Indefinição política deixa a confiança no fundo do poço

Em queda desde dezembro de 2014, índice que mede o humor do consumidor para as compras, da ACSP e Ipsos, está estável no menor patamar da série histórica

Rejane Tamoto
07/Abr/2016
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Indefinição política deixa a confiança no fundo do poço

Depois cair em velocidade inédita desde novembro de 2014, quando ainda estava em 153 pontos, o Índice Nacional de Confiança (INC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) permaneceu no fundo do poço em março, aos 73 pontos.

O desânimo foi puxado pelo consumidor paulista, que atingiu 53 pontos e chegou ao pior patamar da série histórica iniciada em 2005.

O INC nacional está estável no patamar mínimo histórico há seis meses e expressa o sentimento dos brasileiros em relação ao emprego, à situação econômica do país, à intenção de compras e de investimentos.

Em relação ao mesmo período do ano passado, a confiança do brasileiro apresentou um forte recuo de 44 pontos (em março de 2015 marcava 117 pontos).

Nos últimos seis meses, o indicador oscilou dentro do intervalo de 77 a 72 pontos, em estabilidade nessa faixa. Coincidentemente, nos últimos seis meses o debate político se acalorou e culminou no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.

ACOMPANHE A QUEDA DO ÍNDICE NACIONAL DE CONFIANÇA (CLIQUE PARA AMPLIAR)

 

 

No entanto, o desfecho desse processo é incerto, já que é entremeado de ações paralelas, como a que pede a cassação da chapa de Dilma no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e, mais recentemente, o debate sobre a convocação de novas eleições presidenciais antecipadas. 

Para Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), não é possível prever como o INC vai se comportar nos próximos meses. 

“As vendas se deterioraram no primeiro trimestre, embora o INC esteja estabilizado desde outubro de 2015 na casa dos 70 pontos, sugerindo que – na opinião dos consumidores brasileiros – a economia não deve melhorar nem piorar no curto prazo. É importante destacar que há uma grande incerteza no campo político-institucional que deixa tudo muito nebuloso”, diz Burti.

Da mesma maneira que o desfecho da crise política é incerto, também é o da tendência da confiança do consumidor nos próximos meses. A avaliação é que o indicador pode se movimentar para cima com o anúncio de mudanças, mas também pode se inclinar com o surgimento de outros fatos e desdobramentos na esfera política. 

Um forte indicativo do peso da situação política sobre o ânimo do consumidor está nas regiões e classes sociais nos quais o pessimismo é maior.

REGIÕES E CLASSES SOCIAIS

A confiança dos consumidores do Estado de São Paulo permaneceu no menor patamar desde 2005, em 57 pontos na comparação com a média nacional e com a escala do INC, que vai de zero a 200 pontos. O intervalo entre zero e 100 pontos representa o campo do pessimismo e, de 100 a 200, o campo do otimismo. Em São Paulo, o indicador de março ficou três pontos abaixo ao de fevereiro.

Em janeiro e fevereiro de 2016, o INC do Estado de SP já havia alcançado um patamar mínimo histórico, com 60 pontos em ambos os meses. A velocidade da queda foi vertiginosa: no mesmo mês do ano passado, a confiança dos paulistas era de 104 pontos.  

“São Paulo sofre mais porque o setor industrial tem sido o mais castigado – o estado é o maior centro industrial do país”, afirma Burti, presidente da ACSP e da Facesp. 

O pessimismo do Estado São Paulo também foi maior na comparação com os entrevistados na região Sudeste, que marcou 65 pontos em março, uma queda de cinco pontos ante fevereiro. 

A queda na confiança foi um pouco maior no Sudeste do que em outras regiões do país, provavelmente por causa do avanço do desemprego na região, que abrange três das principais áreas metropolitanas do país. Em março do ano passado, o INC da região Sudeste estava em 107 pontos. 

A região Nordeste é a menos pessimista, com 88 pontos no mês passado ante 91 em fevereiro. Ainda assim, o recuo foi intenso em um intervalo de tempo maior: em março de 2015 o indicador estava em 126 pontos.

No Norte/Centro-Oeste, o INC marcou 76 pontos ante 134 pontos há um ano. Na região Sul ficou em 73 pontos em março. 

Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), avalia que o consumidor da classe A/B continuou sendo o mais pessimista em março, com um índice de confiança de 60 pontos (63 em fevereiro e 97 há um ano). 

A queda na confiança foi intensa entre os consumidores das classes C: o indicador pulou de 123 pontos em março de 2015 para 74 pontos em março deste ano. 

Na comparação mensal, os mais otimistas são os das classes D/E, entre os quais o indicador ficou em 85 pontos em março. Há um ano, estava em 121 pontos. 

"O que chama a atenção é que 57% dos entrevistados não se sentem seguros no emprego, um patamar recorde de alta. O consumidor não vislumbra melhorias", conclui Alfieri. 

A pesquisa para o INC foi encomendada ao Instituto Ipsos pela ACSP e ouviu 1,2 mil pessoas de todas as regiões brasileiras entre os dias 13 e 30 de março.

 

 

FOTO: Thinkstock

Arte: William Chaussê

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