Inflação oficial continuou em queda livre em agosto
A perspectiva para os próximos meses é de interrupção desse ciclo de queda do IPCA, devido às pressões exercidas pelos reajustes de água, gás e gasolina, segundo economistas da ACSP

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação “oficial”, avançou 0,19% em agosto, desacelerando em relação ao aumento registrado no mês anterior (0,24%), e surpreendendo os analistas de mercado, que esperavam maior alta dos preços
(0,32%).
Assim, a queda da taxa de inflação acumulada em 12 meses foi ainda maior, alcançando a 2,46%, a menor taxa desde fevereiro de 1999, e mais abaixo ainda do limite inferior da meta anual perseguida pelo Banco Central (3,0%).
Segundo análise de economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a continuidade dessa redução da inflação se explica fundamentalmente pela recuperação lenta do consumo, num contexto de alto desemprego, e pelos efeitos “deflacionários” do aumento da oferta de alimentos, como resultado do recorde de safra agrícola, que compensaram parte do aumento de preços gerado pelos reajustes da energia elétrica, decorrentes da mudança de bandeira tarifária e dos combustíveis, causados pela maior alíquota do PIS/COFINS.
No mesmo mês, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que corresponde a uma medida mais abrangente da inflação, reverteu o ciclo de cinco quedas seguidas, aumentando 0,24%.
Ainda assim, a inflação acumulada em 12 meses, de acordo com esse indicador, foi ainda mais negativa – deflação (-1,61%), do que a observada na leitura anterior (-1,42%), principalmente em função da deflação mais intensa dos preços das matérias primas agrícolas (IPA AGRO), que alcançou a 18,93%, na mesma base de comparação, mais do que compensando os maiores valores das matérias primas industriais (IPA IND), principalmente combustíveis e minério de ferro.
Em síntese, a recuperação mais lenta do que o esperado no consumo, aliada ao efeito da maior oferta de alimentos continuaram a desacelerar a inflação oficial durante o mês de agosto.
A perspectiva para os próximos meses é de interrupção desse ciclo de queda do IPCA, devido às pressões exercidas pelos reajustes de água, gás e gasolina, porém mantendo o indicador em patamares baixos, em decorrência da continuidade da deflação dos preços agrícolas no atacado.
De qualquer forma, as projeções de mercado continuam apontando para um resultado anual do IPCA próximo a 3%, o que abre espaço para a continuidade das reduções da taxa básica de juros (Selic), por parte do Banco Central, o que deverá consolidar a retomada da atividade econômica.
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