertence a ramificações de famílias especializadas no comércio de artigos de beleza e perfumarias (Uehara e Teruya), se expande para um ponto com mais visibilidade, de olho no alto fluxo nos dois sentidos: o da rua Direita e o de quem vem do Viaduto do Chá e ruas adjacentes.
Cerca de 15 mil SKUs, entre cosméticos de todos os tipos, de marcas encontradas em supermercados, farmácias ou perfumarias, mas também linhas especializadas em maquiagem, perfumaria, coloração e tratamentos capilares da L'Oreal Professional, Joico e Kérastase, entre outras, ficarão expostos no andar térreo.
Já os demais andares oferecerão outras linhas de produtos, como artigos para pets e produtos de limpeza - uma demanda antiga nascida a pedido dos consumidores da Princesa, que permitiu às lojas da rede funcionarem na pandemia e que representam mais de um terço das vendas até hoje, mas ainda ocupam espaços restritos nas lojas. A diversificação do mix incluirá uma seção infantil, com carrinhos e cadeirinhas para bebês, e uma área com suplementos e moda fitness.
A expansão estratégica da rede, segundo a gerente das três unidades Adriele Almeida, há 19 anos na empresa e moradora do Centro "desde sempre", conforme diz, não é motivada só pela oportunidade de ocupar um espaço icônico que atrai alto fluxo de pessoas (e gerar mais lucratividade, claro), mas também pela melhora na sensação de segurança no entorno.
Essa sensação é confirmada por uma pesquisa realizada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em 2024, que aponta que 72% dos comerciantes locais estão otimistas com as melhorias realizadas pela Prefeitura para revitalizar o Centro.
Para a gerente, a parte de policiamento ficou "bem bacana", pois há a percepção de mais patrulhamento e presença constante de policiais. Ela conta que a antiga insegurança de circular pelas ruas do Centro já afastou muitos consumidores, e os lojistas tiveram problemas com furtos e roubos de correntinhas e até bolsas da clientela ou de quem circulava pela região.
"Os clientes se assustavam, já tivemos que acolher muitos deles. E sempre procuramos orientar a fazer Boletins de Ocorrência porque não fazer inibe o policiamento, os órgãos públicos acham que não está acontecendo nada", afirma. "O fluxo, que tinha caído na pandemia, não aumentou tanto, mas a gente percebe que pela maior segurança melhorou um pouquinho", completa ela, que diz que cerca de 15 mil consumidores únicos, profissionais de beleza ou pequenos lojistas, frequentam as lojas da rede diariamente. Todos "atraídos pelos preços", garante ela, que em média são 30% menores que os da concorrência.

Com a megaloja, a unidade da Princesa que fica no número 51 da São Bento vai fechar. "Ela está em uma parte da rua em que sobraram poucos comércios após a pandemia, só ficamos praticamente nós e a Prego (de calçados femininos). Quase não tem fluxo de pessoas naquele trecho da rua, então não é mais interessante nem tão seguro ficar lá", explica Adriele.
Sem e-commerce, o forte da Princesa são as lojas físicas, e sua presença on-line é mais ativa no Instagram, onde tem mais de 28 mil seguidores. Participa de programas de TV (como o da Eliana) e faz ações pontuais com blogueiras e influencers de cabelo e maquiagem. Também tem cinco unidades no interior de São Paulo: três em Sorocaba e duas em Campinas.
Mas o Centro de São Paulo é o grande foco: a chegada de novos estabelecimentos - como a Casa de Francisca, pertinho da Princesa do Largo da Misericórdia, ou a recém-inaugurada "academia-boutique" Cluster Set - vizinha "de porta", ao lado da igreja de Santo Antônio -, também deve impulsionar o público para a megaloja.
"E quem sabe no futuro até fazer algumas parcerias ou collabs para 'levantar' os dois lados?", visualiza a gerente, que diz que a empresa não revela números, mas tem "boas expectativas de crescimento" com sua incursão no novo modelo.
Mesmo sem utilizar os incentivos da Prefeitura e do Governo de São Paulo destinados aos empreendedores que queiram abrir negócios ou expandir no Centro da Capital Paulista, a Princesa é uma rede entusiasta da revitalização da região.
"A gente sentiu as melhorias nas calçadas, na limpeza da Praça da Sé, da segurança... isso ajuda a melhorar a exposição do Centro, que tem muitos prédios históricos, comércios e locais diferentes para conhecer", diz a gerente Adriele.
Mas ela tem uma visão crítica de que ainda há o que melhorar, principalmente na questão de zeladoria, de acolhimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social e de agilidade das obras de revitalização para ampliar o movimento.
Para ela, uma "expert" no Centro de São Paulo, é preciso avaliar o quanto isso tem sido positivo para atrair público. "Sabemos que todas as obras que têm sido feitas por aqui são para melhorar, mas é tudo muito devagar, e isso acaba atrapalhando um pouco", destaca. Ela menciona a obra em frente à Princesa do Largo da Misericórdia, que está ali desde o ano passado.
Os clientes, que saíam da perfumaria para tomar um café na Sodiê (Doces) do outro lado da rua, mas agora precisam dar a volta na obra, se estão com pressa não vão em nenhuma das duas, afirma ela, que diz que a loja sentiu uma queda média de 50% nas vendas.
"A Prefeitura conversou com a gente, explicou, sabemos que há vários órgãos envolvidos, mas é preciso ver os dois lados", destaca.
Recebendo consumidores de todas as regiões de São Paulo, e também de cidades como São Bernardo e Guarulhos, a Princesa tem um público "muito fiel", segundo Adriele, composto por clientes individuais e até pequenas perfumarias de bairro, que "sempre chegam com a lista de compras na mão".
Mas o objetivo com a megaloja é mesmo se consolidar no Centro. E sem planos de ir para outras regiões da cidade no radar. "Por enquanto não tem nada em vista. Mas a Princesa é sempre uma caixinha de surpresas", finaliza.
IMAGEM: DC