'Eleições municipais antecipam formação do Congresso em 2026, mais à Direita'

A previsão foi feita pelo cientista político Antônio Lavareda durante reunião do Conselho Político e Social (COPS) da Associação Comercial de São Paulo

Silvia Pimentel
08/Out/2024
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'Eleições municipais antecipam formação do Congresso em 2026, mais à Direita'

Na avaliação do cientista político Antônio Lavareda, o avanço da direita nas eleições municipais do último domingo é um importante termômetro para antecipar o perfil de parlamentares que deverão compor a Câmara dos Deputados em 2026. Na comparação com 2020, os partidos considerados como de direita conquistaram 381 municipais a mais, o que representa um crescimento de 11,8%.

A mesma expansão foi verificada no recorte do resultado eleitoral por capitais. Do total de prefeitos eleitos em primeiro turno, e dos primeiros colocados que vão disputar vagas no dia 27 de outubro, 77% são de partidos da direita, 19% de centro e 4% de esquerda.

Somente no primeiro turno, ganharam as eleições 3,6 mil candidatos da ala da direita, alçando o PSD como líder, com 882 prefeitos eleitos, seguido do MDB (856), PP (748), UB (585), PL (512) e REP (436).

Os dados foram apresentados por Lavareda nesta terça-feira (08/10), na palestra "Eleições 2024: Resultados e Desdobramentos", durante reunião do Conselho Político e Social (COPS), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Na visão do especialista, de forma geral as eleições do último domingo foram consideradas normais - embora a ascensão e o comportamento de Pablo Marçal tenham causado fortes reações de setores da sociedade na disputa em São Paulo –, e não polarizadas, como muitos previam.

“Em apenas quatro capitais - Rio, Teresina, Rio Branco e São Luis – tivemos disputas que podemos chamar de bipolares. Nas demais, houve um processo de fragmentação, que desmente qualquer hipótese de bipolarização”, analisou.

Lavareda na ACSP: “Entidades empresariais têm um peso extraordinário para viabilizar e colocar em marcha a discussão sobre mudanças no sistema eleitoral"
 

MULHERES

O cientista político chamou a atenção para o que ele classificou como “absurda” e extrema a desigualdade de gênero na proporção de mulheres eleitas ou que participaram da disputa, tanto como prefeitas, como vereadoras.

“No ranking internacional, o Brasil está na 132ª posição na representação de mulheres no parlamento nacional, perdendo até para países muçulmanos.”

No último domingo, segundo dados apresentados durante a reunião, do total de eleitos no primeiro turno, apenas 15,5% são mulheres. Na comparação com 2020, essa participação cresceu apenas 3,5 pontos percentuais.

Para Lavareda, parte do problema dessa distorção é explicado pelo atual sistema eleitoral proporcional que, em sua opinião, é misógino, obsoleto e disfuncional, fazendo com que a maioria dos eleitores sequer se lembre em quem votaram nos últimos pleitos para deputados e vereadores quando compareceram às urnas.

“Sou favorável ao modelo distrital misto, acompanhado de lista. Acho difícil que o modelo atual seja alterado, e prevejo um interminável processo de judicialização pela quantidade de distritos no Brasil. Só em São Paulo, são 35 distritos”, disse.

De qualquer forma, o cientista político acha que, talvez, com a pressão da sociedade, o tema envolvendo mudanças no sistema eleitoral volte a ser discutido com mais força. “As entidades empresariais têm um peso extraordinário para viabilizar e colocar novamente em marcha essa discussão”, afirmou.

Participaram da reunião o presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine; o presidente da CACB (Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil) Alfredo Cotait Neto, além dos coordenadores do COPS, Heráclito Fortes e Jorge Bornhausen. Ao final do encontro, Ordine entregou ao cientista político o livro sobre os 100 anos do Diário do Comércio

FOTOS: César Bruneli

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