Estudo aponta fatores que ditarão os rumos do setor de alimentos em 2025
De acordo com o relatório Global Flavor Trends, padrão de qualidade elevado, produtos à base de plantas e alternativas à escassez de matéria-prima provocada pelas mudanças climáticas estão entre as prioridades da indústria

Todo início de ano traz, de alguma forma, novos interesses de consumo. Seja por lançamentos, pelo desejo de estabelecer novos hábitos ou por modismo, os primeiros meses do ano costumam estabelecer comportamentos que terão o poder de impulsionar as vendas de determinados produtos.
De acordo com o relatório Global Flavor Trends, na indústria de alimentos e bebidas, por exemplo, nem tudo o que vai despertar o interesse dos consumidores está relacionado com o preço do produto final. Hoje, os processos, modificações e adaptações incorporadas às receitas são muito valorizados.
PADRÕES DE QUALIDADE ELEVADOS
A procura por rótulos limpos que enfatizam o uso de ingredientes naturais, minimamente processados, sem aditivos ou conservantes artificiais serão um desafio para a indústria. A diferenciação de produtos por meio da qualidade dos ingredientes será um marco em 2025, segundo o Global Flavor Trends, e deverá ter um impacto significativo em alimentos e bebidas.
Os desejos de consumo estarão baseados em ingredientes com benefícios à saúde, nutrição, que tenham frescor, prazo de validade baixo e priorizem a naturalidade. A pesquisa mostra que 58% dos consumidores globais estão priorizando a qualidade dos ingredientes ao fazer compras de alimentos e bebidas, mesmo com preços mais altos.
De acordo com o material, as marcas precisam encontrar uma forma de oferecer produtos que se ajustem às prioridades do seu público-alvo, pois sempre houve um mercado forte para guloseimas de baixo custo e muito saborosas. Entretanto, para os preocupados com a saúde, essa lista de ingredientes precisa mudar, e o uso de adoçantes, sabores, cores e ingredientes precisam ser funcionais, preferencialmente à base de plantas, e não mais ingredientes artificiais.
ALTERNATIVAS À ESCASSEZ DE CACAU
O setor de chocolates sofreu no último ano com o aumento nos preços do cacau. As previsões indicam que essa dinâmica também se estenderá para este ano, já que a produção na África, sobretudo na Costa do Marfim e em Gana, tem sido prejudicada por condições climáticas extremas. Por lá, a seca e o aumento das temperaturas afetam a produção do fruto, que precisa de um clima mais ameno. Além disso, a região foi afetada por pragas. A área concentra a maior produção de cacau do mundo - mais de 75% -, e isso reduz a oferta global da matéria-prima.
A despeito dessa situação complexa no fornecimento, o consumidor não reprimiu seu desejo por chocolate na maioria dos países, o que obriga a indústria a se adaptar. Nesse cenário, é possível esperar mudanças na qualidade dos chocolates com a adição de outras matérias-primas menos nobres para reduzir a concentração de cacau.
Segundo a pesquisa Global Flavor Trends, diante dessas restrições, os fabricantes terão de inovar e desenvolver mercados paralelos, capturar novas oportunidades de crescimento, criando novas experiências de sabor para o prazer dos consumidores que amam chocolate e não abrem mão desse alimento.
MERGULHANDO NA DIGITALIZAÇÃO
O ano de 2025 deve ser o mais importante para as marcas começarem a desbloquear todo o poder da inteligência artificial (IA). Cada vez mais utilizada como ferramenta para acelerar a inovação de produtos, a tecnologia pode ser fundamental para identificar ingredientes, desenvolver formulações, criar sabores, automatizar a produção, proteger a segurança alimentar e apoiar a sustentabilidade.
O uso da IA em toda a cadeia de valor amplia as possibilidades de produção de alimentos, desenvolvimento de produtos e experiências de consumo, seja para nutrição personalizada ou para compreensão do mercado, na sustentabilidade agrícola, na concepção de produtos e na comunicação com o consumidor.
"A modelagem preditiva pode ajudar os fabricantes de alimentos e bebidas a criar produtos adaptados a objetivos específicos de saúde e bem-estar, como apoiar a qualidade do sono, o humor, o controle de peso, o envelhecimento saudável e a saúde das mulheres", diz o estudo.
SOLUÇÕES COM PLANT-BASED
Com potencial para despontar, o setor à base de plantas é a maior aposta em meio a preocupações com o ultraprocessamento, de acordo com o estudo. As oportunidades para criar produtos baseados em plantas inteiras, com a adição de aromas e cores naturais, já trazem exemplos de sucesso.
Um deles é a pastinaca, uma raiz usada para construir um produto similar ao bacon, utilizando fatias da raiz pinceladas com uma manteiga vegana defumada a frio, além de temperos e corantes feitos de cores exberry, que dão textura, sabor e aparência carnuda.
O Global Flavor Trends explica que as cores exberry são feitas de frutas, vegetais e plantas não transgênicos e podem oferecer um espectro completo de tons em todos os tipos de alimentos e bebidas. O que pode ajudar as marcas a criar produtos à base de plantas com uma aparência apetitosa, ao mesmo tempo em que apoiam as listas de ingredientes limpos.
CONSUMIDOR CONSCIENTE
O estudo, ao identificar a conexão entre a conscientização do consumidor sobre as mudanças climáticas e os esforços e compromissos de sustentabilidade dos fabricantes, o esperado é que, ao fazer suas compras, os consumidores irão pesar cada vez mais o impacto ambiental de alimentos e bebidas.
Os clientes estão atentos e buscarão pegadas de carbono baixas, métodos de economia de energia adotados pelos fabricantes, bem-estar animal aprimorado, boas práticas trabalhistas e marcas que não estejam vinculadas ao desmatamento ou práticas de trabalho infantil, por exemplo.
Tudo isso leva as empresas a adotarem práticas ecologicamente corretas, como o uso de novas tecnologias de cultivo de safras, métodos de agricultura regenerativa e embalagem sustentável.
Além disso, a crise climática cria desafios para a cadeia de suprimentos e volatilidade de preços, além de ser uma preocupação para o consumidor atual. “Quando se trata de baunilha, por exemplo, há uma crise em andamento que cria incertezas significativas quanto a sua disponibilidade futura, qualidade e estabilidade de preços. A maioria das empresas alimentícias prefere não lidar com essas incertezas e buscar soluções alternativas, naturais e confiáveis”, diz o estudo.
IMAGEM: Monalisa Lins/AE