Febre do Bobbie Goods cria oportunidades para o varejo físico

Esses livros de colorir se tornaram virais nas redes sociais e geraram uma demanda que extrapolou para o mundo físico. Mas, como toda novidade nascida na internet, tende a ser relâmpago. Saiba como surfar essa onda antes que ela passe

Rebeca Ribeiro
06/Mai/2025
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Febre do Bobbie Goods cria oportunidades para o varejo físico

Uma ilha lotada de livros de colorir chama a atenção dos clientes que passam pela livraria localizada no Shopping Light, no Centro de São Paulo. Uma senhora comenta com a amiga: 'este é o assunto do momento', referindo-se a uma das edições de Bobbie Goods. Já as crianças que se aproximam da ilha observam animadas e pedem aos pais para comprar.

Esses livros de colorir, conhecidos por seus desenhos fofos, como os de ursinhos em um dia ensolarado na praia, ganharam força na internet, fazendo com que vídeos de internautas pintando as imagens recebessem milhões de visualizações. O mais famoso desses livros, o Bobbie Goods, criado pela norte-americana Abbie Gouveia, alcançou a primeira e terceira posições entre os mais vendidos pela Amazon.

A alta demanda pelos livros de colorir também é sentida pelo varejo físico. Em uma papelaria na Rua 25 de Março, os Bobbie Goods saem por R$ 45, acompanhados pelo kit de canetinhas. A papelaria trabalha com esses produtos desde meados de 2024. Ela vende até 50 unidades por dia, representando cerca de 30% do faturamento diário da loja.

Apesar do aumento da concorrência, com mais lojas vendendo os mesmos produtos, inclusive no ambiente digital, a procura pelos livros de colorir continua alta, segundo Eduardo Choi, dono da papelaria. “As pessoas preferem comprar na loja física porque têm mais confiança de que o produto vai ser entregue", diz. 

O tradicional Armarinhos Fernando também tem aproveitado a onda. Oferecendo outras versões dos livros que também ficaram famosas, como o Cumfy & Cozy, a empresa chega a vender cerca de 1.800 unidades por dia apenas na loja matriz, localizada na região da 25 de Março.

A unidade do Armarinhos Fernando da 25 de Março vende cerca de 1,8 mil livros de colorir por dia. O produto representa 7% do faturamento do setor de papelaria da rede (Imagem: reprodução YouTube/canal Renata Celi) 

 

“Por não dependerem da sazonalidade - diferentemente do material escolar -, esses produtos que ficam famosos nas redes sociais são importantes para alavancar as vendas do varejo físico ao longo do ano”, diz Ondamar Ferreira, gerente-geral do Armarinhos Fernando. Segundo ele, os livros de colorir representam 7% do faturamento do setor de papelaria do Armarinhos.

Além disso, diz o gerente, por possuírem forte apelo junto ao público, são produtos que se tornam campeões de vendas em curto prazo, sendo uma boa oportunidade para atrair novos consumidores e aumentar o fluxo nas lojas.

Mas para que os varejistas convertam em vendas essas tendências - muitas vezes relâmpago - surgidas na internet, Ferreira diz que é preciso estar atento às redes sociais e ter agilidade para que os produtos estejam nas prateleiras ainda quando estão em alta. 

Com a elevada demanda dos varejistas por esses livros de colorir, Ferreira explica que um dos desafios é a reposição dos estoques. “Nosso fornecedor está trabalhando com três gráficas para dar conta dos pedidos”, diz.

Aposta em produtos virais

Não é novidade que as redes sociais influenciam o comportamento dos consumidores, ditando tendências. E, justamente por isso, o empreendedor deve acompanhar essas tendências para se antecipar à demanda. 

Lyana Bittencourt, do Grupo Bittencourt, explica que o empresário pode surfar as ondas nascidas na internet fazendo publicação dos conteúdos ligados aos produtos virais em suas redes sociais, aumentando o engajamento em sua loja.

Pode também criar ações promocionais limitadas para vender esses itens. Pode investir na elaboração de vitrines temáticas em pontos de maior circulação da loja, que aumentam o movimento no estabelecimento, entre outras iniciativas do tipo. 

Mas, como saber o que está em alta? Para isso, é preciso monitorar as redes sociais, vendo as hashtags que estão em destaque, os dados de busca e o comportamento de influenciadores, comenta Lyana. Além disso, sites como TikTok e até mesmo a Amazon divulgam os produtos mais vendidos nas redes sociais, escancarando as tendências.

“Antes de investir, o empreendedor deve avaliar se o produto tem sintonia com os valores da marca e o perfil do público”, diz Lyana, que explica que, caso o empreendedor aposte em um produto que não se conecta com a proposta da empresa, pode ter prejuízos financeiros e até mesmo danos à reputação da marca.

Outro ponto de atenção ao apostar em produtos virais é o controle de estoque. Lyana aconselha trabalhar com estoque enxuto e rotativo, monitorando as vendas em tempo real para acompanhar a demanda, prevenindo quedas nas vendas do produto, o que pode evidenciar queda na sua procura por parte dos consumidores.

Além disso, trabalhar com fornecedores flexíveis, com capacidade de reposição ágil, é importante para lidar com a demanda oscilante característica desses produtos virais. Essas estratégias são algumas das adotadas pelo Armarinhos Fernando, segundo Ferreira, que compartilha que a empresa opta por investir em uma quantidade menor desses produtos, reduzindo possíveis prejuízos.

E quando a demanda esfria? Pensando em vender os produtos que podem ficar parados em estoque, reduzindo prejuízos, o empreendedor deve apostar em promoções de queima de estoque ou kits que combinam produtos virais com outros itens de maior giro, comenta Lyana.  

Outra estratégia que pode ser adotada pelas empresas é apostar em mais de um produto viral, tendo cerca de dez produtos que bombaram nas redes sociais em suas lojas. Dessa forma, é possível reduzir a dependência de um único produto, explica Alexandre Marquesi, professor de Mercado e Comportamento Digital da ESPM.

Cuidados com a pirataria. Apesar do sucesso dos Bobbie Goods, os empreendedores devem estar atentos às versões falsificadas do livro. Atualmente, a HarperCollins, uma das maiores editoras do mundo, firmou parceria com a autora do produto e adquiriu os direitos da obra. Empreendedores que optarem por vender versões falsificadas correm o risco de ter seus produtos apreendidos, além de estarem sujeitos ao pagamento de multas caso insistam na comercialização.

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IMAGEM: Rebeca Ribeiro/DC

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