Guedes afirma que salário mínimo terá reajuste acima da inflação
Em palestra para empresários na Associação Comercial de São Paulo, o ministro da Economia garantiu que há um 'tsunami de investimentos privados chegando ao país'
O ministro Paulo Guedes, da Economia, voltou a negar que tenha intenção de congelar o salário mínimo e as aposentadorias, e considerou como falsas as notícias veiculadas sobre o assunto. Em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) nesta quinta-feira, 27/10, atribuiu a “petistas infiltrados” o vazamento de estudos do governo sobre o tema, que não teriam sido chancelados por ele.
“Todo dia tem uma fake news contra o governo. Algum assessor redige qualquer coisa, passa para a imprensa e, de repente, vira um documento assinado por mim. É um absurdo, é roubo de votos”, disse Guedes.
O ministro argumentou que se o salário mínimo e as aposentadorias subiram durante a pandemia – embora abaixo da inflação -, superada a crise da covid-19, não haveria motivos para não acreditar que esses rendimentos serão reajustados acima da inflação.
Guedes afirmou que “o outro lado” é que pretende onerar o trabalhador. Ele apontou um documento “assinado por economistas da equipe de Lula” que sugere “cobrar contribuições compulsórias sobre os trabalhadores informais.”
O documento em questão é denominado Contribuições para um Governo Democrático e Progressista, e foi escrito por um grupo de economistas entre os quais estão Persio Arida, ex-presidente do Banco Central, e Bernard Appy, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda.
“A imprensa tem que ser imparcial, então perguntem para a equipe do Lula sobre esse documento assinado que prevê substituir o Auxílio Brasil por outro programa, que prevê cobrar encargos de 40 milhões de informais e dos microempreendedores individuais, que quer pegar o FGTS e desviar para pagar seguro desemprego, que pretende acabar com regimes especiais, como o Simples”, disse Guedes.
Ele ainda desafiou Lula a apresentar seu programa de governo e seu ministro da Economia. A aposta de analistas políticos é que Henrique Meirelles esteja à frente da pasta da Economia em um eventual governo petista.
Durante a palestra na ACSP, Guedes atacou Meirelles pelo que julgou ser uma construção mal executada do Teto de Gastos. Esse instrumento foi desenhado em 2016 por Meirelles, enquanto ministro da Fazenda de Michel Temer, para manter a dívida pública sob controle.
“Foi mal construído por alguém que nem economista é, e que pode ser ministro [de Lula]”, disse Guedes. “Se transferir recursos para Estados e Municípios para diminuir o tamanho do governo Federal, fura o teto. Precisei ajudar o povo durante a pandemia, estoura o teto.”
O ministro da Economia de Bolsonaro disse ainda que o Brasil tem potencial para crescer acima de 3% ao ano pela próxima década. “Por que estamos crescendo acima das previsões? Porque fizemos as reformas, os marcos legais. O crescimento do Brasil está contratado, precisa ser muito ruim de serviço para mudar isso”, afirmou.
Guedes também enxerga vantagens para o Brasil na desaceleração da economia mundial causada pela ruptura das cadeias produtivas globais, crise motivada pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. “Todos olham para a ondinha de investimento público e não olham para o tsunami de investimentos privados que está chegando.”
De acordo com o ministro, a geração de energia limpa seria um segmento propenso a receber investimentos estrangeiros nos próximos anos, estimulado pelo problema energético na Europa. “Querem investir em energia eólica aqui para levar o hidrogênio verde para lá.”
Para produzir o hidrogênio – um combustível limpo – é necessário grande quantidade de energia elétrica. Esse hidrogênio ganha a alcunha de “verde” quando gerado por fontes renováveis, como a eólica e a solar.
Guedes destacou ainda conquistas de sua gestão, como o processo de digitalização do governo, o que teria ajudado a reduzir o custo do Estado. O ministro disse ter ouvido de uma fonte do Banco Mundial que o próximo relatório da instituição sobre governos digitais vai mostrar o Brasil escalando da sétima posição para a segunda nesse quesito.
Falou ainda da redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e que pretende acabar com esse tributo. Questionado sobre a possibilidade de a reforma tributária ser aprovada na próxima gestão, disse que “a janela política é que vai ditar o tempo da aprovação".
Sobre a reforma tributária ideal, disse que precisa compreender a desoneração da folha. “Reforma tributária tem que tirar impostos das empresas e cobrar sobre lucros e dividendos.”
O ministro da Economia também mostrou preocupação com a situação conturbada da democracia brasileira. “Virou confusão. Tem deputado que ameaça bater em Juiz, que sai da casinha e manda prender deputado, tem ex-deputado que atira em polícia. Se cada um não fizer o seu papel dentro das quatro linhas, aí vira bagunça”, disse Guedes.
IMAGEM: ACSP/divulgação